Considerado a menina dos olhos do ainda comandante geral da Polícia Militar do Espírito Santo, coronel Ronalt Willian, o Regimento de Polícia Montada (RPMont) é uma unidade da corporação em que o Ministério Público Estadual e os órgãos de controle do governo do Estado e de defesa dos animais deveriam voltar suas atenções. Em dois anos, pelo menos 21 cavalos integrantes da equipe do RPMont morreram. Na maioria das vezes, por falta de zelo e descaso dos comandantes da unidade. O efetivo do Regimento Montado é de é 117 militares e 120 animais. Ao final deste reportagem a lista dos 21 animais mortos, seus nomes, número e motivo do óbito.
A série de irregularidades não para aí. Recentemente, o RPMont mandou a leilão oito cavalos, sob o pretexto de que possuem “má índole”. Na verdade, informam oficiais e praças ouvidos pelo Blog do Elimar Côrtes, os animais foram “expulsos” da unidade porque não tinham habilidade para a prática do hipismo e jamais foram domesticados pela tropa, embora tenham nascido dentro do quartel.
Em seu site na internet, a Polícia Militar do Espírito Santo informa que o “Policiamento Montado vem mostrando-se cada vez mais necessário como uma das mais eficientes e eficazes formas de prevenção de delitos. O apoio do Policiamento Montado é de suma importância para o policiamento ostensivo no que tange ao seu ponto de visão privilegiada, velocidade de deslocamento e economia. Por isso a Cavalaria também é empregada em eventos de vulto com intensa aglomeração de pessoas, como apoio tático às operações policiais militares e no controle de distúrbios civis, quer seja na área urbana ou em locais de conflitos rurais.”
E garante mais: “O Regimento de Polícia Montada vem desde 1992 procurando servir da melhor forma possível a sociedade Capixaba, seguindo a máxima de que ‘Sempre haverá uma cavalaria’, para assegurar sua liberdade e direitos.”
“Mas não é isso que acontece. Se depender do atual Comando Geral da Polícia Militar, o Regimento Montado vai se transformar numa grande equipe de competição de hipismo. Nossa missão seria trabalhar para a população e não participar só de competições”, diz um oficial da unidade, que reprova a conduta imposta ao RPMont pelo ainda comandante geral da PM, coronel Ronalt Willian, que entrega o cargo nesta sexta-feira (17/05) ao coronel Edmilson dos Santos.
“Nossa esperança é que o coronel Edmilson, que pensa a segurança pública num todo, mude definitivamente essa mentalidade”, completou outro oficial ouvido pelo Blog do Elimar Côrtes.
Para um Regimento que trabalha em média com 120 animais, a morte de 21 deles chama atenção. Não só pelas mortes em si, mas com a forma com que os cavalos morrem. A maioria teve de ser sacrificada, o que o Comando do RPMonte chama de “eutanásia”.
Embora seja uma unidade que atua somente com cavalos – e pessoas também–, o relaxo para com os animais é algo que deveria chamar a atenção dos órgãos de defesa dos animais e do Ibama. Muitos foram atropelados depois de fugir da fazenda do RPMMonte; ou outro cavalo morreu com vermes nos cascos, adquirida por falta de limpeza e medicação.
E teve ainda um caso pitoresco: em 6 de dezembro de 2011, o cavalo chamado Dominantem, de número 121, morreu de cólica intestinal por excesso de ração ingerida pelo eqüino. Com forme, ele fugiu da baia e invadiu o cômodo improvisado onde era guardada a ração. De acordo com a portaria 011/2011 do RPMont, o óbito ocorreu “em circunstâncias não plenamente esclarecidas” ;
“Os inquéritos (Portarias) abertos pelo RPMonte dificilmente chegam a um lugar oficial: geralmente, os animais morrem por circunstâncias não plenamente esclarecidas. Mas quem está lá dentro sabe muito o motivo das mortes”, comentou um integrante da unidade.
Conforme este Blog informou em primeira mão, o Regimento de Polícia Montada da PM está de quarentena desde o dia 25 de abril por causa do “Mormo”, que é uma doença letal para o cavalo e para os seres humanos. Há seis animais contaminados, segundo exames laboratoriais. Os animais contaminados, em vez de sacrificados, foram doados ao Ministério da Agricultura para experiências.
A doença foi descoberta em alguns dos animais que a PMES comprou em Pernambuco. Esses animais acabaram contaminando equinos que já estavam no RPMont.
Pior: participaram de uma competição de hipismo, em abril aqui em solo capixaba, durante festejos pelo aniversário da Polícia Militar com equinos de outros estados e do Exército, que podem, assim, também ter sido contaminados.
Os animais adquiridos em Pernambuco não foram sequer submetidos a exames antes de chegar ao Espírito Santo, embora veterinários do RPMonte já tivesse detectados que alguns dos cavalos já apresentavam sintomas do “Mormo”, pois estariam “babando” em demasia.
Os médicos veterinários do RPMont tinham ciência de que os eqüinos estavam com a doença, mas a tropa não teria sido alertada para os perigos e, por isso, nenhuma medida de proteção foi adotada. Um sargento da unidade ficou doente, com pneumonia – um dos sintomas do Mormo –, mas está se recuperando bem depois de ficar internado no Hospital da Polícia Militar.
Os empregados da empresa Prisma – que presta serviço de limpeza e alimentação dos eqüinos de forma terceirizada – continuam trabalhando sem qualquer tipo de proteção, mesmo com a interdição do IDAF.
A doença foi subestimada pelo Comando do RPMont, não havendo nenhuma iniciativa para a contenção da doença, como por exemplo o isolamento de eqüinos sabidamente doentes dos sadios.
O próprio esquema de distribuição de água potável aos eqüinos, em que cada baia divide a mesma água com outras três baias, é um exemplo da potencialização da proliferação da doença, o que pode ter contribuído para a infecção de cavalos que são nascidos no RPMont.
Oficiais e praças descontentes como o RPMont vem sendo administrado nos últimos anos relatam ainda que o descarte de animais nascidos na unidade é uma forma de se promover uma “limpeza genética” para que o Regimento tenha, no futuro, somente animais habilitados para hipismo.
Os oito animais leiloados recentemente são crias de cavalos do RPMont. Não geraram custo para a compra, mas foram leiloados sob o pretexto de que apresentavam índole (comportamento) incompatível para a montaria.
Porém, de acordo com praças e alguns oficiais lotados na unidade, nunca houve um trabalho de doma nesses eqüinos, sendo impossível confirmar que a índole deles era incompatível à montaria.
Existem muitos outros eqüinos nas dependências da fazenda do RPMont que nunca foram sequer montados, sendo assim não haveria a necessidade do governo do Estado ter liberado cerca de R$ 725 mil para a compra de novos cavalos.
Por isso, salientam alguns oficiais e praças, houve um trabalho de “limpeza genética” com o intuito de criar-se no RPMont uma tropa de cavalos apropriados para o hipismo. Exemplo disso é que os animais adquiridos em Pernambuco em 22 de março deste ano são da linhagem do cavalo Baloubet Du Rouet, tricampeão da Copa do Mundo de Hipismo em 1998 a 2000.
O Boletim Geral da Polícia Militar nº 041/2012, em sua página 9.736, traz o nome dos animais levados à leilão sob os pretextos de baixa altura – mesmo tendo sido empregado no policiamento diário – e índole, mesmo não tendo jamais sido domesticados. Os animais são: Galeno – n.º 222; Jacarta – n.º 244; Jarda – n.º 247; Juma – n.º 248; Luma – n.º 255; Land Rover – n.º 256; Mustang – n.º 262; e Nago – n.º 273.
Óbito de eqüinos no RPMont
Boletim Interno (BI) RPMont 029/2011 de 21/07/2011
Chanceler – n.º 068 – Estabulado no RPMont – Eutanásia devido a estágio avançado de câncer no reto.
Corveta – n.º 044 – Fazenda de Bubu – Causa óbito desconhecida.
Faceiro – n.º 193 – Em serviço no bairro Nova Rosa da Penha – Eutanásia devido a trauma na cabeça proveniente de queda quando em serviço.
BI RPMont 038/2011 de 22/09/2011
Esteio – n.º 140 – Em treinamento no RPMont – Eutanásia devido a fratura exposta de membro anterior.
Naja – n.º 278 – Causa óbito desconhecida.
Noroeste(comprado em 23/08/2010 através de Licitação de nº 320737) – n.º 294 – Causa óbito desconhecida.
BGPM 011/2012 de 22/03/2012 página 2437
Flamejante – n.º 181 – Fazenda de Bubu – Eutanásia devido a vermes nos cascos do eqüino, que comprometeram os membros, devido à falta de limpeza e medicação nas patas do equino.
Granada – n.º 156 – Fazenda de Bubu – Eutanásia devido a vermes nos cascos do eqüino, que comprometeram os membros, devido à falta de limpeza e medicação nas patas do equino.
Dominante – n.º 121 – Óbito registrado em 06/12/2011 – Estabulado no Guaracamping, durante policiamento montado em Guarapari – Cólica devido ao excesso de ração ingerida pelo eqüino, que fugiu da baia e invadiu o cômodo improvisado onde era guardada a ração. De acordo com a portaria 011/2011 do RPMont, o óbito ocorreu “em circunstâncias não plenamente esclarecidas” .
BGPM 020/2012 página 4635 e 4770
Enlace – n.º 141 – Fazenda de Bubu – Causa óbito desconhecida.
Impossível – n.º 233 – Em serviço no bairro Rosário de Fátima (Bairro de Fátima, na Serra) – Eutanásia devido a fratura de membro anterior, proveniente de atropelamento por um carro na via principal do bairro. Havia determinação por parte do Cmt do RPMont de que o policiamento seria pela via principal do bairro, mesmo havendo o questionamento dos policiais acerca do risco que havia no emprego do policiamento somente por essa via.
Luana – n.º 257 – Empregada em serviço diário no RPMont – Óbito devido a compactação do intestino. Foi operada no hospital veterinário da faculdade UVV, porém não sobreviveu.
BGPM 030/2012 página 7275
Cangaceiro – n.º 092 – Em serviço no bairro Jardim Carapina – Óbito em circunstâncias naturais, provavelmente um ataque cardíaco que o acometeu no meio da rua.
BGPM 047/2012 – página 11089
Monalisa – n.º 263 – Fazenda de Bubu – Óbito ocorrido em 30/08/2012 devido a atropelamento na Rodovia do Contorno, depois que o eqüino fugiu das dependências da fazenda do RPMont.
Nativa – n.º 267 – Fazenda de Bubu – Óbito ocorrido em 30/08/2012 devido a atropelamento na Rodovia do Contorno, depois que o eqüino fugiu das dependências da fazenda do RPMont.
Ninja – n.º 279 – Fazenda de Bubu – Óbito ocorrido em 30/08/2012 devido a atropelamento na Rodovia do Contorno, depois que o eqüino fugiu das dependências da fazenda do RPMont.
Nanquim – n.º 282 – Fazenda de Bubu – Óbito ocorrido em 30/08/2012 devido a atropelamento na Rodovia do Contorno, depois que o eqüino fugiu das dependências da fazenda do RPMont.
BGPM 047/2012 – página 11090 – Portaria 010/2012 – Causa óbito eqüino
Naval (comprado em 23/08/2010 através de Licitação de nº 320737) – n.º 307 – Eutanásia devido a rompimento dos pontos cirúrgicos na barriga do eqüino, o que levou à queda de todas as vísceras do animal no chão. Equino foi operado no Centro Médico Veterinário da UVV devido a compactação do intestino e foi-lhe prescrito por veterinários da faculdade internação por cinco dias. No entanto, o Comando do RPMont determinou o recolhimento do animal ao quartel e, quando os veterinários do RPMont colocaram o referido animal no “tronco” para trocar os curativos, o cavalo esforçou-se demasiadamente vindo a romper-lhe os pontos. Foi instaurada a Portaria n.º 010/2012 para apurar a veracidade de uma informação da equipe de militares – que à época realizavam a alimentação dos eqüinos – de que a água dos chochos estava suja. Porém, a Portaria foi arquivada sem determinar “a causa do óbito”. Informações dão conta que na mesma época foi recebido no RPMont um carregamento de feno mofado e que foi reprovado pelos veterinários do RPMont. Mas o comandante do Regimento teria determinado que os eqüinos fossem alimentados com o feno “mofado”.
BGPM 006/2013 – página 1173
Minerva – n.º 260 – Fazenda de Bubu – Causa óbito desconhecida.
BGPM 006/2013 – página 1174
Jambo – n.º 235 – Óbito registrado em 05/01/2013 – Estabulado no Guaracamping, durante policiamento montado em Guarapari – Cólica devido à compactação do intestino ocasionada pela não ingestão de líquido por parte do animal. Informação dos militares que trabalharam no local dão conta de que os eqüinos não ingeriam a água do poço cedido pela administração do Guaracamping, pois tinha gosto ruim. Instaurada a Portaria 001/2013 que apontou que a causa da cólica foi a falta de água ocasionada pela ruptura acidental de um cano de água pelos próprios eqüinos.
Nevado (comprado em 23/08/2010 através de Licitação de nº 320737) – n.º 311 – Óbito registrado em 05/01/2013 – Estabulado no Guaracamping, durante policiamento montado em Guarapari. Cólica devido à compactação do intestino ocasionada pela não ingestão de líquido por parte do animal. Informação dos militares que trabalharam no local dão conta de que os eqüinos não ingeriam a água do poço cedido pela administração do Guaracamping, pois tinha gosto ruim. Instaurada a portaria 001/2013 que apontou que a causa da cólica foi a falta de água ocasionada pela ruptura acidental de um cano de água pelos próprios eqüinos.
Nota do Blogueiro: Espera-se que após a publicação e repercussão desta reportagem que o Comando Geral da Polícia Militar, os órgãos de controle do Governo e Ministério Público Militar Estadual investiguem o mérito do que está sendo divulgado e não abram apenas procedimentos (sindicância, portaria ou inquérito) contra praças e oficiais ouvidos pelo Blog. E que se abstenham de intimar jornalista para depor em IPM. As autoridades têm que ouvir quem, de fato, voluntária ou involuntariamente contribuiu para as irregularidades mencionadas nesta reportagem e não se preocupar com quem vazou as denúncias. Que acertem diretamente o alvo.