O governador Renato Casagrande (PSB) teve manifestações de destaque durante a 10ª Reunião do Consórcio de Integração Sul e Sudeste (Cosud), realizada semana passada em Porto Alegre e que reuniu chefes dos Executivos dos Estados que compõem as Regiões Sudeste e Sul do País. Casagrande foi o único governador a conceder entrevistas exclusivas à imprensa e, na coletiva em que estavam os dois governadores, foi o mais contundente em dois assuntos polêmicos: as diferenças ideológicas dentro do Cosud e a Proposta de Emenda à Constituição Federal que tramita no Senado e trata da Reforma Política.
A reunião do Cosud começou na quinta-feira (29/02) e se encerrou no sábado (02/03). Lá estiveram, além de Casagrande e o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), os seguintes chefes de Estado: Tarcísio de Freitas (SP/Republicanos); Cláudio Castro (Rio/PL); Romeu Zema (Minas/Novo); e Ratinho Júnior (Paraná/PSD). O governador de Santa Catarina, Jorginho Mello (PL), enviou representante por estar com problemas de saúde.
Renato Casagrande chegou a Porto Alegre na quinta-feira. Desembarcou no Aeroporto Salgado Filho às 14 horas e foi direto para a Rádio Guaíba, que fica no centro histórico da capital gaúcha. Foi recebido pelo diretor da emissora, Claudinei Girotti. A Rádio Guaíba e o jornal Correio do Povo pertencem à Rede Record. Casagrande concedeu entrevista por uma hora ao programa Esfera Pública, apresentado pela jornalista Taline Oppitz, ao lado da chefe de Reportagem do Correio do Povo, Mauren Xavier. No estúdio da Guaíba estava também o advogado e ex-deputado federal Beto Albuquerque (PSB/RS), de quem Casagrande é amigo há mais de 30 anos e que foi candidato a vice-presidente da República em 2014, na chapa liderada por Marina Silva. O ‘site’ Blog do Elimar Côrtes foi o único veículo de comunicação do Espírito Santo a participar da cobertura presencial da reunião do Cosud em Porto Alegre.
No programa, o governador capixaba abordou a Reforma Tributária, que se encontra na Câmara dos Deputados para votação final, depois de aprovada com alterações no Senado; falou também de política e do seu futuro. Destacou que o Espírito Santo é ‘Nota A’ na gestão fiscal há 12 anos, posição iniciada em seu primeiro mandato à frente do Executivo Estadual (2011/2014) e mantida nos anos seguintes: “Temos lá no Estado uma cultura da boa gestão fiscal, que nos possibilita a fazer investimentos e entregar obras importantes. Temos o Fundo Soberano, que é uma reserva de recursos financeiro importantes para momentos difíceis”.
Indagado se será candidato a presidente da República, dada a sua experiência na administração pública e ao sucesso alcançado pelo Espírito Santo em vários setores, Casagrande manteve a humildade e os pés no chão. Destacou que o grande líder do PSB é o vice-presidente da República e ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin:
“A chegada de Geraldo Alckmin ao Governo Federal foi muito importante para nosso partido, que vem crescendo bastante. O Geraldo é muito respeitado por todos os setores e para 2026 ele está nos planos da gente. No entanto, os governadores bem cotados também têm o direito de se lançar. É legítima e normal que os governadores tenham aspirações políticas. Estou sempre à disposição do PSB para planos nacionais. Todavia, acredito que para 2026 a polarização (esquerda/direita) vai continuar no País. Creio que teremos uma nova eleição polarizada entre o presidente Lula (PT) e Jair Bolsonaro (PL), ou quem ele indicar, já que está inelegível. O sucesso de público no ato de domingo (25/02) demonstra a força de Bolsonaro – quando o ex-presidente convocou seus seguidores para uma manifestação na Avenida Paulista, em São Paulo, para se defender das acusações de que teria planejado um golpe de Estado, em 2022, para permanecer no poder e impedir a posse do presidente Lula.
Renato Casagrande foi também muito enfático na entrevista coletiva concedida pelos governadores na noite de quinta-feira (29/02), logo depois da abertura da 10ª Reunião do Cosud, na sede da Orquestra Sinfônica de Porto Alegre (Ospa). Dos sete governadores das Regiões Sul e Sudeste, o capixaba é o único pertencente a um partido que tem o perfil de centro-esquerda. O governo de Casagrande, porém, conta com políticos de diversos espectros políticos – da esquerda à direita –, inclusive, ligados ao ex-presidente Bolsonaro. Por isso, quando um dos jornalistas persentes à coletiva perguntou ao grupo se as diferenças ideológicas entre os governadores do Cosud atrapalham as discussões internas, Casagrande afirmou:
“A questão ideológica no Consórcio não tira de nós o nosso pensamento político. Temos que focar nas soluções das políticas públicas. Há respeito com cada pensamento ideológico. Nas discussões da Reforma Tributária, por exemplo, tivemos pensamentos distintos, mas com cada governador pensando no bem do seu Estado. Na segurança pública, vamos buscar soluções que unam os Estados”.
Anfitrião do encontro, Eduardo Leite ressaltou que a “política é um instrumento para arbitrar as diferenças”. E disse mais: “Eu costumo dizer que governamos os nossos Estados para todos; e não só para quem votou na gente. As divergências são tratadas com respeito. Precisamos sempre convergir para trabalhar em favor da nossa população. Todas as pretensões são subordinadas aos interesses da população”, pontuou o governador gaúcho.
“A forma de decisão do Cosud é pelo consenso; não é por votação”, emendou Casagrande. “Nenhuma posição tomada pelo Cosud é contra o Governo [Federal]”, completou Eduardo Leite.
Na mesma entrevista coletiva de quinta-feira, pelo menos três, dos sete, governadores que integram o Consórcio de Integração Sul e Sudeste, declararam ser favoráveis a um mandato de cinco anos para Presidentes da República, governadores e prefeitos. As opiniões vieram à tona em função da afirmação do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD), de que está estudando a proposta de mandatos de cinco anos, o fim da reeleição e unificação das eleições no Brasil. Os senadores discutem, em uma espécie de “megarreforma” eleitoral, a PEC que acaba com a reeleição para cargos dos Executivos. A PEC também cria mandatos de cinco anos para todos os cargos eletivos — com exceção dos senadores, cujos mandatos passariam dos oito anos atuais para 10.
“Gosto da ideia dos cinco anos. Quatro é muito pouco, talvez oito seja muito e acho que cinco é o equilibro de tempo do governante poder implantar um projeto de desenvolvimento para sua cidade, estado ou país”, defendeu o presidente do Consórcio e governador do Paraná, Ratinho Júnior.
O governador de Minas Gerais, Romeu Zema, seguiu a mesma linha do colega, afirmando ainda que o mandato de quatro anos traz dificuldades na administração uma vez que “o País para a cada dois anos”, se referindo ao fato de que as eleições gerais e municipais ocorrem alternadamente de dois em dois anos. Segundo ele, a proposta apresentada por Pacheco, com quem o governador se reuniu recentemente, também abordaria isso.
“Na minha opinião, o processo fica muito mais bem estruturado, produtivo e acho que nós temos vividos política demais e precisamos executar mais em vez de ficar envolvido com questões eleitorais que tem um custo enorme para sociedade e acaba agravando a questão da polarização”, finalizou.
Eduardo Leite corroborou ao comentar os prejuízos de se realizar eleições a cada dois anos e se mostrou favorável ao aumento de mandato e o fim da reeleição, mas elencou outros problemas a serem discutidos em uma possível reforma eleitoral, como a desestimulação à criação de partidos, o fortalecimento das agregações partidárias e o financiamento de campanha, “como a possibilidade financiamento privado que foi muito restringido no Brasil e tem gerado custos enormes ao próprio orçamento”. O governador afirmou ainda que o seu partido seria ‘parlamentarista’ mas para que isso se tornasse efetivo no País seria necessário o fortalecimento dos partidos.
Renato Casagrande declarou ser a favor da unificação das eleições, mas defende a reeleição para Presidentes, governadores e prefeitos. No entanto, ele defende a limitação para o parlamento (Senado, Câmara Federal, Assembleias Legislativas e Câmaras Municipais). “Elegeu duas, três vezes a deputado federal? Pode ser candidato de novo, pode ser. Mas para outra função, outro cargo. Estabelecer limites na reeleição é bom para o parlamento. Sou a favor da reeleição e que continue ocorrendo a cada quatro anos e também a favor da unificação de eleições de todos os níveis”, finalizou Casagrande.
Na sexta-feira (01/03), o governador Renato Casagrande concedeu entrevista ao correspondente do Estadão em Porto Alegre, Pedro Augusto Figueiredo. O capixaba afirmou que o impasse pelo comando da mineradora Vale tem causado atrasos na conclusão da repactuação do acordo de Mariana (MG), que discute a reparação dos danos causados pelo rompimento da barragem de Fundão em 2015. A negociação foi interrompida no final de 2023 após os governos Federal, de Minas Gerais e do próprio Espírito Santo rejeitarem uma proposta apresentada pela Samarco, a BHP e a Vale que informou que segue comprometida com o acordo e que espera que uma solução seja alcançada ainda neste primeiro semestre. Samarco e BH Billinton também se disseram comprometida com uma solução:
“O acordo está interrompido por algumas razões. Primeiro, as empresas ofereceram um valor muito baixo e nós não aceitamos. A disputa pela direção da Vale também está atrasando esse processo”, declarou o governador ao Estadão. As mineradoras ofereceram R$ 42 bilhões para as ações de reparação, enquanto o poder público quer R$ 126 bilhões.