Dono de dois mandatos de deputado federal e um de estadual e de vereador, o médico Sérgio Vidigal (PDT) inicia nesta terça-feira (01/06) o sexto mês de seu quarto mandato como prefeito da Serra, o município mais populoso do Espírito Santo, com 527 mil habitantes.
Vidigal foi eleito para um cargo público pela primeira vez em 1988, ano em que a Constituição Federal foi promulgada. Assumiu uma cadeira na Câmara de Vereadores da Serra pelo mesmo PDT, partido ao qual se filiou por conta de sua admiração pelo ex-governador do Rio de Janeiro e do Rio Grande do Sul e um dos maiores líderes da esquerda brasileira, Leonel Brizola.
Ao completar 151 dias de trabalho, na segunda-feira (31/05), Sérgio Vidigal concedeu entrevista ao Blog do Elimar Côrtes em seu gabinete, na Serra/Sede. Ele fez uma avaliação dos primeiros meses deste seu quarto mandato e uma previsão do futuro:
“Meu compromisso é que, até 2023, a Serra seja uma cidade mais humana, inteligente, criativa e sustentável”, diz o prefeito.
Nesta entrevista, Vidigal anunciou a realização de concurso público que vai contratar mais 150 agentes para a Guarda Municipal, a contratação de 160 médicos, a digitalização de todos os processos administrativos no âmbito da Prefeitura, a conclusão da reforma de pelo menos 39 escolas, a sua preocupação com o déficit superior a R$ 334 milhões deixado no Instituto de Previdência da Serra pela gestão passada e ainda falou de política, lamentando que mais uma vez as eleições presidenciais de 2022 serão novamente polarizada entre direita X esquerda.
Uma trajetória vencedora na polícia
A trajetória política de Sérgio Vidigal começou em 11 de julho de 1988, quando decidiu ser um militante do PDT – atualmente está à frente da sua presidência Regional. Em novembro daquele ano, ele venceu sua primeira eleição para vereador da Serra para o exercício de 1989/1992. Atuou como subsecretário do Estado da Saúde em 1993, no governo Albuíno Azeredo.
Em 1994 foi eleito deputado estadual. Em 1996 foi eleito para o seu primeiro mandato de prefeito da Serra. Em 2000, foi reeleito no primeiro turno com 86% dos votos válidos da cidade.
Em 2006, candidatou-se a governador do Espírito Santo, em que perdeu para Paulo Hartung, que foi reeleito. Em 2007, atuou como titular da Secretaria de Políticas Públicas e Emprego, no Ministério do Trabalho, em Brasília, no governo do presidente Luís Inácio Lula da Silva.
Em 2008, novamente participou das disputas eleitorais como candidato a prefeito da Serra, vencendo com 94,21% dos votos válidos, em primeiro turno, sendo o mais votado do País.
Em 2014 disputou vaga na Câmara dos Deputados, sendo eleito o deputado mais votado do Espírito Santo com 161.744 votos. Somente na Serra foram 96.968 votos. Deixou a Câmara dos Deputados para assumir, em 1º de janeiro de 2021, o cargo de prefeito serrano.
Digitalização dos serviços públicos
Sérgio Vidigal entende que a pandemia do corononavírus (Covid/19) é o que faz a diferença para todos os gestores públicos. Pandemia que se iniciou em março de 2020 e que matou mais de 460 mil pessoas no Brasil – no Espírito Santo são quase 11 mil óbitos.
“Mesmo diante da dificuldade, que é o enfrentamento à Covid, estamos implantando as propostas discutidas com a população durante a campanha eleitoral do ano passado. Estamos realizando uma gestão conectada com a sociedade. Hoje, no âmbito da Prefeitura da Serra, pelo menos 30 serviços são entregues de modo on-line. É a digitalização da cidade. Hoje, o licenciamento para a uma obra sai em até 72 horas”, pontuou o prefeito.
Segurança Pública
Sérgio Vidigal tem investido na segurança pública. Ele vem ampliando o serviço de videomonitoramento, com a instalação de mais câmeras pelos bairros da Serra. São, segundo ele, 130 câmeras e até julho este número chegará a 160.
“O Cerco Inteligente estará em funcionamento em 40 dias. É preciso agir, porque o número de furtos e roubos de veículos tem crescido. Também ampliamos o número de agentes da nossa Guarda Civil Municipal. Quando assumi em janeiro, tínhamos apenas 95 agentes. Agora, chegamos a 153, com a convocação dos aprovados no último concurso. Estamos preparando um novo concurso para a contratação de agentes para a Guarda Municipal. Até o final deste ano o edital já estará sendo publicado. Pretendemos chegar a 300 agentes até o final deste mandato”, anunciou Sérgio Vidigal.
Logo no início da atual gestão, Vidigal deu posse a um grupo de novos agentes da Guarda Municipal, em solenidade realizada na Sala de Reuniões da Prefeitura. Os planos do prefeito para a segurança pública vão mais além. Ele quer criar no âmbito da Secretaria de Defesa Social a Guarda Municipal Comunitária e colocar o efetivo à disposição da sociedade durante 24 horas por dia.
Saúde vai ter agendamento on-line e mais 160 médicos
Sérgio Vidigal está reestruturando a Secretaria Municipal de Saúde com a finalidade de facilitar o acesso mais rápido da população às consultas e exames. Para isso, o Município vai contratar mais 160 médicos, por meio de empresa terceirizada que ficará responsável pela escolha dos profissionais.
Os médicos serão contratados por meio de pejotização – CNPJ. Serão 80 médicos para atuarem nas UPAs (Unidades de Pronto Atendimento); e outros 80 para trabalhar nos Postos de Saúde. Já se encontra em andamento processo seletivo para contratar outros profissionais para a área da saúde, como enfermeiros e técnicos de enfermagem.
“Vamos implantar o agendamento on-line, para tornar mais célere a marcação de consultas. Para isso, é preciso reestruturar as unidades de saúde, com a contratação de mais profissionais. Pretendemos acabar com as filas. Estamos também remontando o nosso Centro de Especialidades. Quando eu deixei o cargo de prefeito, em 2012, o ‘Centro’ tinha 52 especialidades médicas. Hoje, são apenas 13”, lamenta o prefeito. A Serra conta com 39 Postos der Saúde, três UPAs e seis Policlínicas.
Maior desafio é recapitalizar o Instituto de Previdência da Serra
O calcanhar de Aquiles do prefeito Sérgio Vidigal nesses primeiros seis meses de administração encontra-se nas finanças do Instituto de Previdência da Serra (IPS). Logo no início da gestão, Vidigal encontrou falhas graves que resultaram em desorganização administrativa e desequilíbrio financeiro do IPS. Há, segundo o prefeito, um déficit de pelo menos R$ 334 milhões no caixa do Instituto, o que pode levar o IPS ao colapso em apenas seis anos.
“A gestão passada (do então prefeito Audifax Barcelos) reduziu a alíquota patronal e acabou com o Plano Financeiro FUNFIN (Fundo de Financiamento), em 2013”, lamentou Vidigal.
Criado em 2005, pelo próprio Sérgio Vidigal, o FUNFIN era responsável por cerca de 30% da receita do IPS e funcionava como suporte para garantir equilíbrio financeiro ao Instituto nas duas décadas seguintes.
De acordo com o prefeito, a alíquota patronal foi reduzida de 22% para 17%. “A saída que temos é aumentar a alíquota patronal e voltar com o Fundo. Este ano ainda teremos que capitalizar o Instituto, nem que para isso tenhamos que fazer leilão de bens da Prefeitura. Sem dúvida, nosso maior desafio é recapitalizar o Instituto de Previdência, que hoje deveria estar com R$ 1 bilhão em caixa. O cenário é difícil e, como está, teremos dificuldade no futuro de garantir o pagamento dos aposentados e pensionistas. Vamos encontra uma solução”, afirma Vidigal.
O prefeito diz que a Prefeitura da Serra tem hoje um superávit em suas finanças, graças aos R$ 86 milhões repassados pela União aos Municípios brasileiros devido à pandemia da Covid/19. Os recursos financeiros da Prefeitura são, segundo Sérgio Vidigal, para garantir a realização das obras:
“Em termos de recursos, são R$ 42 milhões para novas obras e R$ 76 milhões para a conclusão das 32 que estão em andamento. Mas este ano ainda teremos que pagar R$ 59 milhões referentes a operações de crédito feitas pelo Município”, disse Vidigal.
Fortalecimento do turismo e da cultura
Incrementar a economia, fortalecendo, sobretudo, o turismo e a cultura, entrou também no radar de Sérgio Vidigal. Para incrementar a atividade econômica, o prefeito pretende elaborar Projeto de Lei e enviar à Câmara Municipal, visando a redução de alíquotas do ISS de alguns setores e, se for o caso, aumentar de outros.
“A Serra tem ativos culturais e ambientais muito positivos. É preciso adotar políticas para fortalecer o nosso turismo e a cultura”, disse Vidigal.
Vidigal já reformou 39 escolas desde janeiro
A Serra possui 141 estabelecimentos de ensino da Rede Pública Municipal e 70 mil alunos. É a cidade com o maior número de escolas públicas municipais no Estado. Desde janeiro deste ano, a gestão Sérgio Vidigal reformou 39 escolas:
“Além da reforma física, estamos também informatizando nossas escolas. Os estabelecimentos de ensino da Serra serão padronizados. Nossos alunos não puderam ter aulas virtuais nessa pandemia, porque nossas escolas não eram informatizadas. Mas estamos mudando essa realidade”, frisou Sérgio Vidigal.
Um brizolista modernizado e atualizado
O prefeito Sérgio Vidigal nunca escondeu sua admiração pelo ex-governador Leonel Brizola. Vidigal, no entanto, se diz um “brizolista modernizado, atualizado”, por entender que muitas das bandeiras defendidas por Brizola, no passado, têm que ser revistas. Leonel Brizola morreu em 21 de junho de 2004, no Rio.
“O mundo evoluiu. Eu não sou favorável a um Estado grande. É preciso buscar ajuda junto ao terceiro setor. O gestor público é, na verdade, o síndico de um orçamento com a missão de reduzir as desigualdades sociais, oferecendo à população uma melhor saúde, educação, segurança pública”, explica Vidigal.
O prefeito garante, entretanto, que o PDT, partido ao qual sempre pertenceu, jamais abandonará as bandeiras de defesa das minorias. Sérgio Vidigal defende a privatização de alguns setores, porém, acredita que um País não pode abrir mão de manter o controle de atividades como a energética e o saneamento básico:
“O Estado pode e deve buscar parcerias, mas jamais entregar setores essenciais à iniciativa privada. Do contrário, a tarifa social, em algumas atividades, não vai ser respeitada”, diz Vidigal.
O prefeito cita os exemplos que vêm da Europa, em que países como a França e Alemanha já começam a preparar programas para reestatizar os serviços de saneamento básico, algo que vem sendo seguindo por outras nações.
“Veja o caso do transporte coletivo. Sem subsídio do poder estatal, fica difícil a sua existência. Na Europa, os países têm a política de subsidiar o transporte coletivo Aliás, em algumas cidades, as pessoas recebem até dinheiro para andar de ônibus, como forma de incentivar a redução do número de veículos nas ruas. Saneamento básico, energia, transporte são setores em que as populações mais carentes sempre vão precisar da ajuda do poder público para ter acessos aos serviços”, explica Vidigal.
Vidigal prevê eleição presidencial polarizada
Sérgio Vidigal está meio cético em relação ao que o Brasil poderá vivenciar nas eleições presidenciais de 2022. Ele entende que Ciro Gomes, ex-governador do Ceará, é o candidato natural do PDT. No entanto, acredita que a candidatura de Ciro poderá acabar se esvaziando por conta do petista Lula, que foi liberado pelo Supremo Tribunal Federal para voltar a disputar uma eleição, depois que a Corte anulou duas de suas condenações relativas a acusação de corrupção no âmbito da Operação Lava Jato – Lula terá que ser julgado pela Justiça Federal do Distrito Federal e não do Paraná:
“A proposta do nosso partido (PDT) deveria ser mais de centro, porque a esquerda está com Lula; e, a direita, com o presidente Jair Bolsonaro. O País precisa de propostas em que o desenvolvimento social e a economia caminhem juntos. A candidatura do Ciro (Gomes) é esvaziada com a candidatura do Lula. O Ciro não incorpora o centro, que, por sua vez, precisa ser propositiva. Teremos, pelo que percebo, uma eleição polarizada”, lamenta Sérgio Vidigal.