O delegado de Polícia Civil Leandro Piquet de Azeredo Bastos teve que vir a público, nesta quarta-feira (22/04), para se manifestar a respeito do que ele chama de “primeira fake news” na disputa das eleições municipais de Vitória deste ano. Piquet, que já ocupou cargos importantes na estrutura do Executivo do Estadual e na própria instituição policial, decidiu ser pré-candidato a vereador pela capital capixaba e, por isso, teve que se desincompatibilizar do cargo de delegado.
Leandro Piquet desmente e repudia com veemência reportagem feita pelo jornal eletrônico Folha do ES, de Cachoeiro de Itapemirim, postada na noite de terça-feira (21/04), com o seguinte título: “Delegado ameaçou atirar em motoristas por atrapalhar ensaio fotográfico da esposa”.
Aliás, o próprio motorista com quem houve a discussão, Marcos Toniato Gonçalves, negou, em depoimento à Corregedoria Geral da Polícia Civil, ter sido ameaçado de morte, ao declarar que não viu nenhuma arma cio o delegado. E salientou que não houve nenhum tipo de agressão.
O texto da citada reportagem aborda uma confusão ocorrida na Praça dos Desejos, na Praia do Canto, entre Leandro Piquet e o motorista de ônibus de aplicativo – tipo Uber –, identificado como Marcos Gonçalves, da Viação Águia Branca. O ônibus de Marcos faz parte de uma frota que realiza viagens para outros Estados, em que as passagens são adquiridas por meio de aplicativos. A Águia Branca é dona do aplicativo de transporte coletivo V1.
Diariamente, ônibus da empresa ficam estacionados irregularmente, sem ser incomodados pela fiscalização da Prefeitura Municipal de Vitória ou por agentes de Trânsito da capital, numa área que vai do MacDonald até Posto Escola, em plena avenida Saturnino de Brito, em frente à Praça dos Desejos, na Praia do Canto. Portanto, uma área sem estacionamento.
Os ônibus da Águia Branca ficam em local não permitido. Ficam parados na pista. Os motoristas param os ônibus param os passageiro emparcarem e ou desembarcarem. Desta forma, eles acabam impedindo carros de passeio a entrarem na área que, efetivamente, é estacionamento.
Eram 4h30 o dia 18 de dezembro de 2019, quando o delegado Leandro Piquet e sua esposa, então grávida de nove meses, foram à Praia do Canto para uma sessão de fotos. O casal queria registrar os últimos dias de gravidez.
Eles já tinham registrado fotos e outros locais do bairro. Faltava a Praça dos Desejos. Quando chegou ao local para ter acesso à área do estacionamento da praça, Leandro Piquet não pôde passar, pois o motorista Marcos havia fechado a entrada. O delegado teve que pegar outra entrada. Na volta, passou por Marcos e pediu ao motorista da Águia Branca que “ajeitasse” o ônibus para não atrapalhar outros veículos. No que Marcos teria respondido: “Não vou ajeitar porra nenhuma”.
O motorista Marcos ainda sugeriu a Piquet que cortasse pela direita. O delegado respondeu que, se fizesse isso, estaria descumprindo a Legislação de trânsito e estaria atrapalhando o desembarque dos passageiros.
“Eu me identifiquei como delegado de Polícia e disse que o motorista qe ele estava errado e, ainda por cima, cometendo desacato. Eu liguei para o Ciodes, mas nem a Polícia Militar e nem os agentes de Trânsito do Município foram ao local. Os demais motoristas da Águia Branca se aglomeraram ao meu lado e preferi ir embora para a Delegacia da Praia do Canto, onde eu era o responsável pela unidade, aguardar que a PM conduzisse o rapaz até a unidade. O que acabou não acontecendo. Eu comuniquei o fato à Chefia de Polícia, à Corregedoria, à minha chefia imediata e ao Sindicato dos Delegados de Polícia. Todos acompanharam a ocorrência na Corregedoria”, afirmou Leandro Piquet.
Motorista da Águia Branca nega em depoimento ter sofrido agressão e diz que não viu nenhuma arma com o delegado
Em depoimento à delegada Karina Sanz Regattieri Balarine, da Divisão de Crimes Funcionais da Corregedoria Geral da Polícia Civil, o motorista Marcos Toniato Gonçalves disse que naquela manhã do dia 18 de dezembro de 2019 estava conduzindo um ônibus da Águia Branca e parou na pista da avenida Saturnino de Brito, fechando a entrada do estacionamento da Praça dos Desejos, para que os passageiros desembarcassem.
Alegou que havia mais carros no local e, por isso, parou do outro lado, que estava vazio. Disse que um indivíduo o abordou, com o dedo apontado para o seu rosto, dizendo: “Da próxima vez você estaciona direito”. Segundo ele, o homem se alterou, dizendo que estava com a esposa grávida no carro e que o motorista do ônibus havia trancado o carro dele, impedindo-o de seguir em frente.
Neste momento, o motorista Marcos disse para o delegado Leandro Piquet que passasse pela direita. O delegado, porém, alegou que não passou pela direita porque estaria cometendo infração de trânsito e que os passageiros estavam desembarcando.
O motorista da Águia Branca disse que neste momento a discussão aumentou e que ele chegou a peitar Leandro Piquet. Foi aí que Piquet se identificou como delegado de Polícia e que poderia prender o motorista por estar agindo de maneira irregular no local.
Segundo o motorista Marcos, os passageiros se aproximaram do local da discussão e, em seguida, o delegado se retirou junto com a esposa. Marcos disse que procurou a Corregedoria Geral de Polícia Civil, acompanhado do advogado Rodolpho Alexandre Lellis de Aguiar, por entender que o “delegado agiu com abuso de autoridade”.
No entanto, o motorista Marcos entrou em contradição na Corregedoria sobre o “abuso de autoridade”. Perguntado pela delegada Karina Balarine se possuía alguma lesão, respondeu “não”, por não ter ocorrido nenhuma agressão física. Indagado se o delegado Piquet sacou a arma, Marcos também respondeu que não. D
isse que entrou em contato com o Centro Integrado de Operações e Defesa Social (Ciodes) quando Piquet deixou o local. Revelou que a atendente do Ciodes perguntou se o delegado estava armado, no que o motorista Marcos respondeu acreditar que sim, porém, em seguida, no mesmo depoimento, o motorista da Águia Branca disse não ter visto arma de fogo.
Carreira de trabalho na Polícia Civil
O delegado Leandro Piquet tem ido uma atuação bastante profícua como servidor público do Estado do Espírito Santo. Atua não só como delegado de Polícias, mas também e outras funções para as quais foi designado. Ele tomou posse como delegado 18 de abril de 2012.
No primeiro governo de Renato Casagrande (2011/2014), Piquet foi o diretor do Instituto de Atendimento Sócio-Educativo (Iases). Lá, ele auxiliou na ampliação das atividades socioeducativas, triplicando o número de adolescentes nos espaços pedagógicos. Foi também o responsável pela organização do Iases, permitindo a extinção das rebeliões provocadas por adolescentes em conflito com a lei que cumprem penas em meio fechado, situação que se perdura desde setembro de 2015.
No governo seguinte, o delegado Leandro Piquet foi subsecretário de Estado de Integridade Governamental e Empresarial, da Secretaria de Controle e Transparência. Na função, ele instituiu novo procedimento investigativo voltado para a identificação de fraudes e corrupções praticadas por Pessoas Jurídicas contra a Administração Pública e elaborou um inovador fluxo de trabalhos que permitiu a Seconte a tornar-se referência no cenário nacional e ser eleita, em 2017, como a instituição mais lembrada do País quando o tema é o combate à corrupção A Pasta recebeu o prêmio TOP OF MIND durante o 5º Congresso Internacional de Compliance.
Na condição de corregedor-geral do Estado, Piquet foi responsável por aprimorar os trabalhos do Sistema de Correição do Poder Executivo do Estado do Espírito Santo (SISCORES) e, em especial, nas tarefas destinadas à repressão e prevenção à corrupção, enriquecimento ilícito e prejuízo ao erário.
“Talvez eu seja um dos primeiros pré-candidato a vereador de Vitória vítima de fake news, vítima de notícias falsas publicadas por um portal de notícias do Estado”, disse Leandro Piquet.