A Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal (ADPF) divulgou na tarde desta segunda-feira (15/07) uma nota em que repudia “veementemente” os ataques do senador capixaba Marcos do Val (Podemos) ao delegado Federal Fábio Alvarez Shor, responsável por investigações da PF em casos sob relatoria do ministro do Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). Do Val, que é investigado por tentativa de golpe e associação criminosa, afirmou que o delegado Fábio Shor é “capataz” de Moraes. Indignados, delegados reagiram às ofensas do senador a Shor, reconhecido entre seus colegas por sua atuação rigorosa na condução de inquéritos de competência e atribuição do STF. Um dos investigados pelo delegado é o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
“Hoje venho a público denunciar um grave problema que está afetando a integridade da nossa nação e a segurança dos nossos cidadãos. Trata-se do delegado da Polícia Federal Fábio Alvarez Shor, que tem agido como o capataz do ministro Alexandre de Moraes, cometendo sérias violações contra a Constituição e os direitos humanos dos brasileiros. Shor tem invadido residências com mandados de busca e apreensão ilegais, apontando armas na cara de crianças, e confiscando celulares dessas crianças. Essas ações são desumanas e inaceitáveis, e estão sendo realizadas sob a falsa bandeira da Polícia Federal, quando na verdade são ordens diretas de Alexandre de Moraes, com a conivência deste delegado covarde”, disse o senador em postagem nas redes sociais, sem apresentar provas.
Marcos do Val ainda publicou a foto do delegado em uma montagem com título “procura-se”, em referência a um procurado pelas autoridades. “Além disso, é importante ressaltar que Fábio Alvarez Shor sumiu das redes sociais após o assassinato do agente da Polícia Federal Wilton Tapajós, em 2012. Naquela época, Shor também era agente e virou delegado posteriormente. Ele foi testemunha no processo, pois estava envolvido na Operação Monte Carlo que investigava Carlinhos Cachoeira. Após o crime, ocorrido em 2012, e o medo que se espalhou entre os policiais federais da operação, Shor desapareceu completamente das redes sociais em 2013, provavelmente por medo. Quero aproveitar para comunicar à imprensa e ao público em geral que a Polícia Federal está sendo usada indevidamente. Quando se diz que a Polícia Federal determinou, investigou, ou indiciou, na verdade é Alexandre de Moraes que está por trás, com a anuência do delegado Fábio Alvarez Shor. Este delegado já está na lista do Tribunal Criminal Internacional, e isso não foi por falta de aviso. Sempre alertei que cumprir ordens ilegais é, por si só, uma ilegalidade. Brasil, é hora de tornar este delegado conhecido. Seu nome já consta na Organização dos Estados Americanos (OEA) e no Tribunal Criminal Internacional, e será apenas uma questão de tempo até que a justiça seja feita.”
Esta é a segunda vez que do Val faz ataques contra autoridades. Há duas semanas, o senador afirmou ter provas de que o ministro Moraes manipulou as eleições de 2022 para beneficiar o atual presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT). No entanto, nenhum documento foi apresentado pelo parlamentar para embasar as acusações.
Delegados federais saem em defesa de Fábio Shor e vão processar Marcos do Val
Em nota, a Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal repudia a atitude do senador Marcos do Val em face de uma autoridade policial que exerce o trabalho de Polícia Judiciária da União. A entidade manifesta apoio irrestrito e solidariedade ao delegado Fábio Shor. “A Associação não vai admitir que nenhum Delegado ou Delegada Federal seja covardemente atacado em decorrência da condução da investigação. Os elementos informativos e provas produzidas no inquérito policial devem ser discutidos pela via adequada, ou seja, a judicial, não sendo admitida em hipótese nenhuma a personalização das críticas em redes sociais com objetivo de ferir e expor moralmente o profissional responsável pela condução do inquérito policial”, diz trecho da nota.
Para a entidade, a atitude do senador Marcos do Val põe em risco a vida do delegado Shor e de sua família: “Essa grave conduta pode, inclusive, colocar em risco a vida do Delegado e de sua família. Além de infelizes, os ataques desconsideram a autonomia investigativa do Delegado, que é manifestada na conclusão do inquérito, sendo esse ainda submetido à análise do Ministério Público e a uma decisão final do juízo competente, notadamente em relação as medidas cautelares.”
Ainda segundo a nota, “a entidade está estudando as medidas judiciais cabíveis e se prontifica a dar todo o apoio necessário ao Delegado Fábio Shor. Reiteramos que a integridade e a dignidade dos Delegados de Polícia Federal devem sempre e incondicionalmente ser preservadas e respeitadas, uma vez que desempenham um papel fundamental na manutenção da justiça e da ordem no nosso País.”