Cumprindo prisão domiciliar pela acusação de suposta prática de assédio sexual contra uma cabo, o coronel Carlos Rogério Gonçalves de Oliveira revelou que o veículo de sua esposa teria sido alvo de sabotagem. A conclusão da sabotagem estaria no Laudo Pericial número 2079/2012, assinado por dois peritos da Superintendência de Polícia Técnico-Científica da Polícia Civil do Espírito Santo.
Diante da informação, este Blog conversou com oficiais de altas patentes da Polícia Militar do Espírito Santo, que confirmaram a veracidade do fato, que teria ocorrido em 2012, onde o coronel Gonçalves reside e cumpre prisão domiciliar.
Preocupados com o desdobramento do fato – que foi tratado com certo desdém pelo Comando Geral da PM à época –, oficiais informaram que o temor pela segurança de Gonçalves e de seus familiares é procedente, “pois o carro do coronel já foi sabotado em Nova Venécia em maio do ano passado”, conforme falou um tenente-coronel.
O caso começou a ser apurado pelo então delegado de Polícia Civil de Nova Venécia, Vitor Manoel, que, inclusive, requisitou uma perícia no veículo. O Laudo Pericial n.º 2079/2012, assinado por dois peritos da SPTC, constatou “marcas de alicate no cabo do freio de mão, no magote de freio e no sensor do ABS” e concluiu “vestígios e avarias externas e intencionais de terceiro, em tentativa de eliminar a capacidade de frenagem do veículo. A intenção do autor era provocar a ausência total da capacidade de frear do veículo”.
A Polícia Civil, na ocasião, concluiu “por possível autoria praticada por militar contra militar, e pela forte suspeita de que a intenção do agente era matar a vítima, ou no mínimo assumindo tal risco pelo dolo eventual”. A conclusão foi encaminhada ao Comando Geral da Polícia Militar “para apuração minuciosa dos fatos.”
A informação sobre a sabotagem foi descoberta por este Blog no final de semana. Desde então, oficiais vêm sendo ouvidos e na terça-feira (19/03) o Blog do Elimar Côrtes teve acesso ao resultado do laudo pericial, passado por uma fonte ligada às investigações. Entretanto, os mesmos oficiais desconhecem se houve apuração e qual a conclusão.
Na manhã desta quarta-feira (20/03), o Blog do Elimar Côrtes ouviu o coronel Gonçalves, por meio de seu celular particular. Ele afirmou que realmente ocorreu a sabotagem e que mais uma vez ficou preocupado com a demora e pouca importância demonstrada por setores da PM. Gonçalves explicou como foi descoberta a tentativa de exterminar com ele e sua família:
“A sabotagem foi constatada na tarde de 16 de maio do ano passado. Usei o carro de minha esposa (Hyundai IX 35 prata) para ir ao Fórum de Nova Venécia onde tinha uma audiência. Ao parar na ladeira de acesso, senti que o freio estava muito baixo. Encostei o carro no meio fio e fui ao Fórum. Após a audiência fui até a Oficina do Marcão para dar uma regulada, pois viajaríamos para Vitória no dia seguinte. Quando o mecânico olhou o reservatório do fluído de freio viu que estava totalmente seco. Ao levantar o carro na rampa, constatamos que o magote do freio estava cortado. O dono da oficina me orientou a ligar para a autorizada (concessionária), pois o carro estava na garantia e aquela peça era de difícil aquisição em Nova Venécia”, disse o oficial.
Gonçalves entrou em contato com a concessionária: “Após o diálogo com a concessionária, ficou decidido que o carro seria guinchado para Linhares, que era a revendedora mais próxima. Ainda não sabíamos os motivos daquele problema. O atendente da Hyundai em Linhares ligou dizendo que o freio foi cortado e o sensor do ABS também, orientando a fazer uma perícia para comprovação”.
O coronel disse mais: “Em contato com o Delegado de Polícia Civil de Linhares, através do tenente-coronel Douglas (ex-comandante do Batalhão de Linhares e amigo do delegado Fabrício Lucindo), fui prontamente atendido e o perito foi até a concessionária. Após a constatação da sabotagem, inclusive por fotos, me ligaram de retorno afirmando que a intenção do sabotador era causar um grande acidente com o veículo e era para tomarmos muito cuidado. Ficamos muito abalados e preocupados. Fomos para Vitória no meu carro particular, somente na sexta-feira, indo direto ao Comandante Geral e à Diretoria de Inteligência comunicar o fato e solicitar providencias. Não tivemos a atenção e atendimento que esperávamos, mesmo sendo eu um coronel da ativa. Fomos orientados a procurar a Delegacia de Polícia Civil de Nova Venécia para registrar uma ocorrência e depois encaminhar cópia à Dint, como foi feito na segunda-feira seguinte”, disse Gonçalves.
O coronel disse ter solicitado segurança pessoal para a família dele em Nova Venécia, por policiais do 2.º Batalhão, “pois eu trabalhava em Vitória e não tinha como estar nos dois locais ao mesmo tempo. Após uns dois meses a segurança pessoal foi suspensa, pois as policiais que trabalhavam na escolta não recebiam nem as diárias pelas viagens que faziam a serviço”, lamentou Gonçalves.
O ex-delegado de Nova Venécia, Vitor Manoel, encaminhou os autos ao Comando Geral da Polícia Militar em 3 de agosto de 2012 – ou seja, dois meses após a descoberta da sabotagem:
“Em 5 de novembro de 2012 solicitei formalmente ao comandante geral (coronel Ronalt Willian) informações sobre quais providências foram adotadas desde 22 de maio do ano passado, quando havia comunicado o fato à Diretoria de Inteligência. Para minha surpresa, somente em 18 de fevereiro de 2013 recebi uma documentação do Diretor de Inteligência, concluindo que não se detectou qualquer evidência que pudesse corroborar a suspeita de sabotagem do veículo e não havia elementos suficientes que pudessem caracterizar eventual responsabilização por ilícito penal praticado em área da administração militar”.
Na segunda-feira (18/03), o coronel Gonçalves fez, neste Blog, uma série de denúncias de crimes que estariam acontecendo dentro da Polícia Militar sem que o Comando Geral mande apurar. Dentre os crimes, estaria pagamento irregular de diárias, compras desnecessárias de viaturas e até orgias sexuais praticadas no Centro de Formação e Aperfeiçoamento da PM e dentro de viatura.
Diante agora da descoberta da sabotagem feita no carro de sua esposa, o coronel Gonçalves, mesmo cumprindo prisão domiciliar, afirma estar tomando providências para garantir pelo menos a segurança de sua família:
“Antes de tudo, confio em Deus e que existem pessoas de bem que estão orando por mim e pelo esclarecimento de mais essa covardia e tentativa de desprestigiar meu trabalho e nome. Ttenho uma grande preocupação com a segurança de meus familiares, pois estou preso em Nova Venécia, minha arma da PM foi recolhida e a rotina de minha família tem que prosseguir. Minha esposa é médica e atende em outros municípios também, deslocando-se sozinha. A criança (6 anos) precisa freqüentar as aulas, o inglês e a natação. Nossa preocupação dobrou após esses fatos. Ainda bem que tenho uma mulher forte e corajosa do meu lado e alguns amigos verdadeiros, pois a PMES virou as costa para mim, não tive direito a defesa, fui preso sem ser ouvido, os coronéis não se manifestaram em meu apoio. A rotina no QCG continua…”
Quando foi comandante do 2º BPM (Nova Venécia), o coronel Gonçalves fez diversas operações em que colocou na cadeia vários traficantes da região Norte do Estado. Eram traficantes ligados com quadrilhas de assaltantes e crimes de pistolagem.