A visita de sete horas do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) ao Espírito Santo, na sexta-feira (11/06), mostrou que ele poderá ter problemas na disputa à reeleição de 2022. Bolsonaro foi, segundo algumas avaliações, “deselegante, mal-educado, desrespeitoso, ingrato e grosso” com quem poderia garantir boa quantidade de votos para ele no próximo ano: os prefeitos da Região Metropolitana da Grande Vitória.
Bolsonaro desembarcou no Aeroporto de Vitória às 10h20. Lá, ele retirou a máscara – desrespeitando, assim, mais uma vez, medidas sanitárias contra o novo coronavírus – e foi para o local onde estavam mais de 2 mil pessoas lhe aguardando – a maioria também sem máscara.
Ali mesmo no Aeroporto, se quisesse, ele poderia ter recepcionado os quatro principais chefes dos Executivos Municipais da Grande Vitória: o prefeito da Capital, Lorenzo Pazolini, seu principal aliado na Região; Arnaldinho Borgo (Vila Velha), bolsonarista de boca cheia; Euclério Sampaio (Cariacica), que sempre foi um defensor de boa parte dos projetos do Presidente da República; e Sérgio Vidigal (Serra), de quem o Presidente foi colega na Câmara Federal.
Prefeitos de Viana, Wanderson Bueno (Podemos); Guarapari, Edson Magalhães (PSDB); e Fundão, Gil Souza Borges (PSB), que integram a Região Metropolitana, também foram “barrados” na festa preparada por e para a Presidência da República. Bolsonaro, no entanto, abraçou somente seus apoiadores, ignorando o potencial de votos dos prefeitos da Grande Vitória. Esses sete prefeitos administram cidades com mais de 1,300 milhão de eleitores.
Bolsonaro também foi “deselegante, mal-educado, desrespeitoso e grosso” com o governador Renato Casagrande (PSB). Apesar das divergências ideológicas, políticas e administrativas com o Presidente, Casagrande sempre tratou Jair Bolsonaro com respeito e educação.
Se o Presidente não teve habilidade política e civilidade para lidar com possíveis desafetos ideológicos, o mesmo não se pode dizer da primeira-dama do País, dona Michele Bolsonaro.
Polida, educada e elegante, ela cumpriu agenda social em Vitória, enquanto o marido foi para São Mateus. E Michele fez questão de convidar para sua agenda a vice-governadora do Estado, Jacqueline Moraes, do mesmo partido do governador Casagrande, para seus encontros sociais e para o almoço em um restaurante na Praça do Papa. Michele deu, assim, exemplo de civilidade.
Em um ato que serviu mais uma vez para Bolsonaro fazer campanha para as eleições presidenciais de 2022, ele deixou de convidar também para a sua agenda, na Sala Vip do Aeroporto, o presidente da Assembleia Legislativa, Erick Musso, que é do mesmo partido do prefeito de Vitória, o Republicanos.
Bolsonaro preferiu valorizar “defuntos mortos” – aqueles que perderam eleições em 2018 –, como ex-senador Magno Malta e o ex-deputado federal Carlos Manato, nesta que foi a sua primeira visita que fez ao Espírito Santo desde que assumiu o mandato como Presidente, em janeiro de 2019.
Talvez Bolsonaro desconhece é que o mesmo ex-senador Magno Malta que virou bolsonarista de carteirinha em 2018, esteve sempre ao lado de todos os Presidentes da República desde a redemocratização do País.
Magno foi aliado de José Sarney, Fernando Collor de Melo, Itamar Franco, Fernando Henrique Cardoso, Luís Inácio Lula da Silva, Dilma Houssef e Michel Temer. E vai abandonar Jair Bolsonaro quando este sair do poder.
Na foto ao lado, Magno Malta aparece orando com Bolsonaro e outros políticos, no Aeroporto de Vitória. Magno Malta também orou muito ao lado dos petistas Lula e Dilma, antes de abandoná-los. Talvez as orações não tenham surtido efeito ou tenham sido feita sem a devida fé.
Se ignorou lideranças importantes e autoridades institucionais constituídas, Bolsonaro, todavia, fez questão de abraçar parlamentares do chamado baixo clero, como os deputados federais Evair de Melo, Neucimar Fraga e Soraya Manato.
Também estiveram com Bolsonaro os deputados estaduais bolsonaristas, como o Delegado Danilo Bahiense, Torino Marques e Capitão Assumção – os três são igualmente considerados do baixo clero da Assembleia Legislativa.
Do Aeroporto de Vitória, a comitiva presidencial foi de helicóptero para São Mateus, onde Bolsonaro inaugurou um conjunto de casas populares, cujas obras foram iniciadas no governo Dilma Rousseff, em 2012. Em um palanque, Bolsonaro fez comício ao lado de seguidores.
Em São Mateus, somente o prefeito da cidade, Daniel do Açaí (PSDB), esteve presente no palanque presidencial. Daniel virou bolsonarista de carteirinha. No entanto, entre os convidados na plateia, estava o prefeito Sooretama, Alessandro Broedel (Republicanos). E o prefeito de Montanha, André Sampaio (PSB), teve seu nome citado.
Ao retornar de São Mateus, Bolsonaro ainda deu uma paradinha em Aracruz para, segundo a imprensa capixaba, uma “visita surpresa”. Mandou o piloto aterrissar em um campo de futebol em Santa Cruz. Desceu do helicóptero e foi a um bar tomar refrigerante e comer um pedaço de frango frito.
Parecia tudo combinado, pois dezenas de pessoas já estavam aglomeradas no bar, como se estivessem aguardando o Presidente. A foto ao lado, feita pelo deputado federal Evair de Melo, que estava em outra aeronave que também desceu em Aracruz, prova que a “visita surpresa” foi mesmo tudo combinado.
Bolsonaro foi embora deixando um rastro de preocupação. Parte das mais de 2 mil pessoas que estiveram com ele no Aeroporto de Vitória pode ter contraído o vírus da Covid/19, pois a maioria desrespeitou o distanciamento social e nem usou máscara.
E quem vai cuidar da maioria dessas pessoas – boa parte deve ter plano de saúde privado – caso algumas delas fiquem doentes? Os Municípios da Grande Vitória, cujos prefeitos foram tratados com “deselegância, péssima educação, ingratidão e grosseria” pelo Presidente da República.
Jair Bolsonaro deixou bem, mais uma vez, apenas os seus apoiadores, que vão ter histórias e fotos para mostrar nas redes sociais. Porém, esqueceu daqueles que, efetivamente, são as maiores lideranças políticas capixabas. O Capitão pode ter dado um tiro no próprio pé, ao esquecer que 2022 é logo ali.