O governador reeleito do Espírito Santo, Renato Casagrande (PSB), está trabalhando para que o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT), ao tomar posse em 1º de janeiro de 2023, reveja as políticas de flexibilização de uso de armas implementadas pelo atual presidente do Brasil, Jair Bolsonaro (PL), desde 2019. Para Casagrande, a sociedade precisa decidir em que ambiente quer viver: se de paz ou de violência.
O alerta de Casagrande foi feito na terça-feira (29/11), cinco dias depois do ataque terrorista praticado por um adolescente de 16 anos de idade a duas escolas em Aracruz, em que três professoras e uma estudante foram assassinadas a tiros e outras 13 pessoas ficaram feridas. Filho do tenente QOA (Quadro de Oficiais Administrativo) da Polícia Militar Fábio Cunha Castiglioni, o adolescente demonstrou habilidade com o uso de armas. Ele usou uma pistola da própria PM para praticar o ato terrorista, além de um revólver do pai. A pistola estava acautelada ao tenente Fábio Castiglioni. O assassino já foi preso pela polícia capixaba.
Assim que assumiu a Presidência da República em janeiro de 2019, Jair Bolsonaro fez a festa para as indústrias de armas. Ele editou mais de 40 decretos para facilitar o acesso da população civil às armas, escancarando um mercado que registra média de cerca de 1.300 armas compradas por brasileiros por dia, de acordo com relatório é do Instituto Sou da Paz.
De acordo com o ‘Sou da Paz’, o número de novas armas nas mãos de civis explodiu. Em 2018, um ano antes de Bolsonaro ser eleito, havia 350 mil armas registradas em nome de colecionadores, atiradores e caçadores, conhecidos como CACs, número que passou para 1 milhão em julho de 2022. Ou seja, triplicou. A Taurus, principal fabricante de armas do Brasil, teve lucro líquido de R$ 307 milhões em 2018. Em 2021 lucrou R$ 1,3 bilhão, um aumento de 323%.
Assim que terminou de participar do início da aceleração do Startup e Empreendedorismo Estadual em Desenvolvimento no Espírito Santo (SEEDES), na manhã de terça-feira (29/11), no Palácio Anchieta, o governador Renato Casagrande concedeu entrevista coletiva. Ao Blog do Elimar Côrtes, ele deu a seguinte resposta ao ser indagado se acredita que o presidente Lula vá mesmo revogar os decretos de Bolsonaro sobre posse e uso de armas:
“Eu espero que sim e estou trabalhando para que isso aconteça. É preciso que a gente arme bem as nossas forças policiais. É preciso que a gente tenha muita restrição da posse e de uso de armas. É preciso dar passos atrás aos diversos atos que foram anunciados e estabelecidos pelo presidente Bolsonaro com relação em facilitar o acesso às armas para pessoas que muitas vezes não têm treinamento e capacidade de uso, proporcionando um ambiente de risco para essas próprias pessoas.”
Durante o evento do Startup e Empreendedorismo Estadual em Desenvolvimento, o governador fez um alerta em forma de desabafo. Emocionado, Casagrande disse que quer um Brasil e um Espírito Santo tendo a solidariedade como base da sociedade:
“Queremos que o nosso Estado e nosso País avancem na inovação, mas queremos, acima de tudo, uma sociedade que cultive a paz. O que vemos hoje é uma homenagem ao uso de armas. Essa conduta de algumas lideranças que são referência no Brasil cria um ambiente de violência. Queremos um ambiente de paz. Mas esta decisão está em nossas mãos. O comportamento em busca da paz exige uma autovigilância de todas as pessoas no dia a dia.”
Vale registrar que o governador Renato Casagrande sempre foi contra as políticas de flexibilização do uso de armas adotadas por Jair Bolsonaro. Desde 2019, quando o Presidente da República começou a baixar os decretos, Casagrande vem tecendo críticas e defendendo a cultura da paz.
Saiba Mais
O ataque terrorista do adolescente de 16 anos começou por volta de 9h30 da última sexta-feira (25/11). O atirador agiu usando roupas camufladas e um capuz. Ele arrombou um cadeado e invadiu a Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Primo Bitti, realizando disparos que atingiram 11 pessoas — duas delas eram as professoras Maria da Penha Pereira de Melo Banhos, 48 anos, e Cybelle Passos Bezerra, 45 anos, que morreram ainda no local. Uma terceira professora (Flávia Amboss Merçon Leonardo) da mesma Escola Primo Bitti morreu um dia depois.
Depois, o bandido seguiu de carro até a unidade particular Centro Educacional Praia de Coqueiral, entrando às 9h49 pelo portão, que não estava trancado, e disparou contra mais três vítimas, sendo que uma delas, uma estudante do 6.º ano do ensino fundamental Selena e Maria da Penha morreu no local. O atirador fugiu da escola um minuto depois, às 9h50, de carro. Ficou desaparecido até o início da tarde, quando a Polícia Militar confirmou que o autor do ataque foi preso.