O Alto Comando da Polícia Militar decidiu, na tarde desta sexta-feira, que o secretário de Estado da Segurança Pública e Defesa Social, delegado federal Rodney Miranda, está praticamente impedido de entrar em qualquer unidade militar do Espírito Santo.
A decisão acaba de ser comunicada ao comandante geral da PM, coronel Oberacy Emerich Júnior. Os militares – oficiais e praças – tomaram a decisão depois de duas horas de reunião, na sede da Associação dos Militares da Reserva, Reformados, da Ativa, Pensionistas da PM e do Corpo de Bombeiros.
O grupo também tomou outras três decisões: na próxima semana, eles vão começar a espalhar cinco out door pela Grande Vitória pedindo a saída de Rodney; dentro de duas semanas vão a Brasília protocolar, em três órgãos, denúncia contra o secretário da Segurança; e decidiram dar apoio “irrestrito” ao comandante Emerich e ao governador Paulo Hartung.
A crise entre os militares e Rodney começou com o lançamento do livro “Espírito Santo”, escrito pelo secretário, o juiz Carlos Eduardo Lemos Ribeiro e o sociólogo Luiz Eduardo Soares.
O livro, segundo os autores, revela os bastidores do assassinato do juiz Alexandre Martins de Castro Filho, ocorrido em março de 2003. De acordo com os militares, os autores teriam denegrido a imagem da PM e de policiais, que, mesmo sem ter sido citados nas investigações da Polícia Civil e nos processos da Justiça, tiveram seus nomes “manchados” pela obra literária.
O presidente da Associação dos Policiais Militares da Reserva, coronel da reserva Carlos Augusto, informou que em duas semanas representantes de entidades militares vão a Brasília protocolar denúncias contra os autores do livro no Conselho Nacional de Justiça, no Conselho do Ministério Público e na Procuradoria Geral da República.
Na semana que vem, os oficiais e praças contratarão empresa que vai confeccionar cinco out door para serem colocados em pontos estratégicos na Grande Vitória, com dizeres de protesto contra o secretário da Segurança e pedindo sua saída do governo.
Os representantes dos militares também se reuniram com o comandante Emerich, a quem informaram sobre as decisões tomadas na reunião. No encontro com Emerich, os oficiais deixaram claro seu apoio “irrestrito” ao comandante e ao governador Hartung:
“Decidimos que, caso o governador ou o secretario da Segurança decida pela exoneração do comandante Emerich, nenhum dos 14 coronéis da ativa vai aceitar assumir o cargo de comandante geral da PM”, disse Carlos Augusto. Ele ressalvou, no entanto, que não há nenhum comentário ou boato na esfera do governo sobre mudança no comando geral.
Segundo Carlos Augusto, os oficiais se anteciparam a um outro fato:
“Ouvimos dizer que o secretário da Segurança teria dito que iria a uma solenidade que vai se realizar no QCG (Quartel do Comando Geral, em Maruípe). É melhor ele desistir, porque é persona non grata dentro da PM”, disse Carlos Augusto, falando em nome dos representantes de todos os militares.
Pela decisão dos militares, Rodney Miranda está praticamente proibido de entrar em uma unidade militar – seja o QCG, batalhões ou companhias –, embora “proibido” não seja o termo empregado pelo coronel Carlos Augusto:
“Na verdade, não podemos proibir ninguém de entrar em uma unidade militar”, justificou o coronel.
“Os que 14 coronéis que comandam a PM decidiram é que se ele (Rodney) entrar em qualquer unidade militar, todos sairão. Ele (Rodney) vai ficar sozinho. A segurança só tem um jeito: a saída de Rodney. Ele nos ofendeu demais”, afirmou o coronel.
Segundo Carlos Augusto, no livro há 48 citações a policiais militares e 23 à instituição. “O secretário denegriu a imagem da corporação. Não estamos aqui defendendo os policias (um coronel da reserva e dois sargentos) acusados de envolvimento no assassinato do juiz Alexandre Martins. Estamos defendendo os militares inocentes citados no livro e à nossa instituição. Os acusados que estão sendo processados têm que se defender é na Justiça. Repito: nossa defesa é em nome da honra dos militares e da corporação”, disse Carlos Augusto.
SILÊNCIO
A assessoria de imprensa da Sesp foi informada sobre todo o conteúdo desta reportagem, antes de sua publicação. Porém, alegou que o secretário Rodney vai permanecer sem pronunciar sobre o assunto.