Já passavam das 23h50 do dia 15 de março de 2012. Acabo de desembarcar, com meu filho de 10 anos, no Aeroporto Santos Dumont, no Centro do Rio de Janeiro, vindo de Vitória.
Logo de cara, decido que iríamos de ônibus para São Gonçalo, município do Grande Rio, que fica à margem da BR-101 (Rio-Manilha), próximo a Niterói. O valor da corrida de táxi (R$ 160,00) era maior do que o preço de nossas passagens aéreas.
Passamos pelo saguão do aeroporto e vamos logo para a calçada. Que surpresa! Policiais militares (fardados e armados) estão ao redor do Santos Dumont fazendo segurança e policiamento preventivo e ostensivo.
Dirijo-me a uma jovem dupla de militares e pergunto como fazer para pegar um ônibus para São Gonçalo. Um dos policiais me mostra o ponto e ainda alerta:
“O senhor deve embarcar naquele ponto do lado dos quartéis da Aeronáutica, porque é mais seguro. Do outro lado tem muitos cracudos – termo usado por cariocas para definir usuários de crack – e os caras são enjoados. Pode ir tranqüilo, pois, além dos militares da Aeronáutica, há mais duplas da PM nos pontos de ônibus”, responde o jovem soldado.
Embarcamos num ônibus para Niterói do tipo frescão – aliás, a maioria dos ônibus que ligam o Rio a outros municípios da Região Metropolitana tem ar condicionado.
Pergunto ao motorista onde saltar. Logo após a Ponte Rio-Niterói, o motorista me chama e diz: “Pode saltar aqui (o forte cheiro dedura: o ponto é próximo a fábricas de sardinhas) que é mais seguro, porque neste momento está acontecendo blitz da Lei Seca. Pode ficar tranqüilo aí que seu ônibus para São Gonçalo logo vai chegar”.
E não demorou nenhum minuto e o ônibus para o centro de Sãao Gonçalo parou no ponto. Do outro lado da pista da rodovia Rio-Manilha ocorria mesmo uma blitz feita pela Polícia Militar do Rio para inibir motoristas que dirigem sob o efeito de bebida alcoólica.
Além do mais, ao lado do ponto de ônibus, há um quartel de um Batalhão da PM de Niterói e naquele momento havia cinco policias (fardados e armados) fazendo sentinela na porta da unidade.
No ônibus para São Gonçalo, mais uma surpresa: um jovem bebum sacou do bolso uma moeda de 1 real e queria pular a roleta e deixar o dinheiro com o motorista. O motorista recusou e, com ar de autoridade e seguro de si, mandou o rapaz saltar, dizendo que em seu ônibus ninguém pulava a roleta. Já estávamos por volta dos 30 minutos do dia 16 de março. Ou seja, em plena madrugada.
Chegamos ao destino e no dia seguinte já estávamos na Praça Tiradentes, de volta ao Centro do Rio. No local há inúmeros teatros, bares, restaurantes e lojas. Ah!, já ia me esquecendo: havia também, pelo menos nos 60 minutos em que ficamos na região, cinco viaturas da Polícia Militar, com policiais militares (repito e insisto: fardados e armados) fazendo ronda e policiamento ostensivo pela praça, calçadas e ruas.
Dali, nos dirigimos ao Largo da Carioca e, depois, à Cinelândia, onde aproveitei para tomar um choppe. Nos prédios comerciais havia seguranças fardados e armados com cassetetes. Do lado de fora, policiais militares (fardados e armados) e guardas municipais faziam a segurança das ruas.
Não poderia esquecer. Neste dia, chovia pela manhã no Centro do Rio. O trânsito estava um caos, devido a obras por todos os lados. Neste aspecto, parecia até com a nossa Vitória, mas com uma diferença: lá no Rio, os agentes de trânsito não têm medo de chuva; estavam nas ruas e avenidas orientando os motoristas, seja embaixo dos sinais ou no meio das pistas. E sem a famosa capa de chuva, diga-se de passagem.
No sábado, dia 17, mais surpresa, mas também decepção. Fomos – eu, meu filho caçula e minha filha de 21 anos – ao estádio Moça Bonita, em Bangu, na Zona Oeste do Rio, ver o jogo do Fluminense contra o Macaé, pela Taça Rio (segundo turno do Campeonato Carioca).
Decepção porque o Flu perdeu de 3 a 1. Surpresa porque, mais uma vez, é ostensiva a presença de policiais militares, guardas municipais e agentes de trânsito, mesmo em pleno sábado à tarde, em Bangu, no subúrbio (para nós, capixabas, periferia) do Rio. E não foi só por causa do jogo, porque, para, o estádio, foram designados outros policiais, que chegaram ao estádio Moça Bonita em ônibus, além da Polícia Montada.
Na pracinha em frente ao Moça Bonita e de frente também para a Estação Ferroviária Guilherme da Silveira, há um módulo da PM, que faz lembrar os desativados módulos de segurança ostensiva, que foram implantados no governo de José Ignácio Ferreira e mandados para o espaço nos oito anos da dobradinha Paulo Hartung e Rodney Miranda na (in)segurança pública do Espírito Santo.
Fardados e armados, os militares davam a todos que passavam pelo local sensação de segurança. O governo do Rio copiou nosso antigo modelo com sucesso, desde a época do governador Anthony Garotinho, que Sérgio Cabral, com sua sabedoria, manteve – mesmo sendo adversário político de Garotinho. Aqui, Hartung e Rodney Miranda, com sua arrogância e prepotência habituais, ignoraram e desativaram.
(Abro parêntese para informar que, ainda no sábado à noite, tive que explicar para um médico carioca, que chegou a fazer Medicina na nossa Emescam, há 35 anos atrás, que a fama do Espírito Santo de ser um Estado violento é mais graças ao passado. O médico me questionou porque a “polícia capixaba mata tanto”. Eu disse para ele que a nossa polícia “não mata tanta; quem mata tanto” no Estado são os traficantes e seus capangas).
Na manhã de domingo, 18 de março, passeio pelo Aterro do Flamengo. Que “chatice”: mais policiais militares fardados e armados, além de guardas municipais, para proteger as centenas de pessoas que por lá caminhavam.
Hora de voltar para casa. Descemos, eu e meu filho de 10 anos, na Rodoviária da Ilha do Príncipe. Eram 23 horas de domingo. Naquele momento não havia nenhum policial militar e nem guardas municipais em nossa rodoviária.
Não tive coragem de atravessar as pistas e chegar até o ponto de ônibus que fica em frente ao Clube Náutico Brasil para pegar ônibus até Santo Antônio. Até porque, naquele horário, diferente da realidade do Rio, dificilmente ainda haveria ônibus para onde resido.
Além do mais, acontecia mais um baile funk no Náutico. E quem tem coragem de ficar perto desses “malucos” funqueiros? Tivemos que pegar um táxi da rodoviária até minha casa. Andamos, de carro, menos de dois quilômetros e pagamos R$ 18,00. Entre a rodoviária e minha casa, não vimos nenhum policial militar fardado e armado.
Manhã de terça-feira (20/03) e saio de casa cedo. Entro num ônibus até a Ponte de Camburi. Passo de novo pela Rodoviária da Ilha do Príncipe; passo pela Vila Rubim, avenida Getúlio Vargas…O ônibus transcorre por toda a avenida Beira-Mar, passando, inclusive, pela sede da Secretaria de Estado da Segurança Pública e Defesa Social, em Bento Ferreira.
Na Vila Rubim vejo dois agentes de trânsito que, em vez de orientar os motoristas, conversavam tranquilamente, olhando a “paisagem” do mercado, como se tudo ao seu redor estivesse normal. E o trânsito já estava congestionado naquela manhã. Pensei comigo mesmo: “Para quê nós, capixabas de Vitíoria, precisamos de agentes de trânsito?”
Passo depois pelo Hortomercado, Shopping Vitória e Assembleia Legislativa. Chego à Ponte de Camburi. E, durante todo o percurso, não vi nenhum policial militar fardado e armado. Também não vi nenhuma viatura da PM pelas ruas e avenidas por onde passei, em uma hora e meia de viagem. Nem mesmo na porta da sede da Sesp.
Chega a ser irônico para nós capixabas: fui ter sensação de segurança logo no Rio. Quem diria?