A recém-criada Polícia Científica do Espírito Santo (PCI-ES) cooperou na investigação do caso dos quatro jovens encontrados mortos em uma BMW, no Balneário Camboriú, litoral de Santa Catarina, no dia 1º de janeiro. No último dia 4, o Laboratório de Toxicologia da PCI-ES recebeu, em Vitória, peritos da Polícia Científica de Santa Catarina, que trouxeram amostras de sangue das quatro vítimas. O exame foi realizado e o resultado saiu no mesmo dia, confirmando a presença de carboxihemoglobina no sangue das vítimas em níveis elevados. Esse resultado, em cruzamento com o laudo necroscópico e outros dados, confirmou que as mortes ocorreram por exposição excessiva ao monóxido de carbono (CO).
Os estudantes Gustavo Pereira Silveira Elias, 24 anos, Karla Aparecida dos Santos, 19, Tiago de Lima Ribeiro, 21, e Nicolas Kovaleski, 16, foram encontrados desmaiados no carro estacionado dentro da rodoviária da cidade. Eles chegaram a ser socorridos, mas as mortes foram confirmadas ainda no local. A suspeita sobre o envenenamento pela substância sem cheiro e altamente tóxica já havia sido levantada na investigação. Ao longo da apuração, laudos comprovaram que o gás saiu pelo ar-condicionado do veículo, que passou por ao menosa três customizações. Um dos equipamentos colocados no motor do veículo era “de certa forma caseiro”. As modificações ocorreram logo após o veículo ser comprado em Belo Horizonte, pela família de Tiago, uma das vítimas. Na época, os jovens moravam em Paracatu, interior de Minas Gerais, para onde a BMW foi levada após as customizações.
Segundo o delegado Vicente Soares, os responsáveis pelas mudanças no veículo poderão responder por homicídio culposo. “É necessária oitiva desses mecânicos que realizaram a montagem desse equipamento, mas no momento o inquérito é inclinado para o indiciamento por homicídio culposo, mas ainda vai ser concluído”, disse o delegado.
Atualmente, a Polícia Científica do Espírito Santo se destaca em diversas atividades periciais, sendo uma referência nacional em toxicologia forense. No caso específico da carboxihemoglobina, não há muitos Estados no Brasil que fazem este tipo de análise e o Espírito Santo já realiza o procedimento há cerca de dez anos.
“Além da aquisição do equipamento e insumos, temos peritos capacitados para atender às demandas do Espírito Santo e, eventualmente, contribuir com as investigações de outros estados. Este intercâmbio é extremamente produtivo e importante para toda a sociedade. Isso representa conhecimento científico aplicado à investigação criminal, já que uma prova pericial robusta, amparada pelo conhecimento técnico e científico é imprescindível para trazer os fatos à luz da Justiça, beneficiando toda a sociedade”, afirmou o perito oficial-geral, Carlos Alberto Dal Cin.
Como é o exame?
A análise de carboxihemoglobina é realizada por meio de uma técnica chamada Espectrofotometria. A amostra de sangue é diluída, misturada a produtos químicos e colocada em um equipamento chamado espectrofotômetro, que mede a quantidade de absorção de luz na amostra.
“O monóxido de carbono, que é a substância investigada neste caso, é produzido pela queima incompleta de combustíveis, madeira e diversas outras substâncias. Tais situações podem acontecer em incêndios ou até mesmo em motores de automóveis. Quando inalado, ele se liga fortemente à hemoglobina, formando carboxihemoglobina, que impede que a hemoglobina transporte oxigênio, ocasionando a asfixia química. A análise é feita no equipamento que se chama espectrofotômetro, que identifica absorção de luz por substâncias químicas. Nesse caso, é possível identificar a carboxihemoglobina e a sua proporção em relação à hemoglobina total”, explicou a chefe do Departamento de Laboratórios Forenses, perita oficial criminal Daniela de Paula.
O exame é rápido e geralmente é concluído em apenas um dia, dependendo das condições das amostras. Esse mesmo exame já foi utilizado em casos de repercussão no Espírito Santo. Em fevereiro de 2023, dois homens foram encontrados mortos em um veículo, estacionado em um posto de combustíveis no bairro Coronel Borges, em Cachoeiro de Itapemirim. A perícia realizada no veículo identificou que havia um vazamento de monóxido de carbono que entrava pelo sistema de ar-condicionado e na amostra de sangue foi detectada a presença de carboxihemoglobina em concentração superior a 50%, o que ocasionou a morte dos dois homens.
No final de dezembro, o Laboratório de Toxicologia também auxiliou peritos da Paraíba na pesquisa de carboxihemoglobina em um casal que morreu dentro do carro, em outubro do ano passado. O resultado, que já foi entregue ao Instituto de Polícia Científica da Paraíba, confirmou que havia elevada concentração de carboxihemoglobina nas amostras de sangue das duas vítimas.