O presidente Jair Bolsonaro (PL) está sendo criticado por passar dias passeando de lancha em praias de Santa Catarina. Criticado por ter deixado de ir à Bahia nesta semana, onde fortes chuvas já mataram dezenas de pessoas. A tragédia em solo baiano aumentou nas últimas horas, justamente no período em que o Presidente da República aproveita para gozar mais um período de férias.
Vale lembrar, no entanto, que no dia 12 de dezembro de 2021 – portanto há mais de duas semanas –, Bolsonaro sobrevoou as regiões afetadas pela chuva na Bahia. Até então, eram 25 cidades que estavam em situação de emergência por um decreto estadual. O objetivo do Presidente foi fazer uma avaliação sobre os estragos causados pelos temporais com a intenção de traçar um plano de apoio para a reconstrução destas cidades.
A imprensa registra que o presidente Bolsonaro fez um passeio de moto aquática na manhã da última terça-feira (27/12) em uma praia de São Francisco do Sul, no litoral catarinense, onde estava desde o dia anterior. Bolsonaro, que está de férias, cumprimentou apoiadores na praia. “A viagem ocorre em meio a uma série de temporais no sul da Bahia, que afeta mais de 430 mil pessoas”, diz O Globo.
O suposto menosprezo pelo ser humano em meio a tragédias não é exclusividade de Bolsonaro. O então presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) estava de férias na Base Naval de Aratu, em Salvador – também na Bahia, diga-se de passagem –, entre os dias 30 de dezembro de 2010 e 10 de janeiro de 2011. Passava os dias na Praia de Inema, tomando cerveja e fazendo churrasco, ao lado de familiares e ‘aspones’.
As cenas de fotos da época do dia 4 de janeiro de 2011 mostram um Lula se divertindo, justamente dias depois que o deslizamento de terras derrubou uma pousada em Angra dos Reis, matando 53 pessoas – a maioria turistas mineiros que foram ao balneário do Rio de Janeiro passar o Réveillon. Lula chegou à Bahia antes da tragédia e lá ficou por mais uma semana, sem ir a Angra dos Reis.
Lula, informa o mesmo O Globo em 4 de janeiro de 2011, saiu numa segunda-feira pela primeira vez para tomar banho de mar na Praia de Inema. “O Presidente escolheu o dia mais chuvoso desde que chegou à Bahia, no dia 31 de dezembro, para sair com a primeira dama, Marisa Letícia, e outros familiares”.
“Por causa da chuva, apenas o presidente Lula e um rapaz não-identificado entraram na água por volta de 10 horas da manhã. Os dois nadaram por cerca de meia hora. Depois voltaram e ficaram na praia por mais 15 minutos. A primeira-dama, Marisa Letícia, chegou à praia de vestido branco e chapéu, mas preferiu ficar observando o presidente de uma tenda”, completa O Globo. No texto, o jornal não menciona a tragédia de Angra dos Reis, onde mais de 50 brasileiros foram mortos sem merecer a solidariedade do então presidente Lula.
Já a ex-presidente Dilma Rousseff, por acaso também do PT, demorou uma semana para visitar a região de Mariana, em Minas Gerais, na ocasião do rompimento da barragem da Vale, em 2015, onde mais de 20 pessoas morreram. Em 2015, no dia do rompimento da barragem em Mariana, Rousseff estava em Alagoas na inauguração de um trecho do Canal do Sertão. Na época, a Presidente estava acompanhada de seu ministro da Integração Nacional, Gilberto Occhi, que visitou o local da tragédia no dia seguinte junto ao então governador de Minas Gerais, Fernando Pimentel.
No rompimento da barragem de Brumadinho, que matou mais de 200 pessoas também em Minas, a resposta das autoridades foi mais rápida. O governador de Minas Gerais, Romeu Zema, e o presidente Jair Bolsonaro sobrevoaram a região imediatamente.
O Brasil está longe de ter um Presidente da República que encarne, efetivamente, a figura de um estadista. Talvez, o único tenha sido um Imperador: Dom Pedro II. As tragédias, no entanto, revelam que entre os presidentes Lula, Dilma e Bolsonaro há algo em comum: a falta de empatia pela vida humana.
No caso desses três, a vaidade pessoal pesa mais. Cervejas, churrasco, passeio de lanchas, agendas políticas pífias são mais importantes do que a solidariedade com quem perdeu entes queridos. Um Presidente da República tem todo direito a passeios, às férias e a outros benefícios. No entanto, há tempo para tudo; até para solidariedade com quem paga seus salários e suas regalias.