A Justiça absolveu o policial militar Fernando Marcos Ferreira e sua mulher, a pedagoga Keila Bonde Ferreira, da acusação de extorsão e ameaças ao deputado federal e apresentador de TV Amaro Neto e ao assessor parlamentar, o advogado Elder Correa Sena. Foi um dos maiores escândalos sexuais ocorrido nos últimos anos no Estado envolvendo um político.
O casal chegou a ser preso pela Polícia Civil, em um suposto flagrante, no dia 30 de novembro de 2018, em sua residência, no bairro Campo Grande, Cariacica. Posteriormente, Fernando e Keila foram soltos. À época, com base no depoimento de Amaro, a Polícia Civil informou que o deputado acreditava que Fernando e Keila ameaçavam mostrar vídeos íntimos entre ele e a pedagoga.
Amaro Neto, que é casado, teve um relacionamento amoroso com Keila Bonde e depois acusou a pedagoga e o marido dela tê-lo extorquido em R$ 500 mil para que o caso fosse “abafado”.
Na Justiça, no entanto, Amaro e seu assessor mudaram o tom e não repetiram as mesmas acusações feitas anteriormente à Polícia Civil, alegando, inclusive, desconhecer tal pedido de dinheiro.
O processo, que tramitou em segredo de Justiça, chegou ao fim no dia 22 de setembro de 2020, quando o Juízo da 3ª Vara Criminal de Cariacica determinou o arquivamento em definitivo da ação.
Na época da prisão do casal, Amaro Neto era deputado estadual e já havia sido eleito para uma vaga na Câmara dos Deputados. Na ocasião, o advogado Elder Sena era seu assessor parlamentar na Assembleia Legislativa. Atualmente, Elder continua na Ales, atuando como Assessor Sênior na Supervisão da Auditoria Parlamentar, recebendo salário bruto de R$ 4.440,85 por mês.
De acordo com Boletim de Ocorrência da Polícia Civil, vídeos íntimos envolvendo o deputado Amaro Neto e a pedagoga Keila teriam sido o motivo da tentativa de extorsão contra o parlamentar. O casal teria exigido R$ 500 mil para apagar o arquivos.
A esposa do policial teria entrado em contado com o deputado e relatado que seu marido sabia do caso entre os dois. Amaro foi informado pela suposta amante que o policial tinha as imagens de vídeo e, por isso, queria compensação em dinheiro para apagar os arquivos.
No dia 6 de dezembro de 2018, a Polícia Civil concluiu o inquérito e indiciou o PM Fernando Marcos e sua esposa, Keila Bonde. Depois, o Ministério Público denunciou o casal. Fernando foi denunciado no artigo 158 (extorsão), parágrafo 1º, do Código Penal, por ter “constrangido a vítima mediante grave ameaça, com o intuito de obter para si indevida vantagem econômica, referente ao pagamento da quantia de R$ 500 mil, sob pena de divulgação de vídeo íntimo que mantinha em sua posse”.
Ele também foi indiciado no artigo 147 (ameaça), duas vezes, por ter ameaçado Amaro e seu assessor, Elder Sena. Já Keila foi indiciada no artigo 158 (extorsão), com a mesma alegação aplicada ao marido.
Amaro Neto chegou a ser ouvido em Juízo, em que alegou que “em tese teria sido vítima dos fatos”. Algumas peças do processo são públicas, como, por exemplo, às relativas aos depoimentos das “vítimas” e dos casal.
Em seu depoimento à Justiça no dia 1º de novembro de 2019, Amaro confessou ter tido um relacionamento amoroso com “a acusada Keila”, imaginando que ela fosse “livre e desimpedida”.
O deputado, que apresenta o Programa Balanço Geral, da TV Vitória, explicou que no dia dos fatos – 30 de novembro de 2018 – recebeu uma mensagem de Keila, via WhatsApp, em que a pedagoga dizia que estava meio atordoada e relatando que o seu marido teria descoberto o relacionamento “e a estaria atormentando”.
O depoimento de Amaro Neto pode ter sido decisivo para a absolvição do casal. Ele disse em Juízo que estava preocupado com a situação relatada por Keila. Por isso, pediu ao seu assessor Elder Sena que fosse até a casa da pedagoga e verificar a situação “no sentido apenas de sua preocupação com o estado emocional que Keila apresentava nas mensagens”.
Salientou que não falou com o marido da moça, o policial Fernando, no dia dos fatos e nem nos dias seguintes. Frisou que, embora tivesse mantido contato com o assessor enquanto Elder tinha ido até o local em que Keila estava, não sabe se o assessor estava em companhia do acusado Fernando e também não se recorda da conversa que manteve com o assessor naquela oportunidade.
Amaro Neto acrescentou que não chegou a falar com Keila por telefone ou pessoalmente naquele 30 de novembro de 2018 e nem mesmo na Polícia Civil.
À Justiça, Amaro Neto revelou que no momento em que recebeu a mensagem de Keila fez “uma interpretação dos fatos, mas no decorrer do tempo, hoje, possivelmente faria outra avaliação e análise das mensagens”.
O depoimento do assessor de Amaro, o advogado Elder Sena, também pode ter contribuído para a absolvição do casal. Ele disse em Juízo ter ido à casa de Fernando e Keila para verificar o estado emocional da moça. Revelou que, em dado momento, Fernando pediu para falar com o deputado por telefone. Frisou que em momento algum o PM Fernando pediu dinheiro ao deputado Amaro.
Elder Sena disse que havia uma viatura da Polícia Civil próximo à residência do casal, mas que os policiais não participaram ou ouviram a conversa dele com o PM Fernando. Informou que Fernando usou o seu (Elder) telefone para se comunicar com o deputado, mas ele (Elder) não ouviu nenhuma cobrança de valores do PM para com o deputado. Nesse item do depoimento, o assessor contradiz o deputado, que havia declarado que no dia dos fatos não conversou com o policial.
Elder Senna disse ainda que não ouviu o teor da conversa, podendo informar que foi coisa rápida, “mas não falaram sobre dinheiro”. Garantiu que Fernando não o usou “como intermediário pra extorquir” Amaro Neto. Segundo o assessor parlamentar, Fernando não disse se ia exigir dinheiro do deputado.
Os depoimentos de Amaro Neto e de seu assessor Elder Sena à Justiça são diferentes do que eles declararam na ocasião à Polícia Civil. À Polícia, eles acusaram Fernando e Keila de extorsão e ameaças.
Processados, Fernando e Keila acabaram absolvidos, conforme tramitação do processo. O julgamento ocorreu no dia 13 de dezembro de 2019. Em 18 de fevereiro de 2010, o Juízo da 3ª Vara Criminal de Cariacica comunicou à Superintendência de Polícia Técnico Científica o arquivamento do processo, com a informação da absolvição. No dia 22 de setembro deste ano, o Juízo informa na tramitação que o caso está “Arquivado Definitivamente CAIXA 990”.
Por conta do segredo de Justiça, os detalhes da sentença que absolveu Fernando e Keila não podem ser informados pelo Juízo, mesmo após o arquivamento do processo.