O Espírito Santo não pode correr o risco de retroceder aos tempos sombrios, em que as instituições eram fortemente controladas pelo crime organizado. No final dos anos 90, no entanto, a sociedade capixaba se uniu e decidiu dar uma guinada e hoje o Estado é referência nacional no combate às organizações criminosas, na transparência da gestão pública e Nota ‘A’ na gestão fiscal. Conquistas alcançadas graças aos esforços e trabalho de todos os Poderes Republicanos e com apoio maciço da sociedade civil organizada, como a Ordem dos Advogados do Brasil – do saudoso Agesandro da Costa Pereira e seus sucessores –, das Igrejas e outros organismos.
A virada se deu a partir de uma boa governança institucional, iniciada em 2003 e com a continuidade de uma unidade que passa pelo diálogo entre Executivo Estadual, Legislativo, Ministério Público, Poder Judiciário, Defensoria Pública e Tribunal de Contas, com cada ente seguindo a sua missão institucional.
Com essa virada as forças policiais e os órgãos de controle e fiscalização estatais passaram a trabalhar de forma independente e unida, visando sempre o equilíbrio para impedir que organizações criminosas, como a temida Scuderie Detetives Le Cocq, voltem a aterrorizar o povo capixaba. Por isso, a sociedade ficou preocupada e perplexa com o apelo feito, inicialmente pelo deputado federal Felipe Rigoni (União Brasil), ao declarar que a população não pode sofrer com o retrocesso que ameaça o Estado neste segundo turno das eleições para governador.
Num vídeo postado em suas redes sociais, Felipe Rigoni anunciou seu apoio à reeleição do governador Renato Casagrande (PSB) e enumerou alguns motivos que o levam a ter medo de uma vitória do oponente, o ex-deputado federal Carlos Manato (PL): “Manato está longe de ser exemplo de político e de cristão”, salientou Rigoni, afirmando que o candidato do PL “está longe de representar uma mudança segura para o Espírito Santo.” Para ele, Manato significa “risco de retrocesso” e “a volta do crime organizado” ao comando no Estado. Em seguida, a preocupação do parlamentar foi demonstrada por diversas personalidades capixabas e de outros Estados.
Não se faz aqui nenhum juízo de valor sobre a conduta do candidato Carlos Manato. O fato dele ter sido integrante da Le Cocq, conforme declaração do próprio Manato e de sua ficha de filiação publicada com exclusividade neste blog, em setembro de 2018, não faz dele um criminoso ou cúmplice dos bandidos que a Scuderie abrigava nos tempos sombrios.
No entanto, no período em que Manato integrou a Lec Cocq o Estado era governado sempre pela influência e imposição dos interesses escusos. Gestores públicos deixavam se levar pelas práticas do crime organizado, que promovia interferências em diversos setores da sociedade e dos Poderes. Teve um governante que ‘rasgou’ um Inquérito Policial porque um dos investigados por assalto a banco, que culminou na morte de dois vigilantes, era afilhado de um aliado político. Depois, este mesmo latrocida (quem mata para roubar) se tornou político.
Foi o tempo em que, se faltava dinheiro nos cofres públicos, sobrava no bolso e nas contas bancárias dos chefões das organizações criminosas, formadas, sobretudo, por políticos, empresários e gestores públicos. O que se viu foi o funcionalismo sofrer com o atraso de salários e até o contingenciamento de seus vencimentos, que geraram processos na Justiça e condenação do Estado. Superado esse tempo sombrio, o Espírito Santo passou a ser governado com ética, competência e união entre todas as forças.
A Le Cocq comportou, entre os anos 70 e início deste século XXI, grupos de extermínio; assassinos de aluguel (crime de pistolagem); traficantes de drogas e de armas; assaltantes de banco e de cargas de caminhões; sequesdores; dentre outros criminosos. A Scuderie foi apontada pela Procuradoria Regional da República no Espírito Santo como o braço armado do crime organizado capixaba.
Praticou mais de 1.500 assassinatos, que transformaram o Espírito Santo no segundo Estado mais violento do Brasil. Num período de 18 anos, a Scuderie Le Cocq matou 30 políticos capixabas. Criada no final dos anos 60, teve sua extinção confirmada pelo Tribunal Regional Federal da 2ª Região (Rio/ES) no final de 2005.
Não importa quem vencerá as eleições para governador do Estado. O importante é que o Espírito Santo não sofra nenhum retrocesso.