As prisões e busca e apreensões que aconteceram no Espírito Santo decorrentes dos Inquéritos 4781 e 4874 que investigam ataques ao Supremo Tribunal Federal (STF), atos antidemocráticos e financiamento de milícias digitais revelam estranhas situações da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB/ES) com advogados envolvidos. O advogado que sofreu uma das buscas e apreensões é Gabriel Quintão Coimbra, atual presidente da Comissão de Defesa da Liberdade de Imprensa e de Expressão da OAB/ES, que tem como vice-presidente Júlia Sobreira dos Santos e secretária-geral Vanessa Moreira Vargas.
Coimbra ainda é vice-presidente da Comissão de Coordenação Estadual das Relações Brasil China da OAB/ES, enquanto a advogada Vanessa Moreira Vargas atua como vice-presidente do Tribunal de Ética desde janeiro deste ano. Outro advogado, Jackson Rangel Vieira, que é também jornalista e dono do site Folha do ES, foi preso na mesma operação. O STF também mandou prender o vereador Armandinho Fontoura (Vitória), o microempresário Maxcione Pitangui de Abreu, conhecido pela alcunha de Max Pitangui – que está foragido –, e o falso pastor Fabiano Oliveira.
Estranhamente, para esconder estes fatos amplamente divulgados pela mídia, a OAB/ES apagou de seu site oficial todos os nomes de componentes das referidas comissões um dia após as prisões e o cumprimento de mandados de busca e apreensão, realizadas na quinta-feira passada (15/12), mas os atos de nomeações continuam circulando.
Todos os três advogados – Gabriel Coimbra, Júlia Sobreira e Vanessa Vargas – assinam em conjunto uma Ação Popular proposta pelo deputado estadual Carlos Von Schilgen Ferreira, que atende pela alcunha de Carlos Von – alvo de busca e apreensão nesta mesma operação e que está cumprindo medidas cautelares impostas pelo ministro Alexandre de Moraes, do STF, como uso de tornozeleira eletrônica – em face de agentes públicos estaduais e jornalistas, e atuam também de forma separadas na defesa de dezenas de processos de Jackson Rangel.
Aliás, Gabriel Coimbra também é citado na decisão do ministro Alexandre de Moraes como verdadeiro autor de “matérias jornalísticas” enviadas para Jackson Rangel e que foram publicadas em seu jornal eletrônico, reforçando sempre as acusações aos agentes públicos. Carlos Von, que não foi reeleito este ano, apresentou diretamente na OAB um pedido de atuação da instituição frente às “matérias jornalísticas” publicadas pelo Jackson Rangel em seu site Folha do ES, na qual relatava diversos supostos crimes de autoridades do Governo Estadual. Tais pedidos foram acatados integralmente na OAB/ES e a instituição ajuizou duas Ações Civis Públicas na Justiça Federal em nome de Carlos Von de um tema já arquivado em todas as instâncias da Justiça brasileira – incluindo Superior Tribunal de Justiça.
Além disso, o vereador Armandinho Fontoura, que é Bacharel em Direito – ele ficou reprovado na prova da OAB/ES –, participou publicamente da campanha de reeleição do atual presidente reeleito da OAB/ES, José Carlos Rizk. Por diversas vezes publicou em suas redes sociais sua participação na campanha para ajudar o declarado amigo e, ao final da exitosa campanha, publicou foto com o presidente reeleito, ambos com o sinal da campanha na mão e descrevendo “VENCEMOS” no card, ou seja, ele, mesmo não participando da chapa, se sentiu vencedor.
Armandinho então começou a ser convidado para vários eventos da OAB capixaba. Em um dos eventos chamou muita atenção de toda a advocacia. Realizado no Centro de Convenções para mais de 500 convidados, com convites que estampavam timbre do vereador ao lado do timbre da OAB, Rizk Filho, chamou mais de 100 advogados a serem homenageados pelo Dia da Advocacia. O custo até agora ninguém conhece, mas o evento em parceria foi um sucesso de exposição política para os amigos, Rizk e Armandinho.
E as conexões entrem Armandinho Fontoura e o advogado Gabriel Coimbra eram frutos de orgulho público para ambos, sendo que no dia 12 de agosto de 2022 Armandinho colocou em um ‘storie’ do seu perfil do Instagram uma foto em que ambos aparecem em uma varanda em frente ao mar com poucos trajes com o dizer “hoje é dia de malvadeza”. Foi no apartamento de Gabriel Coimbra, na praia da Bacutia, em Guarapari.
Este silêncio diante de prisão e buscas e apreensões dos advogados e diante da retirada dos nomes dos envolvidos das atuações nas comissões e eventos da OAB/ES são posturas nada republicanas. No fim, esta operação deflagrada pelo Inquérito da Fake News por Alexandre de Moraes é um novelo aqui no Espírito Santo.
Outro lado
No dia 16 deste mês, antes de publicar a reportagem ‘Capixaba alvo do STF pela acusação de disseminar fake news é presidente da Comissão de Defesa da Liberdade de Imprensa e de Expressão da OAB’, o site Blog do Elimar Côrtes encaminhou demanda para a Assessoria de Imprensa da OAB/ES para repercutir, junto ao presidente da Ordem, Rizk Filho, a prisão do jornalista e advogado Jackson Rangel e o cumprimento de mandado de busca e apreensão em um dos apartamentos de Gabriel Coimbra, na orla de Camburi.
Foram encaminhados à Assessoria os seguintes questionamentos: 1) A Ordem vai fazer a defesa dos dois advogados, por meio da Comissão de Prerrogativas, ou vai instaurar algum procedimento para levar os três ao Tribunal de Ética e Disciplina? 2) Para a OAB/ES, a ação do STF é legal ou inconstitucional?
A demanda foi passada para o e-mail da Assessoria de Imprensa da OAB/ES. A resposta ainda não chegou até a postagem desta reportagem. O Blog do Elimar Côrtes também fez várias ligações telefônicas para a sala da Assessoria, onde funciona a Ordem, no Centro de Vitória, mas as ligações nunca foram atendidas. A justificativa das telefonistas era de que os jornalistas-assessores estavam “num evento externo.”
Obs: Até a publicação desta atual reportagem, a OAB/ES não respondeu as perguntas encaminhadas por este site.