O candidato do PL ao governo do Estado, o ex-deputado federal Carlos Manato, jura amores aos profissionais da segurança pública capixabas. Por convite de “alguns amigos policiais”, ele foi até integrante da temida Scuderie Detetives Le Cocq. A entidade foi responsável, entre os anos 70 e início dos anos 2000, por grupos de extermínio, assassinatos de mais de 1.500 pessoas no Espírito Santo, assaltos a banco, roubos de cargas, tráfico internacional de drogas. O senador eleito Magno Malta (PL) sempre jurou amores aos operadores da segurança pública. Foi eleito com a ajuda do chamado Projeto Político Militar, formado por entidades de classe da PM e do Corpo de Bombeiros.
As juras de amores, entretanto, ficam somente no discurso. Ainda na noite de terça-feira (11/10), horas depois de traficantes incendiarem seis ônibus em Vitória e um na Serra, Manato e Magno Malta trataram de iniciar ataques ao trabalho dos policiais militares e civis, criticando as ações das duas instituições e dizendo que vão pedir ao Governo Federal que envie ao Espírito Santo a Força Nacional de Segurança para combater o tráfico.
A ação criminosa dos bandidos ocorreu após o suspeito de tráfico Jonathan Cândido Cardoso, 26 anos, morrer baleado em um confronto com a Polícia Militar na noite de segunda-feira (10/10). Ele era apontado como chefe da segurança de Fernando Moraes Pereira Pimenta, conhecido como Marujo, um dos líderes do tráfico de drogas da Grande Vitória.
Os bandidos atacaram ônibus em Consolação, Bonfim, Santo Antônio, Parque Moscoso, Enseada do Suá – um perto do Hortomercado e outro em uma das ruas que dá acesso à Terceira Ponte – e Rodovia do Contorno. Em Consolação, em meio ao caos provocado por criminosos, eis que a militar na foto principal desta reportagem socorre duas crianças devido a fumaça em mais uma queima de ônibus. A foto, do jornalista Fernando Madeira, de A Gazeta, mostra o momento exato em que a policial sai de dentro de uma casa com os meninos no colo.
Em nota enviada pela assessoria de Carlos Manato à imprensa, o candidato demonstra claramente que não confia nas forças policiais capixabas, embora tente dizer o contrário: “Diante do terror vivido pelo povo capixaba nesta terça-feira (11), em plena capital do nosso Estado, Manato, candidato ao governo, já acionou o senador eleito, Magno Malta, para intermediar uma reunião emergencial com o ministro da Justiça e Segurança Pública, Anderson Gustavo Torres. A ideia é buscar a ajuda e a inteligência da União para, de pronto, dar uma resposta à sociedade que clama por Segurança. O ministro se colocou à disposição do Governo do Estado para ajudar nas ações contra a organização criminosa que aterrorizou o dia do capixaba, quando coletivos foram queimados, a imprensa ameaçada e o cidadão se viu acuado.”
O candidato Manato ainda diz que confia plenamente no trabalho das forças policiais capixabas e reitera o desejo de que a normalidade seja logo reestabelecida. Já o senador eleito Magno Malta, citado na nota de Manato como o “intermediador” da conversa com o ministro da Justiça, publicou um vídeo em que afirma já ter conversado com Anderson Torres, que teria colocado as forças nacionais à disposição do Espírito Santo.
A resposta das forças policiais, agora criticadas por Manato e Magno Malta, foi mais uma vez rápida. O secretário de Estado da Segurança Pública e Defesa Social, coronel Márcio Celante, informou na manhã desta quarta-feira (12/10), que já foram presos quatro bandidos que ordenaram os ataques a ônibus. São líderes de facções criminosas que agem na Grande Vitória.
Segundo Celante, os bandidos já estavam sendo monitorados e foram abordados pela Polícia Rodoviária Federal (PRF), em Viana. A prisão ocorreu por volta das 8 horas desta quarta. Ainda na terça-feira (10/10), 10 outros criminosos já tinham sido presos em flagrante por tentarem incendiar ônibus em Vitória. De acordo com a Polícia Militar, eles portavam galões de gasolina e isqueiros.
Ao pedirem a presença da Guarda Nacional de Segurança no Estado, Manato e Magno Malta esqueceram de outro espetacular e competente trabalho das forças policiais capixabas, que, com apoio da Polícia Federal e da Polícia Rodoviária Federal, prenderam seis bandidos e mataram outros cinco, em confronto, hora depois que o grupo invadiu o centro de Santa Leopoldina e explodiram três agências bancárias para roubar dinheiro de caixas eletrônicos. A ação dos assaltantes se deu no dia 30 de setembro e um dia depois o caso já estava solucionado.
Fica, portanto, uma questão: o candidato Carlos Manato pedir intervenção federal no Espírito Santo em um dia de ataques é um atestado de incompetência. Qualquer problema ele vai chamar o governo federal, caso seja eleito nas eleições do dia 30 deste mês? Parece criança mimada que não sabe resolver as coisas sozinho. Além disso, Manato manda um recado também de não confiança nas forças policiais.
Os policiais capixabas merecem respeito, sobretudo, de quem sonha, um dia, governar o Estado do Espírito Santo.