O Fantástico, da Rede Globo, do último domingo (12/05) abordou o sofrimento da população gaúcha causado pelas enchentes no Rio Grande do Sul e uma das reportagens apresentou um questionamento: o que poderia ser feito para evitar esse tipo de tragédia? Uma das soluções apontadas é o conceito das Cidades-Esponja, que são cidades desenhadas para absorver um grande volume de água. Elas foram criadas pelo chinês Kongjian Yu, que já projetou obras em mais de 70 cidades pelo Planeta afora. Em Nova Iorque, nos Estados Unidos, um parque foi projetado com esse conceito. Quando chove e coincide com a alta da maré no estuário que banha a ilha, a água pode escoar por canos subterrâneos que desembocam em um grande pântano de 6 mil metros quadrados, cheio de plantas nativas que gostam da água salgada.
No Espírito Santo, o deputado Estadual Denninho Silva apresentou o Projeto de Lei 022/2024 em abril de 2024, que dispõe sobre a adoção de mecanismos sustentáveis de gestão das águas pluviais para controle de enchentes e alagamentos, aplicando nos investimentos e convênios celebrados pelo Estado junto aos municípios o conceito de Cidade-Esponja. Dentre os mecanismos utilizados, alguns são passíveis de aplicação no Estado e, portanto, foram previstos neste projeto de lei: pavimentos de revestimentos permeáveis e/ou de estrutura porosa; teto-verde, também conhecido como telhado-verde ou telhado ecológico; jardins de chuva; valas de infiltração e bueiros ecológicos.
“A implementação desses mecanismos não apenas reduz o risco de inundação, objetivo primordial deste projeto de lei, mas também melhora a qualidade da água, amplia a disponibilidade de água, mitiga os efeitos das ilhas de calor. É uma alternativa inovadora, viável e sustentável para um problema que tende a se agravar com as mudanças climáticas”, afirma o deputado Denninho. O projeto tramita na Assembleia Legislativa.
Em entrevista ao Fantástico, Kongjian Yu contou que nasceu em uma vila, localizada em uma área de monções, e chove muito durante o verão. Após viver 17 anos trabalhando como agricultor, ele aprendeu como trabalhar com a natureza. Quando se mudou para cidade grande, Yu entendeu por que as cidades inundam. “A natureza se adapta, é viva. O conceito de Cidade-Esponja é baseado no princípio de que a natureza regula a água”, disse o arquiteto chinês.
Atualmente, Yo trabalha como consultor do governo da China chinês e já desenvolveu mais de 70 cidades que são capazes de absorver mais volume de chuva do que o que atinge o Rio Grande do Sul. Segundo o especialista, o primeiro ponto é reter a água da chuva assim que ela cai do céu e que perto dos rios, é necessário ter áreas porosas, e não pavimentadas. Além disso, é necessário diminuir a velocidade dos rios
“Quando você desacelera a água, você dá a oportunidade pra natureza absorvê-la. Para desacelerar, você usa a vegetação e cria um sistema de lagos”, disse ele ao Fantástico.
Outra característica importante das Cidades-Esponja é a adaptação para que elas tenham áreas alagáveis para onde a água possa escorrer sem causar destruição. Ou seja, é necessário criar grandes estruturas naturais alagáveis para que a chuva possa ser contida por um tempo e, depois, rapidamente absorvida pelo lençol freático sem invadir as casas. O sistema foi implementado em Taizhou e Jinhua, na China, onde muros de concreto que canalizavam rios foram demolidos e substituídos por parques. Outras cidades do mundo, como Berlim, Copenhague e Nova Iorque, também adotaram propostas semelhantes para evitar catástrofes relacionadas as chuvas. Segundo o arquiteto chinês, construir cidades-esponja ajuda não só a enfrentar a força da água no período de chuva, como também mantê-la fluindo pelas torneiras durante os meses mais secos do ano.