O coronel da reserva da Polícia Militar, professor e pastor Júlio Cezar Costa está de novo no olho do furacão. Desta vez, com a missão de ser o interventor nas áreas administrativa, financeira e fiscal da Igreja Cristã Maranata. No dia 1º deste mês, a Justiça Estadual nomeou o coronel interventor. Desde então, ele não perdeu tempo. Na terça-feira (09/04), o coronel Júlio Cezar se antecipou e assinou uma escritura pública, registrada o Cartório Leonardo Azevedo, em Vila Velha, em que autoriza a Justiça a determinar a quebra de seus sigilos bancários, fiscais e telefônicos.
O coronel Júlio Cezar Costa fez história na Polícia Militar do Espírito Santo, onde foi um dos idealizadores da Polícia Interativa e criador do Programa de Planejamento de Ações de Segurança Pública (Pro-Pas).
O oficial, que foi para a reserva em 2011, é respeitado por praças e oficiais da Corporação, o que leva este blog – especializado em informações mais aprofundadas na área de segurança pública – ter tido a preocupação de conhecer melhor os problemas que o agora interventor da Igreja Maranata está encarando.
Blog do Elimar Côrtes – Por que o senhor assinou uma procuração pública, registrada em cartório, autorizando a Justiça a quebrar seus sigilos bancários, fiscais e telefônicos, mesmo que isso não seja necessário?
Coronel Júlio Cezar Costa – Meu interesse é ser transparente, porque honestidade é obrigação; não é um favor. O Poder Judiciário capixaba, sob a direção do desembargador Pedro Valls Feu Rosa, tem dado mostras de que a transparência é algo indispensável. Portanto, se sou colaborador da Justiça, como administrador judicial na Igreja Cristã Maranata, nada mais ético do que seguir a linha de transparência adotada pelo Tribunal de Justiça e, em especial, o juiz Marcelo Loureiro, que, usando de seus poderes constitucionais legais, nos confirmou, mesmo sem nos conhecer pessoalmente, mas talvez pelo histórico de nossa careira militar, a grande atribuição – certamente a maior que tive até hoje – para administrar uma organização do tamanho da Maranata, que congrega cerca de 2 milhões de pessoas no Brasil e no exterior.
– Como funciona a administração da Igreja Cristã Maranata?
– A igreja tem seu próprio estatuto, que completou 45 anos no dia 22 de janeiro e que estabelece a sua forma livre de organização com objetivo de evangelização dos povos através de um modo ético e espiritual, além de solidário, no apoio e na formação e educação da sociedade num ambiente evangélico.
– Os templos da Maranata em outros estados estão vinculados administrativamente ao Presbitério no Espírito Santo?
– A Igreja Maranata tem abrangência mundial, está presente em todos os continentes. No Brasil os melhores templos são administrados pelo Presbitério do Espírito Santo e em outros países, por vezes, temos igrejas filiadas e que seguem a doutrina espiritual cristã maranata, mas têm autonomia administrativa e financeira. Não se vinculam à igreja brasileira nesse quesito.
– Há uma semana como interventor da Maranata, o senhor encontrou alguma irregularidade?
– Não sou investigador nos atos de pretéritos da igreja, ou seja, dentro do Presbitério. Tenho a responsabilidade judicial de administrar por meio de atos de gestão nas áreas fiscal, financeira a patrimonial. O que posso assegurar é que quaisquer irregularidades serão providas em tempo real e nada ficará sem esclarecimento.
Digo que denúncias anônimas não me interessam, mas qualquer fato que tenha identificação e indício de ser ilegal ou irregular, será apurado com o mesmo rigor que sempre adotei em minha carreira militar.
– O interventor tem poder de Polícia?
– Tenho “múnus público”, ou seja, devo agir de acordo com os princípios constitucionais que regulam a administração, entre eles a publicidade e a impessoalidade.
– O senhor tem ligação com a família Gueiros (do pastor e presidente afastado da Maranata, Gedelti Gueiros)?
– Há 26 anos aproximadamente estou na Igreja Cristã Maranata e sempre estive presente nos seminários no Maanaim (local de retiro espiritual da igreja, que fica em Marechal Floriano), onde conheci não só o pastor Gedelti, mas alguns de seus irmãos e familiares.
Independente do momento pelo qual passa a igreja tenho por eles respeito, como uma família secular com tradição no evangelho no Brasil. É bom que se saiba que nunca precisei e nem tão pouco recebi qualquer manifestação dos membros da família Gueiros que não fosse ética e espiritual. Não tenho proximidades com nenhum membro da família, mas creio que com o tempo tudo será esclarecido e a Justiça será feita na forma da lei.
– Mas o senhor não tem proximidades com os Gueiros?
– Na igreja tenho proximidades com Deus, o Senhor de minha vida. Com a família Gueiros e com todos os líderes da Maranata sempre mantive uma relação de respeito e afinidade espiritual sem quaisquer dependências ou favores de modo recíproco.
–Depois da intervenção, o senhor já esteve com o presidente afastado Gedelti Gueiros?
– Não estive e enquanto durar a intervenção não poderei estar, visto que assinei um Termo de Compromisso Judicial que me obriga a não ser somente isento, mas também a não ter contato com nenhum dos investigados. Caso eu precise falar com um deles no exercício da função, vai ser através de ordem judicial.
– O senhor continua pastor da igreja?
– Continuo, não estou impedido de propagar aquilo que creio dogmaticamente. A mensagem da Igreja Maranata se baseia na pregação da Parúsia, ou seja, sobre a volta de Jesus Cristo, que nós, cristãos, chamamos de Arrebatamento da Igreja.
– O senhor fez alguma mudança na administração do Presbitério?
– Estou fazendo um diagnóstico em busca de conhecer todo funcionamento administrativo da igreja. Neste percurso, poderei e não me furtarei em fazer as mudanças que forem necessárias, sempre de forma ética e legal, com muito respeito à entidade da qual também sou membro, mas com segurança e dever de Justiça.
– O pastor Mário De Moraes foi seu advogado no episódio do Ciodes e agora o senhor administra, como interventor judicial, um problema que nasceu com denúncia dele. Como vai ser essa convivência?
– Há muito tempo não vejo o doutor Mário. O fato de ter sido meu advogado foi em decorrência de que o escritório Moraes & Barcellos tinha contrato com o Presbitério Espírito-Santense para a defesa dos interesses dos membros e da igreja.
Mas eu só descobri isso posteriormente. No momento em que ele se ofereceu para me defender, entendi que fosse de forma voluntária.
Não tenho nada contra o doutor Mário, o livre arbítrio nos permite fazermos nossas escolhas. Ele fez a dele e eu continuarei onde estou há 26 anos. Entendo isso como algo extremamente natural, sabendo, por princípio, que a quem acusa cabe o ônus da prova.
Sou colaborador da Justiça nesse processo de intervenção e não posso misturar sentimentos e emoção, pois a maturidade que adquiri na Polícia Militar me fez um homem acostumado a viver difíceis momentos.
– O senhor recebeu apoio de líderes religiosas e outras autoridades para assumir a intervenção administrativa na Maranata?
– Recebi, sim. E, principalmente, de pessoas comuns; de gente do povo. Uma quantidade muito grande de manifestação e apoio de todo o Brasil e também do exterior me foi enviada. Várias autoridades em todos os níveis também se manifestaram, demonstrando o interesse em que seja logo superado o momento pelo qual passa a igreja.
Percebo que pelo fato de estar sendo sido vítima nesse processo, a Maranata continua respeitada como sempre foi. Isso fortalece nosso trabalho e nos faz ainda mais responsáveis na busca do êxito de nossa gestão como administrador judicial.
– Houve mesmo desvio do dízimo da igreja?
– Repito que não posso negar o óbvio. A própria igreja, em janeiro de 2012, ingressou em Juízo requerendo o ressarcimento dos valores que para ela, através de procedimento administrativo, foram malversados, estando sob a égide da Justiça tal análise e decisão. Estimamos que cerca de R$ 2 milhões tenham sido malversados.
– O que aconteceu com o pastor Antônio Ângelo, ex-vice-presidente da Maranata, e o tesoureiro Leonardo Alvarenga?
– Contra eles a igreja ajuizou ações e espera decisão judicial. Não tenho que tecer juízo de valor. A igreja não é um tribunal, mas quem errou deve pagar. E se eles erraram, espero que paguem o que devem.