Depois de ser inocentado seis vezes de uma acusação de suposta interferência numa ocorrência policial de trânsito, o coronel da reserva da Polícia Militar do Espírito Santo e professor universitário Júlio Cezar Costa enviou uma carta aos milhares de amigos espalhados por todo o País em que relata todo o seu drama enquanto era acusado injustamente pelo Ministério Público Estadual.
Na carta, publicada na página Segurança Privada do facebook, o coronel revela, pela primeira vez, que foi convidado pelo então secretário de Segurança Pública na era Paulo Hartung, Rodney Miranda, para assumir o Comando de Policiamento Metropolitano, mas recusou por discordar da ausência de uma política de segurança no governo passado. Abaixo, a íntegra da carta enviada pelo coronel Júlio Cezar Costa:
“Caros Amigos (as) de todo o Brasil, boa tarde.
Sinto-me justiçado!
Depois de mais de dois anos de intenso sofrimento, isto pela injustiça, agora posso dizer que estou feliz no que tange à restauração de minha idônea carreira como policial militar capixaba.
Construí toda a minha trajetória em cima dos pilares da honestidade, ética, camaradagem, lealdade de propósitos, inovação, desenvolvimento de políticas de segurança pública, conhecimento profissional e respeito aos direitos humanos. Vi tudo isto quase desmoronar por notícias vazadas intencionalmente para destruir a minha carreira que estava no auge, quando mais eu queria e podia produzir para contribuir com a busca da paz social em prol da sociedade capixaba. Jogaram pesado, sujo e deslealmente.
Muitas mentiras, no padrão hitlerista, quase se transformavam em verdades, a partir de manchetes escandalosas e que intentaram macular a nossa trajetória de vida profissional. Até na vida particular, como homem que pratica uma Fé, tentaram me atingir. Foram dias difíceis!
Contei sempre com uma base familiar sólida. Minha esposa e meus filhos foram muito fortes ao meu lado. O choro de ontem, agora pelas mãos de julgadores isentos, independentes e honestos se transformou em gozo e alegria. Muitos também foram os amigos e amigas que não se distanciaram, mas que ofereceram todo o seu apoio, carinho e respeito nos momentos de solidão e tristeza pelos quais passei. Recebi em pouco mais de três dias, à época, 432 (quatrocentos e trinta e dois) e-mail de todas as partes do Brasil, mas principalmente de COMPANHEIROS fiéis que ainda tenho dentro da Polícia Militar do Estado do Espírito Santo, Oficiais e Praças em todo o estado.
Posso dizer que sofri, mas que não me dobrei aos caprichos daqueles que “pediam palmas para si” e que a nós nunca conseguiram subjugar com bravatas e cantilenas.
Amo a Polícia Militar e abaixo transcrevo trechos de uma carta (e-mail) enviada em 14 de junho de 2009, ao então comandante da PMES, quando me quiseram “obrigar” a assumir o comando do policiamento ostensivo (CPO-M), pois para “eles” estava na hora de colocar alguém que faria a diferença. Não aceitei e por isto tornei-me persona non grata para os mandarins daquele tempo. Chegaram a me dizer: “o senhor pode fazer o pro-pas, a polícia interativa”…
Eis os trechos que anunciei acima:
“Vitória, 14 junho de 2009
Caro Comandante, bom dia.
Inicio esse e-mail lembrando de uma assertativa sua por ocasião de uma recente reunião de Coronéis: “quem fala a verdade não trai”.
A nossa Corporação, não por culpa Sua, está amorfa e anômica após anos de desmandos internos protagonizados por uma meia dúzia de pessoas que tinham o viés patrimonialista e se intitulavam “isso ou aquilo”.
A conseqüência do descaso interno só foi percebida quando um grupo de indignados se levantou no âmbito da Instituição. Não faltaram retaliações em nome do velho bordão da “hierarquia e da disciplina”.
Hoje sob o Vosso comando estamos a viver um tempo de calmaria, embora ainda existam muitas dificuldades a serem superadas no aspecto corporativo, vez que o desmanche desses anos todos só fez esmorecer os que lutavam por ideais nobres, e não por poder. A desilusão tomou conta de muitos de nossos Companheiros.
É incrível, mas a todos os Oficiais que consultei no que tange à busca de apoio interno para assumir o Comando do CPO-M, sem distinção, a resposta foi unânime e mediana: “não temos como comungar com tudo isto que está aí, dessa vez não vamos acompanhá-lo”.
Após anos de experimentações na segurança pública, fazendo-se “mais do mesmo”, o sistema mesmo empoderado de investimentos milionários não consegue responder aos reclamos da sociedade. A prova disto é o descontrole da criminalidade e o descrédito interna corporis.
Dizia o inesquecível Cel Carlos Magno Nazareth Cerqueira, “os maus meios corrompem até os melhores fins”.
Repito temos Polícia, mas não temos policiamento. As ruas estão entregues à marginalidade e não serão paliativos que resolverão esta questão. A sociedade precisa ser respeitada com a implementação de uma PPSP e não apenas com o discurso de um tal “enfrentamento” que só faz a cada semana aumentar a letalidade da polícia e estimular a violência. É preciso mais do que isto!
Mesmo que as autoridades não queiram há a necessidade de se repactuar com toda a Polícia Militar, principalmente com a Oficialidade, vez que os cabos e soldados, merecidamente obtiveram importantes conquistas nesses últimos anos.
A hierarquia salarial está sendo nivelada na PMES e é preciso que sejam valorizados os que têm o poder e a autoridade de Comando da maior e mais fiel Instituição deste Estado.
Lendo Chaplin aprendi: “Não sois máquinas, homens é que sois”. Não há como superar a descrença em soluções imediatistas. Não posso comprometer a minha história de vida, abrindo mão de meus princípios em razão de pretensos interesses.
Continuarei isento e subordinado à Vossa autoridade, ajudando-o a pensar hoje a Polícia do amanhã, sem entretanto poder aceitar, por questões óbvias, o convite a Mim educadamente formulado pelo Sr Secretário de Segurança, delegado Rodney Rocha Miranda.
Espero ser compreendido em meus motivos.
Respeitosamente.
Cel Júlio Cezar Costa
Diretor de Apoio Logístico
“Pensando hoje a Polícia do amanhã”
“
Por fim, agradecido a Deus e a todos Vocês, mas em especial a minha esposa, meus filhos e aos meus amigos que não sumiram de perto, e também a tantos anônimos que nos mandaram mensagem de encorajamento àquele tempo, compartilho este momento de especial alegria. Deus seja louvado!
Eu acredito na Parúsia. Maranata”