Fundado em 11 de setembro de 1928, o jornal A Gazeta praticamente chega ao fim. Considerado um dos mais importantes e influentes jornais do País, A Gazeta deixará de ser diário para ser semanal. O anúncio foi feito nesta quarta-feira (31/07) pela direção da Rede Gazeta de Comunicação em comunicado aos leitores e anunciantes. É, praticamente, o fim de uma grande era do jornalismo.
Desde os primeiros minutos da manhã desta quarta-feira já surgiram notícias a respeito de mudanças profundas na Rede Gazeta e de demissão de funcionários. Ao todo, 20 profissionais da Redação e do Parque Gráfico teriam sido demitidos.
No início da tarde, a Rede Gazeta anunciou em um de seus veículos na internet o que chama de “mudança profunda na produção e distribuição de notícias”. Informa que, para acompanhar os novos hábitos de consumo de suas audiências, a empresa vai investir mais para melhorar e ampliar suas operações digitais e reduzirá seus produtos impressos.
O anuncio das mudanças chega exatamente três dias após o site Blog do Elimar Côrtes informar, com exclusividade, a decisão do 1º Grupo das Câmaras Cíveis Reunidas do Tribunal de Justiça do Estado do Espírito Santo em rejeitar uma Ação Rescisória, proposta pela S/A A Gazeta e confirmar condenação imposta a Rede Gazeta ao pagamento de uma indenização de R$ de R$ 5.783.068,15 à família de um cidadão capixaba que teria sido, nos anos 80, vítima de supostas calúnias e difamação por parte de veículos de comunicação da empresa.
Em nota divulgada na tarde desta quarta-feira, a Rede Gazeta salienta que, a partir desta sexta-feira (02/08), o jornal Notícia Agora (Na!) será “descontinuado” – extinto. Já o jornal A Gazeta terá um novo, “sofisticado e mais dinâmico site e uma variedade de outros produtos digitais, enquanto sua edição impressa passará de diária a semanal a partir de 30 de setembro”.
De acordo com a nota, “a estratégia para reformular o jornal A Gazeta é resultado do projeto TDigital, que vem sendo desenvolvido há um ano e meio por uma equipe multidisciplinar da Rede Gazeta”. O trabalho também envolveu a participação de consultores internacionais, viagens de estudos a vários países e parcerias em projetos com empresas globais como Google, Facebook e Apple.
De acordo com a nota, uma das premissas do projeto é levar, para dentro da Redação de A Gazeta, especialistas em inteligência artificial, SEO, marketing e análise de dados para indicar estratégias de distribuição de conteúdo para melhor servir às audiências digitais com jornalismo de qualidade multiplataforma e em tempo real.
“Esse grupo formará a chamada Sala de Performance e atuará em conjunto com os jornalistas, para ampliar o alcance das notícias e a fidelização de leitores/assinantes.
“O projeto TDigital reflete o que está acontecendo no mundo. A forma de se comunicar mudou e os hábitos das pessoas também. Os leitores têm, claramente, trocado os jornais impressos pela informação em tempo real, na internet. Além disso, o cenário econômico, no Brasil e no mundo, impactou muito o modelo de negócio do jornalismo profissional, o que exigiu uma mudança de posicionamento. A produção e distribuição de jornais impressos diários tornou-se inviável, além de o jornal impresso ser, hoje, um meio ineficiente de distribuir informação atualizada”, diz o diretor-geral da Rede Gazeta, Café Lindenberg, que se reuniu, no início da tarde com funcionários da empresa para explicar as mudanças.
De acordo com a nota, a transformação digital não vai resultar no fim dos jornais impressos da Rede Gazeta. Na primeira semana de outubro, será lançada uma edição semanal impressa de A Gazeta, que circulará aos sábados na Grande Vitória e nas principais cidades do Espírito Santo.
“Esse novo jornal foi pensado para aquele leitor que mantém a predileção pelas páginas em papel e que faz questão de uma leitura analítica para formar opinião, como complemento às informações em tempo real que recebem on-line. A Gazeta de fim de semana será um novo produto, diferente da edição diária à qual o leitor já está acostumado. Ela vai trazer matérias especiais, textos aprofundados de colunistas e articulistas, além de reportagens exclusivas sobre o cotidiano do capixaba”, diz a nota.
A Revista.ag também será reformulada e passa, a partir do primeiro fim de semana de outubro, a publicar mais conteúdo jornalístico sobre lifestyle, comportamento, relações familiares, entretenimento e serviços. Assim como ela, os cadernos Motor e Imóveis circularão com o novo jornal impresso.
Mudanças na Redação
A implementação do projeto TDigital mudou a estrutura da redação. O comando passa para Elaine Silva, que desde 2014 ocupava o cargo de editora-executiva de A Gazeta. Elaine foi aluna do 1º Curso de Residência em Jornalismo da Rede Gazeta, que hoje está em sua 22ª edição. Ela assume o comando que antes era do jornalista André Hees, que deixa a empresa.
Formada pela Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), a nova editora-chefe de A Gazeta tem MBA em Gestão de Empresas de Mídia pela Universidade de Vila Velha e pós-graduação em Gestão de Empresas de Comunicação no Master em Jornalismo da Faculdade de Comunicação da Universidade de Navarra.
“A Redação nunca esteve tão preparada para este momento. Ao longo dos últimos 5 anos, e de forma mais focada dos últimos 3, estamos invertendo a lógica da produção focada no produto impresso. A expressão “digital first” não é só um conceito. Já se tornou realidade. O que vamos fazer daqui pra frente para chegar a todos esses públicos é estudar cada vez mais o consumo dos usuários, oferecendo o conteúdo na hora que eles querem, na plataforma que preferirem”, adianta a nova editora-chefe.
Outra novidade da redação é área distribuição. Este núcleo definirá a forma como o conteúdo chega para o público, planejando e executando formatos além do que o internauta encontra no site – como vídeos, podcasts, newsletters diárias e posts para redes sociais. “Não se trata apenas de uma ruptura para a lógica digital. É uma escolha feita pelos próprios usuários”, sentencia Elaine Silva.