Era madrugada do dia 14 de agosto de 2014. A jovem Beatriz Ferreira Costa se divertia dentro da Boate ‘NEXT’, situada no bairro Itaparica, em Vila Velha. Ao entrar no banheiro, foi surpreendida por quatro mulheres: duas menores de 18 anos e duas adultas. Beatriz foi atacada com golpes de navalha por todo o corpo. Teve que fazer mais de 200 cirurgias nos dias em que ficou internada.
Dentro da boate, buscou ajuda de policiais militares – um deles fazia segurança da casa noturno e, o outro, se divertia com as quatro agressoras. Quebrou a cara mais uma vez: os dois militares que estavam na boate se recusaram a atender a moça. Um deles – o soldado Glelsiner Vitor da Silva Pinto – acaba de ser indiciado por tentativa de homicídio dentro do Inquérito Policial Militar instaurado para apurar os fatos.
Além do soldado Glelsiner, o IPM indiciou mais seis policiais militares. Um deles é o soldado Marcos Aurélio Rodrigues, indiciado “pela omissão diante dos fatos ocorridos e indícios de transgressão da disciplina militar em razão do exercício da atividade de segurança na boate”. Também foram “aferidos indícios de prática de transgressão da disciplina militar e crime de natureza militar na conduta dos sargentos Célio Luiz Soares Alves, José Márcio Littig Paixão, e dos soldados Gilcimar Gonçalves de Freitas Demoner e Rudy Lorenzutti Rosmann, “por não registrarem no boletim de ocorrência o envolvimento dos policiais militares Glelsiner Vitor e Marcos Aurélio”; e o soldado André Lucas de Paula Mais, “já que, quando ouvido como testemunha, faltou com a verdade, negando ter comparecido a Boate NEXT, fato que estava registrado no livro de controle da boate.”
O IPM foi aberto pela Portaria Nº 347/2014, da Corregedoria Geral da Polícia Militar, e “teve a finalidade de esclarecer os fatos e circunstâncias em torno da conduta atribuída ao soldado Glelsiner Vitor, lotado no 1º BPM.”
Conforme noticiado amplamente pela imprensa e registrado no Serviço de Plantão da Corregedoria e na Polícia Civil, “o Militar Estadual investigado teria participado das ações criminosas em que Beatriz Ferreira Costa foi lesionada com cortes profundos em todo o corpo. O evento ocorreu durante uma confusão ocorrida no interior da boate ‘NEXT’ e, apesar da presença e suspeitas de participação de policiais militares no episódio, nos relatórios lavrados pelos policiais militares de serviço, não foi registrado os nomes desses servidores públicos.”
Segundo o IPM, “os elementos de informação colhidos no presente trabalho Investigativo convergem no sentido de definir que no dia do episódio, o soldado Glelsiner Vitor frequentava a boate NEXT em seu horário de folga e nessa ocasião ocorreu uma briga no interior do estabelecimento. Conforme laudo de lesões corporais n.º 143727, durante a confusão Beatriz Ferreira foi lesionada, tendo sua integridade corporal ofendida, através de instrumento cortante, por várias pessoas que utilizavam lâminas de barbear, resultando em incapacidade para as ocupações habituais por mais de trinta dias e perigo a vida.”
Os registros policiais sobre o atendimento da ocorrência atribuíram a prática da infração às desafetas da vítima Nathalia da Silva santos e Marcela Marques Moreira e duas adolescentes. o policial militar Glelsiner, de acordo com a conclusão do IPM, “não apenas teve participação na confusão, como acompanhou o atendimento da ocorrência até seu desfecho na Delegacia (Regional de Vila Velha), prestando, inclusive, assistência a uma das agressoras.”
De acordo com o IPM, a investigação revela, ainda, que a ocorrência policial foi conduzida pelos sargentos Célio Luiz Soares Alves e José Márcio Littig paixão e os soldados Gilcimar Gonçalves de Freitas Demoner e Rudy Lorenzutti Rosmann. “ficou esclarecido que na condução da ocorrência policial foi omitido o envolvimento não apenas do soldado Glelsiner Vitor da silva pinto, como também do soldado Marcos Aurélio Rodrigues, este último atuando como segurança da boate. Mesmo na condição de policiais e ante as infrações cometidas, não há registro de qualquer medida que tivesse sido adotada pelos dois soldados”, conforme informa que já se encontra na Vara da Auditoria da Justiça Militar.
O IPM afirma mais: “Vale destacar, inclusive, que no curso da investigação, ficou patente a necessidade de decretação da prisão do Sd Gleisiner Vitor, e a medida foi efetivada em razão dos relatos da vítima e de familiares, apontando que o policial militar já citado estaria adotando comportamento no sentido de criar temor nas pessoas que prestariam depoimentos sobre o caso.”
O corregedor geral da PM, coronel Ilton Borges, concordou com o parecer do encarregado do IPM, mas acrescentou “apenas que há indícios de transgressão da disciplina na conduta do soldado André Lucas de Paula Mais, já que, quando ouvido como testemunha faltou com a verdade, negando ter comparecido a Boate NEXT, fato que estava registrado no livro de controle da boate”.
Duas das agressoras – as adultas – também já estão sendo processadas pela 4ª Vara Criminal (Privativa do Júri) de Vila Velha. São elas: Nathalia da Silva Santos e Marcela Marques Moreira. As duas menores são processadas pelo Juízo da Vara da Infância e da Juventude de Vila Velha.
O soldado Glelsiner vai agora responder pela acusação de tentativa de homicídio na Justiça Comum e na Justiça Militar. Corre sério risco de ser expulso da corporação.