Num momento em que o governo do Estado e a Polícia Militar sofrem críticas de todos os lados por conta de ações da Tropa de Choque do Batalhão de Missões Especiais – vejam postagem anterior –, o comandante geral da PMES, coronel Anselmo Lima, pode estar se envolvendo em uma polêmica sem necessidade e fora de hora.
Ele publicou no Boletim do Comando Geral (BCG) da Polícia Militar, n° 22, de 2 de junho, elogio a quatro oficiais do BME que planejaram a operação que culminou na desocupação de um terreno da Prefeitura de Aracruz, em Barra do Riacho.
O local era ocupado por 1.500 famílias há um ano. Durante a demolição das casas, alguns moradores atiraram pedras contra os policiais que realizavam o isolamento do terreno.
Os militares revidaram com disparos de balas de borracha e bombas de efeito moral. Moradores foram feridos e expulsos do terreno. A PM cumpria ordem judicial e ação foi condenada por diversos segmentos da sociedade.
A ação da PM em Aracruz foi no dia 18 de maio. Na semana passada, 2 de junho, o comandante da PM, coronel Anselmo Lima, reconheceu oficialmente que a Tropa de Choque agiu com competência, conforme consta no BCG n° 22. O elogio foi proposto pelo chefe do Comando de Policiamento Ostensivo Norte (CPO-Norte), coronel Edmilson Moulin Ferreira, e aprovado pelo Comando Geral.
O elogio é para o major Ronaldo Mutz, major Alessandro Juffo Rodrigues, capitão Márcio Vieira Hollanda e capitã Nilda Dummer, todos do BME, “pela forma competente com que participaram diretamente na elaboração do Plano de Operações deste CPO-N para ação de reintegração de posse de uma área pertencente à Prefeitura de Aracruz”.
Mais adiante, o BCG, que é assinado pelo comandante geral da PM, coronel Anselmo Lima, informa que os oficiais, “demonstrando alto grau de profissionalismo e responsabilidade, inúmeras foram as oportunidades em que foram obrigados a se deslocarem até o local a ser reintegrado para observar a situação e fazer avaliação dos riscos que a operação oferecia haja vista a existência de informações de que haveria resistência à desocupação, inclusive com a utilização de artefatos que seriam lançados contra o efetivo assim como contra instalações físicas de empresas e prédios públicos existentes no município”.
O Comando Geral reconhece, todavia, que o planejamento dos quatro oficiais foi fundamental para o sucesso da operação, que culminou na retirada dos 1.500 moradores, e desmente o que a imprensa noticiou sobre o fato:
“O planejamento elaborado e o comando exercido pelos citados oficiais não permitiu que ocorresse qualquer tipo de ação criminosa perpetrada por parte dos invasores apesar de expressivo número de pessoas que foram retiradas da área invadida (segundo a PM, aproximadamente 1.200 pessoas, mas 1.500 de acordo com líderes da ocupação do terreno), assim como não houve nenhum incidente de maior gravidade, desmentindo desta forma notícias veiculadas pela mídia que procuraram desmerecer e condenar a ação de PMES e do BME naquele episódio”.
Por fim, o comando explica o motivo do elogio: “Por questões de justiça e merecedores que são, proponho o presente encômio para que sejam vistos como exemplo de dedicação e profissionalismo, assim como não se sintam desmotivados diante das notícias que tinham como único objetivo desmerecer o trabalho realizado com tamanho sucesso (individual)”.
Uma leitura de quem está de fora: se o comandante geral da PM elogia o planejamento, é porque ele gostou da execução (operação que culminou na expulsão das famílias do terreno da prefeitura). Se a execução tivesse sido mal feita, certamente os autores do planejamento não seriam elogiados.