Dez anos depois de deixar o Palácio Anchieta, o ex-governador José Ignácio Ferreira, aos 73 anos, é um homem ferido pelas ingratidões comuns no mundo da política. Promotor de Justiça aposentado, advogado atuante, ex-deputado estadual, ex-senador da República, ex-presidente da Telebrás, ele evita falar de política, mas não foge do tema segurança pública.
José Ignácio foi o único governador a criar, efetivamente, um programa de combate à violência e à criminalidade no Espírito Santo, que foi o Programa de Planejamento de Ações de Segurança Pública (Pro-Pas).
Seu sucessor, Paulo Hartung, preferiu “aposentar” o nome Pro-Pas e criou apenas programas passageiros, mais midiáticos para atender seu então secretário da Segurança Pública, Rodney Miranda – hoje prefeito eleito de Vila Velha.
Já Renato Casagrande tenta conquistar o tempo perdido com a criação do Estado Presente e com investimentos nas polícias Civil e Militar e no Corpo de Bombeiros.
José Ignácio não se furta em falar de segurança pública, mas mantém a postura de não criticar nenhum outro governante. Ele lembra dos primeiros dias de governo e até mesmo antes de tomar posse, quando convocou um grupo de jovens oficiais da Polícia Militar para elaborar um plano de segurança.
À frente do grupo, recorda-se José Ignácio, estava o então capitão PM Júlio Cezar Costa, hoje coronel da reserva:
“O Pro-Pas foi concebido e implementado do começo ao fim pelo coronel Júlio Cezar e por um seleto grupo de oficiais da PM. A gente se reunia longe de outros olhos, enquanto o programa era elaborado. Costumávamos sair do Palácio (Anchieta) para ir ao meu escritório, no Centro, para nos reunir. O programa foi elaborado de forma competente e com muito espírito público. Com certeza, o Pro-Pas marcou época no Espírito Santo”, afirmou José Inácio.
Ele diz que, hoje, as pessoas falam sobre o Pro-Pas sem citar o nome “Pro-Pas” que foi, efetivamente, uma marca de seu governo:
“Eu diria que o Pro-Pas foi um ponto de relevo de meu governo. Creio que tenha sido a marca mais importante”, afirmou José Ignácio, em entrevista ao Blog do Elimar Côrtes, no auditório do prédio de Inovações Tecnológicas do Campus Boa Vista, da Universidade de Vila Velha, na noite de terça-feira (18/12), durante lançamento do livro “Segurança Pública: Convergência, Interconexão e Interatividade Social”, dos coronéis e professores Júlio Cezar Costa e João Antônio da Costa Fernandes.
O Pro-Pas não se resumiu, na ocasião, aos módulos de segurança, instalados em diversos pontos da Grande Vitória e do interior, onde viaturas da Polícia Militar ficavam fazendo policiamento e cerco à bandidagem.
O modelo dos módulos foi levado para o Rio de Janeiro, pelo então governador Anthony Garotinho, com o nome de polígono da segurança, onde existe até hoje.
José Ignácio fala com saudosismo daqueles tempos: “De fato, os números mostram que no período do Pro-Pas a criminalidade caiu no Estado”, afirma o ex-governador.
Paralelamente ao Pro-Pas, José Ignácio adotou também outros programas voltados, sobretudo, para a segurança pública. Logo no início do governo, ele promoveu intervenção no sistema prisional, que viveu quatro anos de caos durante o governo petista de Vitor Buaiz. Os presos tinham, literalmente, as chaves das celas e de todas as cadeias.
A Polícia Militar ocupou os presídios e acabou com a farra. Ao mesmo tempo, policiais militares, fardados e armados, que faziam segurança nas agências do Banestes, para políticos e até para empresários, tiveram que voltar para os quartéis:
“Localizamos policiais fazendo segurança para empresários, sendo pagos pelo Estado. Levamos de volta para as unidades militares todos os policiais com desvio de função. Teve um dia que reunimos mais de mil militares mo pátio do quartel. Eram todos que faziam segurança para o Banestes, fóruns da Justiça, políticos e empresários”, recorda José Ignácio. “Foi uma atitude extremamente relevante para a população”, completou.
José Ignácio prefere não criticar outros governantes, mas elogia Renato Casagrande: “O governador Casagrande tem se esforçado muito para melhorar a segurança pública. Ele vai conseguir”.
Autor de 42 livros, José Ignácio, embora evite o tema “política”, não esse esquiva de falar do mensalão, em que políticos ligados ao PT e outros partidos acabam de ser condenados por corrupção pelo Supremo Tribunal Federal:
“O País vai ser outro após o julgamento do mensalão”, destaca ele.
Hoje, o ex-governador atua como advogado. Está mais na área tributária. “Engraçado, sempre militei na advocacia criminal, depois que me aposentei como promotor de Justiça. Ao todo, como advogado e promotor, participei de mais de 400 júris”, recorda José Ignácio Ferreira.