A Diretoria de Saúde da Polícia Militar deu início ao Projeto de Prevenção em Saúde Militar (PPSM). Policiais e bombeiros militares – praças e oficiais – de todas as unidades do Estado terão de ser submetidos à avaliação médica. A PM e o Corpo de Bombeiros tentam, assim, reduzir o número de óbitos registrados nas duas corporações provocados por doenças cardiovasculares.
É que o resultado parcial de um estudo realizado por pesquisadores do Departamento de Ciências Farmacêuticas e do Departamento de Estatística da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) indicou que a média de idade de óbitos de policiais militares e bombeiros militares em solo capixaba é de 58,66 anos.
O documento foi apresentado ao Comando-Geral da PM em março de 2019. Nesta idade, os policiais já estão aposentados. Mais uma constatação que operadores da segurança pública necessitam de uma aposentadoria especial.
Por isso, o objetivo do Projeto de Prevenção em Saúde Militar (PPSM) é identificar de modo proativo os policiais e bombeiros militares que apresentam fatores de risco cardiovascular instalado. Mais de 3 mil policiais militares vão passar pelas avaliações em 2019.
O grupo de estudos da Ufes, coordenado pela professora Karla Sampaio, analisou 2.145 atestados de óbitos que deram entrada na Caixa Beneficente dos Militares Estaduais do Espírito Santo (CBMEES) para fins de recebimento de pecúlio-benefício pago aos herdeiros legais do contribuinte.
A pesquisa, que ainda está em andamento, estudou as mortes ocorridas entre os anos de 1988 a 2018 e descobriu que a maioria delas está relacionada a doenças do coração favorecidas pelo estresse profissional. Outras pesquisas já indicaram que a carreira policial é uma das mais estressantes do mundo.
Dentre as principais causas de mortes estão as cardiovasculares (30,35%); as causas externas, a exemplo de mortes violentas (26,81%); e as neoplasias (15,15%). Foi verificado ainda que, do total dos óbitos investigados, 97,76% eram policiais militares; 99,35% eram militares do sexo masculino; e 43,22% eram soldados ou cabos.
Projeto de Prevenção em Saúde Militar
A capitã BM Fernanda Camargo Damasceno faz parte do Grupo de Saúde Itinerante da Diretoria de Saúde, responsável por percorrer todas as unidades da PM e do Corpo de Bombeiros nos 78 municípios capixabas. Ela é coordenadora de Logística do Grupo. O grupo, na verdade, existe há 25 anos acompanhando a saúde dos militares.
Desta vez, porém, as ações se tornaram mais sistematizadas, pois o resultado da pesquisa da Ufes preocupa o Comando das duas corporações. Antes, o Grupo de Saúde Itinerante, que integra o PPSM, visitava os Batalhões e acabava atendendo mais os policiais e bombeiros militares das áreas administrativas. O foco, a partir de agora, no entanto, serão os profissionais da área operacional.
Os policiais e bombeiros serão convocados de acordo com cronograma. Cada grupo convocado passará por uma palestra de sensibilização e a uma avaliação primária. O intuito de avaliar o perfil de risco cardiovascular dessa população ocupacional é realizar os encaminhamentos necessários ao tratamento precoce.
No dia 23 de abril deste ano, durante a abertura do projeto para os militares do 6° Batalhão da PM (Serra), 4° BPM (Vila Velha), Batalhão do Meio Ambiente e do Corpo de Bombeiros, o diretor-adjunto de Saúde da PMES, tenente-coronel Carlos Alberto Bariani, explicou as metas do PPSM, as melhorias recebidas pelo Hospital da Polícia Militar e as orientações sobre o uso dos serviços prestados pelo HPM.
Em 2019, as Unidades previstas para serem atendidas no PPSM serão o 4°, 6° e 7° Batalhões; 11ª, 13ª e 14ª Companhias Independentes; Batalhão de Polícia Militar Ambiental (BPMA), Regimento de Polícia Montada (RPMont); Companhia Independente de Missões Especiais (Cimesp), Quartel de Comando-Geral e Diretoria de Saúde.
O programa piloto foi realizado em 2018, sendo recebidos 927 militares do 1º Batalhão, da 12ª Companhia Independente e do Batalhão de Polícia de Trânsito (BPTran). A partir de 2020 será traçado o calendário de atendimentos das Unidades do interior do estado.
Farmacêutica e bioquímica, a capitão BM Fernanda explicou também que o trabalho inicial é a prevenção primária, para que os profissionais que compõem o projeto possam prevenir a doença antes do seu aparecimento. Ao mesmo tempo, o grupo faz o acompanhamento. Uma vez detectada a doença, vem a prevenção secundária.
Todos os casos estão sendo registrados, iniciando, assim, uma série história para que no futuro a PM e o Corpo de Bombeiros possam fazer uma análise mais profunda e adotar outras políticas, caso haja necessidade.
O mais importante, porém, é a identificação dos fatores de risco, como colesterol alto, por exemplo, para que os policiais não possam desenvolver doenças crônicas. De acordo com a capitã Fernanda, a tropa está recebendo bem as orientações.
“Dois policiais retornaram até o nosso grupo bem mais felizes, pois perderam peso e as taxas do exame de sangue melhoraram”.
A equipe, entretanto, não pode cruzar a linha da ética médica. De acordo com Fernanda, os militares têm o direito de optar pelo tratamento, caso haja descoberta de alguma doença. Todavia, uma coisa é certa: os policiais são escalados para ouvir palestra e obrigados a participarem das ações preventivas.
Uma frase que marcou os profissionais da Diretoria da Saúde foi dita pela professora Karla Sampaio, responsável pelo estudo que descobriu as causas das mortes de policiais e bombeiros militares. “Vocês estão com a causa da morte, que é evitável”.
E toda a Diretoria de Saúde se debruçou sobre os projetos de prevenção e estão agindo. Neste ano de 2019, acontecerão ações do projeto em todas as unidades da PM e do Corpo de Bombeiros da Grande Vitória. Em 2020, as ações acontecerão nas demais regiões do Estado.
O resultado de que maior parte dos militares capixabas morre com 58 anos de idade surpreendeu a Diretoria de Saúde. Médicos e técnicos da unidade imaginavam que a idade média era de 65 anos.
(Com informações também do Portal da PMES)