Deputado estadual em seu terceiro mandato não consecutivo, João Coser é o pré-candidato a prefeito de Vitória pelo Partido dos Trabalhadores (PT). Vindo do movimento sindical, Coser já foi deputado federal por dois mandatos e prefeito de Vitória também por dois mandatos. Nesta entrevista ao ‘site’ Blog do Elimar Côrtes, João Coser afirma apostar na sua experiência e na sua capacidade de diálogo e articulação como diferencias para conquistar a preferência do eleitorado da Capital do Espírito Santo. Em suas redes sociais e entrevistas recentes, Coser tem dito que sua pré-candidatura tem por objetivo tirar Vitória do isolamento. Hoje, a Capital capixaba tem como prefeito o delegado de Polícia Civil licenciado Lorenzo Pazolini (Republicanos), que foi deputado estadual por dois anos:
“Vitória precisa recuperar o seu protagonismo. Perdemos competitividade, importância política e econômica. Nem mesmo os grandes eventos culturais acontecem mais em Vitória. Perdemos capacidade de articulação com os municípios e com os Governos do Estado e Federal. Vitória está isolada. Não dialoga sequer com os moradores da cidade. Isso precisa mudar!”, afirma o pré-candidato.
João Carlos Coser nasceu em Santa Teresa e veio para Vitória aos 17 anos. Hoje tem 68 anos, é casado com Eliana Mara, pai de Karla Coser, vereadora de Vitória, e de Luiz Carlos, médico residente em São Paulo. João Coser é bacharel em Direito. Iniciou sua participação na vida política a partir do envolvimento com movimentos sociais e sindicais. Foi um dos fundadores do PT no Espírito Santo, partido em que se encontra até hoje. Foi presidente do Sindicato dos Comerciários do Espírito Santo e primeiro presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT-ES). Atualmente, exerce seu terceiro mandato como deputado estadual e é o 1º secretário da Mesa Diretora da Assembleia. João Coser administrou Vitória por dois mandatos consecutivos: de 1º de janeiro de 2005 a 1º de janeiro de 2013, quando foi sucedido por Luciano Rezende (Cidadania).
Blog do Elimar Côrtes – Que obras o senhor entende que marcaram seus oito anos como prefeito de Vitória?
João Coser – Realizamos muitas obras que mudaram significativamente a vida das pessoas e preparam a cidade para o futuro. É quase impossível imaginar como Vitória seria hoje sem as obras viárias que executamos, como a ampliação da Avenida Fernando Ferrari, a construção da nova Ponte da Passagem (Foto ao lado) e sua ciclovia, a ampliação da Ponte de Camburi – de duas para três faixas – e a urbanização da Praia de Camburi. Esta urbanização e a instalação dos novos quiosques transformaram aquela região.
Outro legado importante da nossa gestão para Vitória foram as obras de macrodrenagem nos bairros República, Mata da Praia, Jardim Camburi, toda bacia de Maruípe, incluindo a construção da estação de bombeamento na Cândido Portinari, e o início das obras do reservatório de amortecimento no Horto de Maruípe. Igualmente importante foram as intervenções de esgotamento sanitário de toda cidade, que colocou Vitória em condições de coletar e tratar 100% do esgoto. Estes investimentos contribuíram com a melhoria da qualidade de vida, reduzindo áreas que alagavam e contribuindo com o meio ambiente.
Eu destaco ainda um conjunto de realizações que fizemos para ampliar e qualificar as unidades de saúde, as escolas, os parques municipais. Fizemos um investimento muito bacana nas políticas sociais, com a construção e reforma de centenas de unidades habitacionais; a implantação do Restaurante Popular; o Centro de Especialidades Médicas, equipamentos e serviços para atendimento à juventude, à pessoa idosa, pessoas em situação de rua, etc. E ainda projetos implantados como o novo Tancredão, a Praça do Papa, a Praça Dom João Batista, em São Pedro.
– Em meados de dezembro de 2012, o senhor compareceu à Câmara de Vereadores e prestou contas de seus oito anos de mandato. Destacou, na ocasião, as 311 obras entregues e 21 concursos públicos realizados nos dois mandatos. Doze anos se passaram e o que melhorou e ou piorou em Vitória nesse período?
– Pouca coisa mudou. Praticamente nenhuma obra estruturante foi realizada pelo Município. Tivemos reformas, asfalto em cima de asfalto, e intervenções em alguns parques, pouca coisa nova. Além de não avançarmos a partir do que foi deixado, a cidade perdeu equipamentos e serviços. Perdemos o Restaurante Popular, que não funciona até hoje; o Centro de Referência da Juventude foi reaberto faz pouquíssimo tempo, a política para a pessoa idosa não avançou. Perdemos vários espaços culturais como a Estação Porto, o Mercado São Sebastião e também espaços esportivos com o DED e o Tancredão não funcionam com toda sua capacidade. Tínhamos um conjunto de políticas sociais com ações com foco na segurança alimentar; os projetos de habitação popular seguem de forma muito tímida. Além disso, perdemos qualidade e capacidade de atendimento na área da saúde. Vitória estava em primeiro lugar no Idesus (Índice de Desenvolvimento do Sistema Único de Saúde), fizemos um investimento muito pesado para ampliar e qualificar o atendimento aos cidadãos, com novas e mais adequadas unidades de saúde, concurso público em diversas áreas, ofertas de consultas e exames especializados e hoje não temos mais isso na saúde. Perdemos também competitividade, importância econômica. Perdemos toda a centralidade política. Vitória hoje não é mais o centro nem econômico, político, nem cultural da Grande Vitória. Perdemos inclusive a capacidade de articulação e captação de recursos para importantes projetos na cidade.
Quando fui prefeito, buscava sempre o debate metropolitano, porque muitas das situações e problemas que vivemos são comuns aos demais municípios e, como isto, investíamos no diálogo com o Governo Estado e com o Governo Federal. Hoje o município de Vitória está isolado, não dialoga, inclusive não dialoga com as comunidades. Perdemos o Orçamento Participativo, os conselhos de políticas públicas estão enfraquecidos. Perdemos toda a capacidade de articulação, de ouvir e de envolver a sociedade no debate sobre a cidade que queremos construir.
– O senhor foi o primeiro prefeito de Vitória que transformou em moradias prédios antigos de Vitória, como o Hotel Estoril. O senhor pretende, caso seja eleito prefeito, voltar com esse tipo de política social?
– Foi muito importante a transformação daqueles prédios vazios em unidades habitacionais, foi uma política acertada. Entregamos as unidades no antigo Hotel Estoril (Foto ao lado) e as obras de adequação dos prédios dos hotéis Tabajara e Pouso Real estavam em andamento. Tenho certeza que a oferta de unidades habitacionais é fundamental, para requalificar o nosso Centro histórico. Precisamos dinamizar o Centro e o uso desses imóveis para habitação é muito importante para levar movimento ao Centro, incentivando a atividade econômica e a cultura na região.
O programa de governo que estamos elaborando prevê sim o desenvolvimento de ações que possam contribuir para ocupação do Centro, com o aproveitamento de prédios fechados e outros. Essa é uma política que seguramente terá o apoio do Governo Federal, que também tem desenvolvido importantes iniciativas junto aos estados e municípios para a ampliação da oferta de habitação de interesse social. O Centro de Vitória terá toda nossa atenção.
– O senhor foi responsável por uma importante obra viária, que foi a ampliação da Avenida Fernando Ferrari e a construção da nova Ponte da Passagem. Fale da dificuldade que foi encarar o projeto e da importância dessas obras para a cidade e a Região Metropolitana.
– Essas obras tinham caráter metropolitano. Eu sabia que seria desafiador, mas eram obras fundamentais para preparar Vitória para o futuro. Hoje, sem as ampliações, seria praticamente impossível circular na cidade. Mas um dos principais desafios que tivemos em Vitória para execução de grandes obras foi a desapropriação de áreas. Só na Avenida Fernando Ferrari foram 98 desapropriações. O tempo de solução dessas desapropriações, que nem sempre se resolviam administrativamente, acabou alongando o prazo de execução da obra, mas graças a Deus conseguimos superar os impasses e concluir a avenida. Sempre nos preocupávamos com a qualidade dos projetos, com planejamento financeiro, com a captação de recursos com o Governo Federal, com o Governo do Estado, e com o debate com a população para execução das obras por meio do Orçamento Participativo. Esse conjunto de elementos nos dava muita segurança de que estávamos fazendo o melhor para a cidade.
– A sua gestão também marcou a melhoria do acesso à Vitória pela Região Sul, onde fica o Portal do Príncipe. Críticas surgiram à época porque as obras causaram transtorno no trânsito. Mas valeu a pena, né deputado?
– Nossa intenção era qualificar o acesso Sul de Vitória da mesma forma como fizemos com o acesso Norte. Fizemos todo o projeto do Portal do Príncipe e o Governo do Estado assumiu a execução. Mas outras intervenções na região contribuíram para ir qualificando aquele espaço e beneficiar os moradores, como o Tancredão e o Centro de Especialidades Médicas. Mas a obra que mais causou incômodo foi a drenagem da região de Maruípe. Foi uma obra demorada, que cortou toda a Avenida Maruípe, com pontos de até sete metros de profundidade. Foi muito desgastante para todos. A cidade sofreu bastante mais sabíamos que estávamos trabalhando para resolver um problema de anos e que afetava e muito a vida dos moradores.
– Setores do funcionalismo, como os profissionais da educação, reclamam pela falta de diálogo da atual gestão com os servidores. O senhor pretende, se eleito, retomar o diálogo com o funcionalismo?
– É fundamental a motivação do servidor. Quem qualifica o atendimento na cidade é o servidor público. Isso vale para todas as áreas. Nós implementamos várias ações com o objetivo de envolver, motivar, respeitar e valorizar os servidores. Tínhamos uma política salarial, mesas de negociação permanentes, fazíamos anualmente a correção da inflação e sempre que possível promovendo ganho real nos salários, investimos na elaboração e revisão de planos de cargos e salários e priorizamos uma política de acesso ao serviço público por meio de concurso.
Quando chegamos à Prefeitura de Vitória, em 2005, apenas 35% dos servidores da saúde eram efetivos e, quando saímos, em 2012, este percentual passou para 90%. Realizamos concursos em diversas áreas. Foram 21 concursos públicos para mais de 160 cargos. Só na Educação foram cinco. Investimos na qualificação dos servidores. Criamos a Escola de Governo, antes era uma gerência, e a Escola Técnica de Formação Profissional de Saúde. Praticamente dobramos o contingente da Guarda Municipal, treinamos e valorizamos os agentes. A Guarda Municipal bem treinada e respeitada que temos hoje teve início com nosso trabalho. Havia uma relação de proximidade e de confiança entre a gestão e os servidores, uma coisa que a gente não vê hoje. Eu acredito numa gestão que promova uma cultura organizacional mais horizontalizada, que valorize seus servidores, que reconheça e promova as lideranças positivas, pois acredito que um servidor motivado presta um serviço de maior qualidade e quem ganha com isso é a sociedade, são os moradores de Vitória.
– Como senhor analisa o atual nível da educação em Vitória?
– Na educação demos passos importantes visando à melhoria física das unidades de ensino, trabalhando para assegurar o direito de acesso a todos à educação; a formação de um quadro efetivo para um atendimento mais adequado e qualificado às nossas crianças; a garantia de melhorias salariais e a progressão ao longo da carreira, não descuidando de algo caro para nossa proposta educacional, que é a gestão democrática e a inclusão.
Hoje temos recebidos muitos profissionais da educação sempre com apontamentos sobre o que se estava construindo e o quanto isso vem sendo atacado. Estes ataques passam pelo aumento da pressão aos profissionais, pela criação de ambiente que não favorece o diálogo, pela perseguição a alguns profissionais que se arriscam em dar sua opinião a falar dos problemas que vivenciam no espaço escolar. Nestas muitas conversas me sinto desafiado a um olhar mais especial para a educação do nosso município e para aquelas e aqueles que a constroem no dia-a-dia.
– Como deverá ser a Vitória do futuro na sua visão?
– Estamos trabalhando em um projeto arrojado. Ele ainda está em construção e debate. Mas é um projeto que tem por objetivo recuperar o protagonismo político e econômico da nossa cidade; apresentar propostas de políticas sociais e de inclusão de maior alcance; que possa dar conta de debater os principais desafios da cidade no seu processo de desenvolvimento, de melhoria da mobilidade, de qualificação do Centro Histórico, entre tantos outros. Temos um desafio grande de recuperar a importância e a capacidade da saúde ofertada pelo Município. Para isto é preciso aportar recursos nessa área. Melhorar o atendimento de urgência e emergência com uma nova Unidade de Pronto Atendimento (UPA), ampliar a oferta de consultas e exames especializados para reduzir a dependência da oferta do Governo do Estado. Não justifica uma cidade como Vitória ter uma parcela da população aguardando atendimento por até dois ou três anos para uma especialidade, uma consulta ou exame.
Na educação, o esforço é para qualificar o ensino municipal, que ainda é aquém do desejado e do que é possível fazer em uma cidade como Vitória. E isso você faz com motivação, com formação, faz com incentivo. É desafiador, mas precisamos apresentar uma política para a população em situação de rua, que passa pelo acolhimento, pela oferta de oportunidades e ações continuadas que assegurem respeito aos direitos de todos os cidadãos.
– Na sua percepção, que obras são mais necessárias hoje em Vitória?
– As obras que eu considero mais importantes são as dos bairros mais populares, das regiões de periferia. Precisamos pensar em projetos habitacionais, de melhoria da infraestrutura e urbanização dos bairros populares de Vitória, em especial dos morros, para que as pessoas possam ter mais dignidade, onde a circulação diária possa ser facilitada, acabando com o isolamento e a exclusão das pessoas. É importante com isto pensar uma grande ação ambiental para preservar as parte mais alta da cidade e reduzir a ocupação irregular nestas áreas. Acredito que tão importante quanto à realização de novas obras é voltarmos a dar atenção às pessoas. Nós temos políticas públicas que são necessárias para garantir esse cuidado com as pessoas. No caso específico das pessoas idosas, destaco os Centros de Convivência da Pessoa Idosa. Em 2005, quando chegamos à Prefeitura, tinha um Centro de Convivência, nós criamos outros três, e desde então nenhum outro foi implantado e nossa população está envelhecendo.
Vamos analisar a possibilidade de ampliar o Restaurante Popular, que está desativado até hoje, criando uma nova unidade em outra região da cidade, e também estamos estudando a implantação de um programa de cozinhas comunitárias. Ou seja, temos ações e serviços capazes de qualificar a atenção e o cuidado às pessoas. São projetos viáveis e de grande transformação social. Basta o gestor ter essa preocupação. Estamos construindo nosso programa de governo a partir de debates nas regionais da cidade e ouvindo as sugestões da população. Há também um grupo técnico trabalhando junto com representantes de diversos segmentos da sociedade. Queremos construir um programa de governo que corresponda aos sonhos e necessidades dos moradores da cidade e que tire Vitória do isolamento. Será um programa abrangente que, sem dúvida, vai chegar ao coração e à mente dos cidadãos de nossa cidade.