Em maio de 2020, foi instalado o Núcleo de Apoio Psicossocial (NAP) no âmbito da Associação das Praças da Polícia Militar e do Corpo de Bombeiros do Estado do Espírito Santo. Foi criado para prestar atendimento psicológico presencial e remoto aos seus associados e dependentes. A medida foi considerada necessária, à época, por conta da preocupação ao estresse emocional causado pela pandemia da Covid/2019, uma vez que policiais e bombeiros militares não deixaram de trabalhar, por cumprirem atividades essenciais. Mais do que preparar sua clientela a lidar com a grave pandemia, o NAP surgiu também devido a outras necessidades no campo emocional, conforme se vê nesses quatro anos e quatro meses de existência: o grupo ajuda a valorizar as atividades de seus associados e familiares no campo motivacional, ajudando, sobretudo, a salvar vidas.
Há quatro anos, o NAP/Aspra vem desenvolvendo campanhas que são trabalhadas também no chamado ‘Setembro Amarelo’, que é uma campanha de valorização à vida na prevenção ao suicídio, um tema que pode ser considerado de utilidade pública. O NAP tem o objetivo não somente acolher e acompanhar os militares em adoecimento e vulnerabilidade, mas também provocar e promover a mudança de fora para dentro, mudando pouco a pouco os paradigmas históricos enraizados na profissão e que não cabem mais. Desta forma, o Núcleo se utiliza de encontros, palestras e conteúdo digital nas temáticas pertinentes, visando o alcance efetivo deste tema imprescindível atualmente.
Uma das psicólogas da Aspra, Debbie Souza Nascimento, explica como trabalha a saúde emocional dos policiais e bombeiros militares e seus dependentes. “Conseguimos implantar políticas públicas que visam a combater questões emocionais prejudiciais à saúde dos associados, inclusive, o pensamento suicida. São questões que surgem no dia a dia, como transtornos ansiosos, depressivos e a Síndrome de Burnout (definida como um estado de tensão e exaustão física, emocional e mental extrema, cujo motivo primário está relacionado com a atividade/ ambiente profissional).
O NAP é composto por múltiplos profissionais, como psicólogas, assistentes sociais, médico e psiquiatra. Junto com dirigentes da Aspra, o grupo visita unidades da PM e do Corpo de Bombeiros para apresentar trabalho de prevenção. O grupo também mantém as portas abertas, na sede administrativa da Aspra, no bairro Joana D’Arc, em Vitória, para atender qualquer associado e ou dependente. O primeiro contato é com assistente social, que faz o acolhimento e, depois – se necessário –, realiza o encaminhamento para um médico (clínico-geral), psicóloga ou psiquiatra.
De acordo com Debbie Nascimento, quando se deparam com algum caso de “pensamento de suicídio”, as equipes do Núcleo de Apoio Psicossocial (NAP) da Aspra trabalham arduamente para reverter a situação. Na maioria das vezes, se trabalha com medicação e terapia, e o retorno dos associados-pacientes ao tratamento é altamente positivo.
O agora vice-presidente da Aspra, 3º sargento PM Ted Candeia, era o diretor Social da entidade quando o NAP foi criado, no segundo mandato do atual presidente, cabo PM Jackson Eugênio Silote. Segundo Ted, há casos em que a entidade encaminha ofício ao Comando-Geral da Polícia Militar ou do Corpo de Bombeiros solicitando a transferência do militar que apresenta problemas de depressão. Sargento Ted confessa que, no início, duvidada do sucesso alcançado pelo NAP, “porque policiais militares, na maioria das vezes, têm muita resistência e vergonha ao trabalho de terapia”. Entretanto, salienta Ted, quando o associado-paciente “pede ajuda, fica mais fácil a intervenção das equipes do NAP”. Hoje, frisa sargento Ted, o interesse dos colegas de farda em procurar ajuda e o trabalho desenvolvido pelas equipes do NAP mudaram seu pensamento: “A missão me foi dada pelo presidente [cabo Eugênio] e estou cumprindo”, sintetiza o dirigente da Aspra.
Sargento Ted Candeias informa ainda que outra psicóloga da Aspra, Jennifer Costa, passou a gravar vídeos abordando a saúde mental e postou nas redes sociais da entidade. Bem didática, a profissional foi acolhida com muita empatia pelos policiais e bombeiros militares de todo o Estado. As ações de Jennifer nas redes sociais ajudaram os associados que enfrentavam problemas com a saúde mental a procurar ajuda do NAP: “Havia um preconceito gigante, mas aos poucos nossas equipes foram quebrando tabus. Certa vez, numa ação do NAP no Batalhão de São Mateus, os policiais pararam as viaturas para conversar com as nossas psicólogas e serem atendidos. Foi algo que causou muita emoção”, lembra Ted.
Anistia administrativa concedida pelo governador também ajudou na melhoria da saúde mental
O vice-presidente da Aspra, 3º sargento Ted Candeia, entende que a anistia das penalidades e procedimentos administrativos impostos aos militares estaduais em razão da crise na segurança pública ocorrida em fevereiro de 2017 foi fundamental para a melhoria da saúde mental dos policiais e, sobretudo, pela redução no número de suicídios. A anistia administrativa foi concedida a pelo menos 2.622 PMs pelo governador Renato Casagrande (PSB), em janeiro de 2019, tão logo assumiu o primeiro ano de sua segunda gestão à frente do Executivo Estadual. A anistia foi aprovada, à unanimidade, pela Assembleia Legislativa em 16 de janeiro de 2019.
De acordo com a Aspra, de 2017 até agora em 2024, pelo menos 24 militares estaduais capixabas cometeram suicídio. O pior período teve início em fevereiro de 2017, quando, no terceiro ano do terceiro mandato do governador Paulo Hartung, familiares dos policiais ocuparam as entradas dos quartéis e demais unidades da PM em todo o Estado, impedindo a saída de viaturas e de policiais, provocando, assim, o que parte da tropa já vinha desenhando há tempos na briga por melhoria de salário. Ocorreu um aquartelamento de 22 dias.
Naquele ano de 2017, foram cinco suicídios, contra dois em 2018 e outros dois em 2019. Mesmo com o trabalho das entidades de classe, das corporações policiais e do Governo do Estado, os números ainda são assustadores: “De 2020 até agora, são, em média, três suicídios por ano”, lamenta sargento Ted, que, no entanto, completa:
“A anistia concedida pelo governador [Renato Casagrande] teve impacto na queda do número de suicídios. A anistia deu alívio e desafogo aos policiai punidos pelos PADs [Processos Administrativos Disciplinares] instaurados por conta do momento de fevereiro de 2027”.
O vice-presidente Ted Candeia faz, atualmente, pós-graduação na área de Saúde, Direitos Humanos e Segurança Pública, com o tema ‘Autoextermínio dos Militares Capixabas’. Graduado em Direito, Ted faz a pós-graduação na Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) e tem como orientador o doutor e psicólogo Pedro Luiz Ferro. O dirigente de classe incluiu em seus estudos uma pesquisa sobre licenças médicas envolvendo policiais e bombeiros militares por transtorno mental, com base no Sistema Integrado de Administração da Secretaria Estadual de Gestão e Recursos Humanos (Seger).
De acordo com Ted Candeia, em 2017 pelo menos 3.310 militares foram afastados das atividades com laudo médico. No ano seguinte, foram 1.759 licenciados; contra 1.428 em 2019. Os números vêm caindo: em 2020, o Estado registrou 1.242 licenças médicas entre militares; 1.193 no ano seguinte; 874 em 2022; e 671 policiais afastados em 2023.
Terapia e esportes
A Aspra aposta com serviços de terapia e om práticas desportivas como forma de prevenção. Atualmente, a entidade organiza a Copa ASPRA-ES, anteriormente conhecida como Copa ACS, e que teve sua primeira edição realizada em 2018. A iniciativa surgiu como uma forma de integrar ainda mais os militares, proporcionando um ambiente de confraternização e competição saudável, conforme afirmou o vice-presidente Ted Candeia.
“Procuramos, com as práticas desportivas, promover o bem-estar e a qualidade de vida dos nossos associados e seus familiares. Utilizamos o esporte como ferramenta de integração e motivação”, afirma Ted, que está respondendo interinamente pela Presidência da Aspra porque o presidente, cabo Eugênio, se encontra no Curso de Habilitação de Sargento (CHS), na Academia da Polícia Militar.
Hoje, a Copa Aspra incluiu diversas modalidades esportivas, como futebol, voleibol, basquete, entre outras, permitindo que os militares mostrem suas habilidades e talentos além do ambiente de trabalho. Neste ano de 2024, a Copa Aspra chega à sua 6ª edição com grandes expectativas.
Neste ano de 2024, a Aspra promoveu a 7ª Corrida do Soldado Confiauto. Foi realizada no dia 11 de agosto, em Vila Velha, e reafirmou seu status como a maior corrida da segurança pública do Espírito Santo. O evento se destacou pela competição esportiva e pelo seu forte compromisso social. O percurso de 10 quilômetros pelas orlas de Vila Velha teve largada no Boulevard Shopping e seguiu pela costa das praias de Itaparica, Itapuã e Praia da Costa, com a linha de chegada no Estacionamento da Prainha, proporcionando aos participantes vistas panorâmicas das praias locais. A Corrida do Soldado teve mais de 2 mil corredores inscritos.