O senador Fabiano Contarato já expressou várias vezes sua intenção de deixar o partido Rede Sustentabilidade, que em 2018 deu guarita ao delegado de Polícia para se candidatar a uma das duas vagas do Senado Federal. Contarato tentou se transferir para o PT e para o PDT. No Espírito Santo, porém, os dirigentes das duas siglas fizeram cara feia para o senador, embora ele contasse com a simpatia dos líderes nacionais do PT e PDT.
Petistas capixabas criticaram a intenção de Contarato e migrar para o partido liderado pelo ex-presidente Lula; e, o PDT, do prefeito Sérgio Vidigal, lembrou que faz parte do governo Renato Casagrande (PSB). A ideia de Fabiano Contarato seria fazer oposição a Casagrande e se abrigar em outro partido justamente para tentar disputar, em 2022, o cargo de governador do Estado.
Fabiano Contarato só não diz, oficialmente, porque quer sair da Rede. Nos bastidores da política em Brasília, o responsável pela birra do senador capixaba com a Rede tem nome e endereço: Randolph Frederich Rodrigues Alves, mais conhecido como Randolfe Rodrigues, que, nascido em Guaranhus (Pernambuco), é senador pelo Estado do Amapá.
Para colegas de bancada, Fabiano Contarato diz que não aguenta conviver com Randolfe Rodrigues, considerado pelo parlamentar capixaba como um “cara vaidoso”. Também vaidoso, o delegado aposentado Fabiano Contarato não consegue conviver pacificamente com quem ofusca sua estrela. Foi assim na sua época de delegado, quando não era lá muito querido pela maioria dos demais colegas.
O brilho de Randolfe Rodrigues, como vice-presidente da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid, deve irritar ainda mais o capixaba Fabiano Contarato.
Dirigentes do PDT e PT capixabas têm dificuldade em confiar nas boas intenções de Fabiano Contarato. O passado dele não o credencia a ser bem aceito. Contararo iniciou a carreira política, em 2013, tentando ingressar num partido voltado mais à esquerda. Tinha intenção de ir para o PSB, do então governador Renato Casagrande. No entanto, ele não foi bem aceito no PSB e acabou se filiando ao Partido Republicanos, do até então senador Magno Malta. Um partido que agrega, em sua maioria, políticos conservadores e ligados à direita.
Em outubro de 2013, em sua página em uma rede social, Contarato se manifestou e disse o que o motivou a se filiar ao PR. “O que posso dizer é que por questões ideológicas jamais abriria mão do que eu acredito para ser aceito em um partido A ou B. Sou uma pessoa de opinião própria, e não cedo minhas convicções e minha ética para ser aceito em um determinado partido. Quem me conhece e acompanha o meu trabalho há 21 anos, sabe que não me intimido”.
Em outro trecho de sua página, Contarato afirmou que se “recusou a ser um fantoche”. “Portanto, não poderia me filiar a um partido que vai contra a minha moral e ética. Recusei-me (e não me sujeitarei) a ser um fantoche, pois jamais vou abrir mão do que acredito por conveniências ou interesses pessoais. Por estas e outras questões escolhi o Partido Republicano, pois foi o único partido que meu deu a opção de fazer minhas próprias escolhas”.
Uma vez no Republicanos, Fabiano Contarato se candidatou ao Senado. Teve o apoio de Casagrande, que ele trataria com ingratidão em seguida. No dia 14 de julho de 2014, o então delegado de Polícia Civil Fabiano Contarato anunciou a desistência de disputar a vaga ao Senado. Em nota à imprensa, Contarato justificou ter “motivos estritamente pessoais” e disse que voltaria as suas atividades como professor e servidor público.
No dia 8 de setembro de 2014, em pleno aniversário de Vitória, Fabiano Contarato utilizou o Facebook e declarou apoio a candidatura do ex-governador Paulo Hartung. Contarato, que jurava amores pelo então governador Casagrande, passou a abraçar o Paulo pelo Estado afora. Hartung foi eleito naquele ano para seu terceiro mandato. Em troca do apoio a Hartung, Contrato ganhou o cargo de diretor-geral do Departamento Estadual de Trânsito (Detran) e, posteriormente, a função de corregedor-geral do Estado.
Fabiano Contarato nunca explicou melhor a desistência da candidatura. Bastidores da política revelam que ele queria manter quieta a sua privacidade, o que é justo. Antes da desistência, Contarato foi procurado pelo jornal A Tribuna para uma entrevista de fim de semana. O jornal queria saber do até então candidato sobre o que ele achava da união homoafetiva.
Até aquela época, Contarato ainda não havia revelado para o público que é homossexual. A desistência de Fabiano Contarato ajudou as pretensões de Hartung, que queria eleger a então deputada federal Rose de Freitas para o Senado. E conseguiu: Rose se juntou, assim, aos senadores Magno Malta e Ricardo Ferraço.
Fabiano Contarato se filiou à Rede Sustentabilidade e em 2018 foi eleito senador, com 1.117.036. O pleito de 2018 elegeu também Marcos do Val, com 863.359 votos, para o Senado.
Frisa-se que Contarato nunca usou o nome do presidente Jair Bolsonaro e suas ideias na campanha eleitoral de 2018. No entanto, permitiu que os bolsonaristas e demais eleitores conservadores imaginassem que ele também era “bolsonarista e conservador”.
Na verdade, Contarato passou a campanha defendendo somente pautas que tornariam mais rigorosas leis penais – sobretudo às relativas a crimes de trânsito –, algo que ele não conseguiu colocar em prática depois de tomar posse.
Uma vez eleito, ainda em 2018 Fabiano Contarato anunciou, em entrevista à mídia nacional, ser o primeiro senador gay da história do Brasil. Durante a campanha, ele já apresentava seu filho adotivo nas redes sociais.
Contarato, no entanto, havia se casado um ano antes com o fisioterapeuta Rodrigo Grobério. Foi um casamento sigiloso, que contou com a presença de amigos mais íntimos e secretários de Estado – na ocasião, Contarato era corregedor-geral do Estado. Ele se casou “escondido” da imprensa capixaba.
Uma vez no Senado, Fabiano Contarato passou a ser criticado pelos bolsonaristas e eleitores conservadores do Espírito Santo quando viram ter “errado” no voto, conformem alegam. Nas redes sociais, eles dizem ter sido enganados, apesar de Contarato nunca ter dito que era defensor das ideias de Jair Bolsonaro. No Senado, Contarato faz uma oposição ferrenha ao Presidente da República.
Resta saber se ao se deparar com as portas fechadas em partidos de esquerda, o senador Fabiano Contarato vai de novo dar uma guinada em seu perfil ideológico. Se bem que ele não precisa se candidatar a nada em 2022, pois seu mandato de senador é de oito anos. Ele vai, efetivamente, prestar contas com seu eleitorado, na verdade, só em 2026.