Que o Espírito Santo é um dos mais atraentes estados brasileiros, com belas praias, lindas paisagens nas montanhas e pontos turísticos famosos, não é novidade. Assim como também não é novidade o descaso do Poder Público e de parcela da iniciativa privada – principalmente donos de restaurantes e de hotéis, que não têm noção de preços – com o turismo capixaba.
Um pedaço do descaso com os turistas é justamente a Delegacia do Turista da Polícia Civil, o cartão de visitas da Segurança Pública do Estado e foi instalada em junho de 2014 no Aeroporto de Vitória, em Goiabeiras, por onde passaram mais de 3,5 milhões de pessoas no ano passado, segundo o Anuário Estatístico Operacional da Infraero.
A atual Administração da segurança pública capixaba trata com desdém a Delegacia do Turista, que possui um pequeno efetivo composto por apenas quatro policiais: uma delegada e três Investigadores. Eles trabalham em uma estrutura deficitária e que necessita de várias melhorias para atender com qualidade e os turistas – seja o de negócio, em sua maior parte, ou o de lazer – que visitam o Espírito Santo.
A DP do Turista, além de atender as demandas no Aeroporto de Vitória, é responsável pela fiscalização de hotéis, expedição de alvarás, diligências policiais em todo o Estado, confecção de boletins de ocorrência. Tem ainda de cuidar de casos de extravio de bagagens e problemas a missão de atender ocorrências envolvendo a atuação de taxistas clandestinos, algo comum no Aeroporto.
No dia 14 deste mês, os diretores do Sindicato dos Servidores Policiais Civis do Estado do Espírito Santo (Sindipol/ES), Aloísio Fajardo e Edimar Nunes Vieira, realizaram uma inspeção sindical na Delegacia do Turista, que fica dentro do prédio da Infraero.
“Ao chegar no Aeroporto, nossa primeira dificuldade foi a de localizarmos o citado posto policial. Não há uma identificação visual, como placa indicativa da unidade policial, o que atrapalha em muito a localização da Delegacia. Após rodar por toda área, fomos informados que a Delegacia do Turista fica em um pequeno espaço cedido dentro do prédio da Infraero, anexo ao Aeroporto”, descreveu o diretor Aloísio Fajardo.
A Delegacia do Turista está literalmente de portas abertas, em função de um problema na fechadura que impossibilita o fechamento da porta. E mais: pela falta do detalhe de vidro que não existe na porta, foi feita a substituição por sacolas plásticas. O ambiente é dividido em duas partes: uma área externa (que não é utilizada e poderia ser mais bem aproveitada, na avaliação dos diretores do Sindipol) e uma área onde é realizado todo atendimento.
Aloísio Fajardo e Edimar Vieira constataram também a ausência de uma recepção adequada na Delegacia; a falta de vagas para estacionar viaturas e demais automóveis; falta de um contrato entre a o Policial Civil e uma empresa que forneça toner para as impressoras – atualmente, os policiais civis dependem da solidariedade, da boa vontade e do favor de funcionários do Aeroporto para imprimirem documentos imprescindíveis à rotina policial; inadequações na estrutura do imóvel e que acaba dificultando o acesso de deficientes físicos à Delegacia; e, sobretudo, a falta de um policial bilíngue para atendimento aos turistas estrangeiros.
O pior é que, ao visitar o que seria a futura instalação bem estruturada da Delegacia do Turista no Aeroporto de Vitória, em 10 de junho de 2014, o então chefe de Polícia Civil, delegado Joel Lyrio Júnior, afirmou que a unidade iria trabalhar com 10 policiais civis – e não quatro, como se encontra hoje – fluentes em inglês e divididos em cinco equipes.
A Polícia Civil possui diversos profissionais que falam fluentemente o inglês, mas a atual chefe de Polícia, delegada Gracimeri Soeiro Gaviorno, só manda para trabalhar na DP do Turista justamente quem não é bilíngue – ou seja, só fala o português.
Diante da precarização que compromete o bom andamento dos serviços prestados pela Polícia Judiciária à sociedade, o Sindipol/ES adotou medidas solicitando a reestruturação da Delegacia do Turista.
“O Sindipol/ES, entidade legitimamente constituída para representar e defender os interesses, garantias e prerrogativas dos policiais civis, presta aqui o seu reconhecimento e agradecimento aos valorosos policiais civis que prestam relevantes serviços na Delegacia do Turista, mesmo diante das dificuldades impostas. Temos consciência da importância desta estimada unidade policial, dado o alto índice de turistas que o nosso Estado recebe anualmente”, salienta o presidente do Sindipol, Jorge Emílio Leal.
Embora haja o descaso das autoridades, o Espírito Santo recebe milhares de turistas estrangeiros todos os anos. Em 2014, foi sede das seleções de Camarões e Austrália para os jogos da Copa do Mundo. Também recebe shows internacionais,como o de Paul McCartney. “E mais: em2016m, teremos as Olimpíadas do Rio de Janeiro e nosso Estado espera receber delegações estrangeiras que virão participar dos Jogos, além de turistas”, lembra Jorge Emílio.
O Sindipol encaminhou ofício à Chefia de Polícia a fim de que um policial civil bilíngue seja designado para trabalhar na DP do Turista “para o bom andamento dos trabalhos”, bem como seja realizada uma reestruturação na unidade, “em respeito aos servidores que ali atuam de forma heroica, com o ensejo de tornar a Polícia Civil mais eficaz e cidadã, e o policial civil devidamente reconhecido e valorizado pelo seu mister profissional.” O ofício do Sindipol encaminhado à delegada Gracimeri Gaviorno está no link
http://www.sindipol.com.br/site/images/pdf/oficiogracimeri.pdf
(Fotos: Sindipol/ES)