No dia 8 de novembro de 2011, o então soldado da Polícia Militar do Espírito Santo Saulo Oliveira de Souza, 30 anos, matou o caminhoneiro Antônio Rodrigues, 53, na BR-101 Norte, na Serra, em uma discussão de trânsito. Seus companheiros de farda – principalmente oficiais – vieram a público não para defender o gesto de Saulo, mas para mostrar que estavam ao seu lado, afirmando se tratar de um policial “excepcional”.
Afinal, Saulo recebeu ao longo de sua carreira de sete anos, 44 elogios formais por sua “perfomance profissional”. O titular deste blog foi quase que “linchado” nas redes sociais por policiais militares – principalmente oficiais – por defender, um dia após o crime cometido por Saulo, mudanças urgentes nos critérios de exigência para premiar os destaques operacionais das Polícias Militares Estaduais de todo o País. Teve capitão e major que chegaram a sugerir boicote ao Blog.
O pior para Saulo e sua família, entretanto, chegou cinco meses depois. Em um procedimento rápido, o Comando Geral da Corporação decidiu pela expulsão do policial, que matou o caminhoneiro com uma pistola ponto 40 pertencente à Polícia Militar.
O comandante geral da PM, coronel Ronalt Willian, disse,em entrevista aos jornais, que a conclusão do processo administrativo aberto para apurar a conduta do militar apontou que testemunhas, perícia e fotografias desmentiram a versão do soldado, que alegou ter agido em legítima defesa.
“Esse ato praticado o torna indigno, até por ter utilizado a arma da corporação em um horário de folga. A arma é conferida ao policial para ser usada de forma racional e responsável em prol do bem comum e não para interesses particulares”, declarou o comandante Willian, que acrescentou:
“Não sabemos o que o levou a isso (matar o caminhoneiro). Foi um ato irracional sobre o qual ele não teve o controle devido”.
Saulo, que se encontra preso na carceragem do Quartel do Comando Geral da PM, em Maruípe, está sozinho. Perdeu o apoio da maioria dos colegas de farda, principalmente dos oficiais que tanto o elogiaram. Afinal, ao logo de sete anos servindo à briosa, ele recebeu 44 elogios formais, por ter sido um profissional “excepcional”.
Mas agora ele não serve mais para a Corporação; tornou-se descartável. Afinal, pelas palavras do próprio comandante geral da PM, “esse ato praticado o torna indigno, até por ter utilizado a arma da corporação em um horário de folga. A arma é conferida ao policial para ser usada de forma racional e responsável em prol do bem comum e não para interesses particulares”.
Saulo passa dias e noites na prisão pensando no ato que fez. Reconhece que agiu errado e sabe que vai ter de pagar pelo crime. Porém, o que o revolta mais é o abandono da maioria dos colegas de farda.
No dia em que matou o caminhoneiro, por conta de uma simples discussão de trânsito, Saulo foi endeusado pelos companheiros, que fizeram questão de ressaltar sua importância operacional para a PMES:
“Ele (Saulo) é um bom policial, tem um perfil operacional”. A declaração foi dada ao jornal A Gazeta, na ocasião do crime, pelo comandante do 1° Batalhão (Vitória), tenente-coronel Reinaldo Brezinski, ao garantir que Saulo “é um exemplo de boa conduta como militar”, embora agora não seja mais digno de vestir a farda: Saulo tornou-se descartável para o sistema. Saulo, o caminhoneiro que ele matou, a esposa e a filha de Saulo são algumas das vítimas desse sistema que descarta quem não serve mais.
Este sistema, que não é exclusivo da PM do Espírito Santo, não vai mudar com a expulsão de Saulo. Outros Saulos serão forjados dentro dos quartéis pelo País afora. As corporações militares estaduais no Brasil optam em valorizar os guerreiros como Saulo, que em 2007 foi eleito Destaque Operacional do 1° Batalhão.
Saulo faz jus à fama de guerreiro. Em 2007, ele já respondia a três ações penais na Justiça. Um delas é pela acusação de uma dupla tentativa de assassinato, numa suposta troca de tiros com dois jovens em Santo Antônio.
Os companheiros de Saulo, tempos depois de sua prisão pela morte do caminhoneiro Antônio, começaram a vislumbrar que o jovem soldado teria pouca chance de parmanecer na Corporação. Diziam eles que Saulo, na verdade, sempre foi um policial “explosivo”.
Mas, enquanto explodia seu pavio na ruas, Saulo, em vez de ser reprimido por seus comandantes, era premiado. Recebeu 44 elogios formais por conta de sua conduta “excepcional”.
Pobre, Saulo: dentro do que as corporações esperam de um policial, ele foi forjado a ser, de fato, um bravo, um guerreiro explosivo. Agora, entretanto, está sozinho. Talvez, neste momento, conte somente com o apoio da família e dos companheiros de carceragem.
Da solidão da cadeia, Saulo, você poderá ver quem são seus amigos e às pessoas que querem seu bem. Elogio, meu caro, nem sempre dá futuro. Bom senso e respeito ao próximo, sim!