O governador Renato Casagrande (PSB) criticou nesta quinta-feira (09/01) as mudanças anunciadas pela gigante da tecnologia Meta, dona do Facebook, do Instagram e do Threads, no tratamento de conteúdos nas suas plataformas digitais. Na terça-feira (07/01), o fundador e CEO da Meta, Mark Zuckerberg, anunciou uma série de medidas que serão adotadas nas redes sociais da empresa para afrouxar as políticas de moderação de conteúdo. A Meta tambpém é dona do WhatApp.
“Sem dúvida, quando você não tem uma checagem dos dados, quando uma empresa como a Meta não se presta a fazer a checagem das informações e, com certeza, muitas vezes, o cidadão também não tem condição de fazer essa checagem, vai aumentar, sim, aumentar a produção de fake news, vai aumentar a irresponsabilidade nas redes sociais. É impressionante como um comportamento desse pode alcançar uma empresa como a Meta, que é um grupo de comunicação e de rede social. Trata-se de uma decisão política com um viés ideológico e que não considera nada o direito das pessoas pelo mundo”, disse Casagrande, ao ser questionado pelo Blog do Elimar Côrtes, durante entrevista coletiva, no Palácio Anchieta, em Vitória, depois de anunciar o lançamento do edital de licitação para a implantação do Corredor Metropolitano Sul-Expresso GV, que vai conectar os municípios de Vila Velha e Cariacica por meio de um corredor exclusivo para ônibus, na Avenida Carlos Lindenberg.
Renato Casagrande frisou que o Governo do Estado já possui um sistema de acompanhamento de fake News e, quando necessário, esclarece à população sobre o que é verdade. O governador ponderou, entretanto, que mais do que nunca a imprensa capixaba vai ter o poder de realizaras checagens das informações para levar somente a verdade dos fatos às pessoas:
“Nós temos que nos preparar ainda mais. A gente já tem hoje um nível de acompanhamento e agradecemos muito à imprensa, que é confiável como vocês, porque vocês acabam ajudando a gente a identificar as fake news, as mentiras, e divulgando as informações corretas. Por isso, vocês [jornalistas] vão ter um papel e uma tarefa muito maior do que têm hoje. E vão ter que fazer também sistema de checagem para dar informação fidedigna e correta às pessoas. Os governos vão ter que preparar”, disse Casagrande.
O governador afirmou, contudo, o Brasil já está reagindo à decisão da Meta: “Estou vendo que o Supremo Tribunal Federal (STF) e o Governo Federal também estão atentos a essa situação [das novas regras da Meta] para que isso não alcance na proporção que o executivo da Meta falou, não alcance nessa dimensão o nosso País”, espera Casagrande.
Na quarta-feira (08/01), o ministro Alexandre de Moraes, que preside Inquéritos das Fake News no STF, afirmou que as redes sociais só continuarão a operar no Brasil se respeitarem a legislação do País: “A nossa Justiça Eleitoral e o nosso STF, ambos já demonstraram que aqui é uma terra que tem lei. As redes sociais não são terra sem lei”, declarou o ministro. No pronunciamento, realizado na sede do STF em Brasília, durante cerimônia que lembrou os dois anos dos ataques golpistas à sede dos Três Poderes, Moraes destacou o papel das redes sociais nos atentados à democracia brasileira. De acordo com o ministro, as plataformas serviram de canal de disseminação de mensagem de ódio e de articulação golpista.
“Tudo isso surgiu a partir do momento em que, no mundo, extremistas, e principalmente extremistas de direita, se apoderaram das redes sociais para nelas, ou com elas, instrumentalizarem as pessoas no sentido de corroer a democracia por dentro”, ressaltou Alexandre de Moraes, que nomeou como “populismo extremista digital” o movimento que usa as redes sociais para espalhar desinformação e manipular a opinião pública.
“Não por outros motivos, o discurso racista, nazista, misógino, os discursos de ódio voltaram, porque é essa a liberdade que eles defendem. A liberdade de extirpar qualquer diferença, a liberdade de comandar e mandar nos demais sem qualquer restrição”, disse.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) também criticou, nesta quinta-feira, as mudanças anunciadas pela gigante da tecnologia Meta. Questionado por jornalistas sobre as mudanças anunciadas por Mark Zuckerberg, CEO da Meta, na última terça-feira, Lula disse que os países devem ter suas soberanias “resguardadas”.
“Nós queremos, na verdade, é que cada país tenha a sua soberania resguardada. Não pode um cidadão, não pode dois cidadãos, não pode três cidadãos acharem que podem ferir a soberania de uma nação”, afirmou o Presidente.
Entenda em 5 pontos as mudanças na Meta anunciadas por Zuckerberg
O anúncio, feito em vídeo publicado pelo empresário Mark Zuckerberg, ele fala que debates sobre potenciais danos do conteúdo on-line acabaram levando ao que chamou de casos de “censura” e defendeu a importância de proteger a liberdade de expressão, destacando ainda a influência de questões políticas no debate. “As últimas eleições também parecem um ponto de inflexão cultural para mais uma vez priorizar o discurso. Então vamos voltar às nossas raízes e focar em reduzir erros, simplificar nossas políticas e restaurar a liberdade de expressão em nossas plataformas”, disse ele.
- Substituir agências de checagem
A primeira medida anunciada por Zuckerberg está relacionada às organizações que fazem fact-checking, a checagem de fatos ou notícias. A relação das redes da Meta com essas organizações será substituída pelo que ele chamou de ‘Community Notes’ (‘notas da comunidade’, em tradução livre).
O sistema, como o empresário explica, é similar ao que existe no X, em que os próprios usuários podem oferecer críticas e contexto a certas publicações.
Nos últimos anos, cresceu o debate sobre como a desinformação poderia ser uma ameaça à democracia, o que levou à necessidade do fact-checking. Porém, o empresário insinua que as agências de checagem estavam perdendo a credibilidade por terem um viés político, indicando vê-las como de esquerda.
- Simplificar políticas de conteúdo
A Meta vai remover restrições que aparecem quando os usuários falavam em assuntos como imigração e questões de gênero, que, para Zuckerberg são um ‘tabu’.
“O que começou como movimento para ser mais inclusivo acabou sendo usado para silenciar opiniões e pessoas com ideias diferentes. Isso foi longe demais. Quero garantir que as pessoas possam compartilhar suas crenças e experiências nas nossas plataformas”, disse.
- Nova abordagem na execução
Se até então existiam filtros que escaneavam textos para encontrar quaisquer violações nas políticas da plataforma, agora as redes da Meta vão focar esses filtros para localizar conteúdos ilegais, que serão denunciados.
O problema do funcionamento atual, de acordo com ele, é que filtros cometem erros e tiram do ar muitos conteúdos que não deveriam.
- Voltar com conteúdos políticos
A plataforma voltará a entregar o que o empresário chamou de ‘conteúdo cívico’, que seriam publicações sobre política. Os algoritmos da Meta haviam parado de recomendar posts do tipo, já que houve demanda da comunidade para ver menos esses assuntos, que geravam estresse. A ideia era priorizar conteúdos pessoais.
“Mas parece que já estamos em uma nova era agora e estamos recebendo feedbacks de pessoas que querem ver esse conteúdo de novo. Então vamos voltar com isso no Facebook, no Instagram e no Threads”, disse Mark Zuckerberg.
- Mudar equipes de moderação da Califórnia para o Texas
A Meta decidiu deslocar suas equipes de moderação da Califórnia (Estado americano progressista) para o Texas (Estado conservador). “Como trabalhamos para promover a liberdade de expressão, acho que isso irá ajudar a construir confiança para fazer esse trabalho em lugares onde há menos preocupações sobre os vieses dos nossos times.”
Pressão contra ‘censura’ em outros países
Ao final de sua fala, Zuckerberg ainda disse que pretende trabalhar com Donald Trump para pressionar os governos ao redor do mundo que estariam promovendo censura em conteúdos de redes sociais, na sua visão. Ele menciona o que seriam “Cortes secretas” na América Latina que podem ordenar que empresas tirem conteúdos do ar, mas não cita diretamente o brasileiro Supremo Tribunal Federal (STF), e diz ainda que a China ainda impede aplicativos de funcionar em seu território.