Há algo que precisa ser melhor explicado na fuga de 21 – e não nove, conforme diz oficialmente a Secretaria de Estado da Justiça – presidiários da Penitenciária Semiaberta do Complexo de Xuri, em Vila Velha, nesta quinta-feira (21/02). Alguns veículos de comunicação informam que foram nove os fugitivos; outros garantem ter sido seis.
No entanto, em contato com fontes ligadas diretamente ao setor de Inteligência da Sejus e da Polícia Militar, o Blog do Elimar Côrtes confirmou que foram 21 os fugitivos. Até o início da noite 11 já havia sido recapturados pela Polícia Militar.
Os criminosos conseguiram fugir do pátio de banho de sol após pularem o alambrado. A fuga foi logo percebida pelos agentes que estavam na torre de controle da unidade.
Graças à intervenção dos agentes penitenciários de plantão, que deram tiros de advertência, foi impedida a fuga de outros bandidos. Equipes de agentes penitenciários, além de policiais e cães do Batalhão de Missões Especiais (BME) da Polícia Militar realizaram buscas durante o dia entre Viana e Guarapari.
Em penitenciária de regime semiaberto ficam condenados que adquirem o direito, segundo a lei brasileira, de sair do presídio durante o dia, para trabalhar, e voltar à noite. No entanto, nem todos conseguem emprego. Por isso, acabam ficando na cadeia durante o dia e a noite.
A Sejus fragilizou seu setor de Inteligência desde o início da atual gestão do secretário André Garcia. Ao assumir a Pasta, ele decidiu fazer uma mudança no setor, exonerando e ou trocando de cargos justamente os servidores – militares e civis – da Inteligência que haviam ajudado a Polícia Civil a elucidar um forte esquema de corrupção que rolava no Instituto de Atendimento Sócio Educativo (Iases), autarquia vinculada à Sejus, desde 2009.
A descoberta do esquema provocou a prisão de dezenas de pessoas, dentre elas, a ex-presidente do Iases Silvana Galinna – todos já foram soltos para responder processo em liberdade.
Provocou, inclusive, o indiciamento criminal e abertura de processo contra o então secretário de Estado da Justiça, Ângelo Roncalli, a quem André Garcia substituiu.
Roncalli foi titular da Sejus durante boa parte da era do governo de Paulo Hartung e ficou por pouco mais de um ano e meio no governo de Renato Casagrande, até ser denunciado à Justiça pelo Ministério Público Estadual por conta das irregularidades no Iases.
Segundo fontes da Sejus, a fuga desta quinta-feira já estava sendo arquitetada pelos criminosos há mais de um mês. Providências, porém, demoraram ser tomadas. Ou, melhor, não foram tomadas.
De acordo com o início das investigações iniciadas pela Corregedoria da Sejus, agentes penitenciários revelaram que presidiários do sistema prisional de Xuri já vinham dando “pistas” de que “algo estranho” iria ocorrer no Complexo de Xuri.
Como diria o escritor colombiano Gabriel Garcia Marques, que já ganhou um Prêmio Nobel de Literatura com o livro “Cem Anos de Solidão”, é a crônica de uma fuga anunciada, só para parodiar um outro sucesso literário do mesmo autor,que foi “A Crônica de Uma Morte Anunciada”.