Nome completo
Lorena Sarmento Rezende
Função
Chefe do Departamento de Prevenção, Mitigação e Recuperação
Local de trabalho
Coordenadoria Estadual de Proteção e Defesa Civil – Vitória
Quando entrou na carreira do bombeiro militar?
Em julho de 2002
O que chamou a atenção na carreira?
A possibilidade de remuneração já desde o ingresso no Curso de Formação de Oficiais.
Por que escolheu essa carreira em específico?
Nunca tive sonho em ser bombeira, nem mesmo tenho um parente militar, foi algo que foi surgindo ao longo da minha caminhada. A única certeza que tinha desde muito jovem era que a Exatas era a minha praia. Daí um amigo meu passou no concurso do CFO e foi para Barra de São Francisco. Nesta época, eu também havia prestado vestibular na Ufes, para Engenharia Civil. Como não passei, no ano seguinte este amigo (hoje o major Sossai) me convenceu a prestar vestibular para o CFO (Curso de Formação de Oficiais) do Corpo de Bombeiros.
Conte a trajetória profissional.
Resolvi prestar o vestibular da Ufes para o Curso de formação de Oficiais no ano de 2001. Eram apenas quatro vagas e obtive a 1ª colocação. Após ser submetida e aprovada em todas as demais etapas do concurso, aos 19 anos de idade fui morar na Academia de Bombeiros Militar em Brasília, durante os três anos do Curso de Formação. Foram anos difíceis, especialmente para mim que não fazia ideia de tudo o que passaria imersa numa Academia Militar. Possivelmente, se soubesse previamente, teria optado pelo curso de Engenharia Química na UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), onde eu também havia sido aprovada na mesma época (Risos). Terminado o curso e de volta para o Estado, trabalhei na Companhia do Corpo de Bombeiros da Serra. Inicialmente, como chefe da Seção de Vistorias, depois como comandante de Pelotão e, mais adiante, comandante da Companhia. Ainda como aspirante a oficial sofri um acidente de carro, onde tive uma fratura e luxação na coluna cervical, ficando acamada por três meses e depois mais quatro meses com restrições de atividades até a recuperação total. Neste período enfrentei outro desafio, uma vez que, por ainda estar em estágio probatório por ser aspirante a oficial, houve uma tentativa de me excluírem da Corporação, manobra possível caso a Comissão de Promoção, por maioria de votos, decidisse por me julgar incapaz para o serviço. Este fato foi revertido e eu pude retornar para minhas atividades. Fui comandante das Companhias de Vitória, Vila Velha e Cariacica, trabalhei também na Ajudância Geral do Comando-Geral do Corpo de Bombeiros e no Centro de Atividades Técnicas, como analista de Projetos; chefe da Seção de Análise de Projetos; gerente Vistorias e Fiscalização. Por último, vim para a Defesa Civil, em outubro de 2021, na função de chefe do Departamento de Preparação e Reposta, e há um mês estou como chefe do Departamento de Prevenção, Mitigação e Recuperação.
Em capacitações fiz cursos na área de Atendimento Pré-Hospitalar (APH), sendo, por diversos anos, instrutora da disciplina; cursos de resgate técnico, veicular, busca e resgate em estruturas colapsadas, perícia de incêndio, curso de aperfeiçoamento de oficiais e diversos outros para o exercício das funções administrativas. Logo no início da carreira minha afinidade era o APH, sendo que, por volta do ano de 2012, após a minha formação em Engenharia Civil, passei a me dedicar nos estudos e nas atividades afetas à segurança contra incêndio e pânico.
Qual foi o caso mais marcante na sua carreira?
Trabalhei durante sete anos na escala de Chefe de Operações, então pude participar de ocorrências das mais variadas naturezas. Não me recordo de um caso específico, mas sim de situações que me comoveram bastante. Foram todas aquelas ocorrências em que atendo e que os familiares das vítimas (geralmente em óbito) apareceram no local. É impossível ficar impassível diante do sofrimento destas pessoas.
Como é se sentir sendo a primeira oficial superior da história do Corpo de Bombeiros do Espírito Santo?
Sempre há dois lados da mesma moeda. O lado bom é poder ter cada vez mais lugar de fala e voz para contribuir para com a promoção da equidade de gênero dentro da nossa Corporação. O lado ruim é ter as expectativas por vezes irreais que as pessoas depositam em você para que seja, faça, produza, atenda, entregue, performe sobre coisas/questões que eu não tenho condições de executar sozinha. Em resumo, são muitas as cobranças de todos os lados!
Na sua turma de aluna-oficial havia outras mulheres?
Sim. A minha turma éramos 25 cadetes, sendo 10 mulheres. Contudo, elas eram de outros Estados, como Distrito Federal, Sergipe e Piauí.
Como a senhora vê a participação da mulher na carreira no Corpo de Bombeiros do Espírito Santo?
Nós somos mais de 50% da população brasileira e gozamos das mesmas condições de prestar um concurso público. Então, vejo com naturalidade o ingresso cada vez maior de mulheres na Corporação, visto que temos totais condições de preencher os requisitos de ingresso e desempenhar as funções requeridas para cada função. E quanto mais entram, maior é a divulgação do nosso trabalho, o que pode estimular o interesse de novas mulheres também prestarem o concurso para a carreira militar.
Já sentiu algum tipo de preconceito justamente por ser mulher?
Sim. Infelizmente a inferiorização, o preconceito e a misoginia é algo ainda muito presente na nossa cultura, permeando os mais variados ambientes sociais, não estando o ambiente de trabalho imune. Como ocupo função de liderança, de gestão e comandamento, já ocorreram situações em que nossa posição é, na maioria das vezes, de forma sarcástica, velada ou por mensagens subliminares desafiada ou questionada.
A senhora é casada?
Sim. Tenho uma filha de 4 anos chamada Mel.
Como é ser oficial bombeiro-militar, esposa, mãe e dona de casa?
É o malabarismo diário que a maioria esmagadora das mulheres nesta condição de inúmeros papéis desempenha (risos). É importante ter autoconhecimento acerca das suas prioridades para que consiga equilibrar na melhor medida possível o desempenho de cada papel em cada fase da vida, de modo a viver plenamente e de forma satisfatória cada um deles. Aí está o malabarismo!