Políticos e empresários ligados ao bolsonarismo estão oferecendo de R$ 500,00 a R$ 3 mil para os capixabas que queiram ir a São Paulo, no domingo (25/02), participar do ato convocado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que pretende usar a ocasião para se defender, em meio às investigações da Polícia Federal, da acusação de liderar uma articulação para dar um golpe de Estado, impedindo as eleições de 2022 ou a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
O dinheiro está sendo oferecido por meio de líderes políticos, comunitários e religiosos que são defensores de Bolsonaro e de suas ideias golpistas. Os ‘cabeças’ capixabas da excursão a São Paulo têm telefonado e enviado mensagens via WhatsApp para as lideranças, propondo a elas que convoquem um maior número possível de pessoas para ir a São Paulo.
Esses políticos e empresários já alugaram vários ônibus, que vão sair no sábado (24/02) à tarde da Praça dos Namorados, na Praia do Canto, em Vitória. O ato em favor de Bolsonaro, que teme ser preso a qualquer momento por ordem do Supremo Tribunal Federal (STF), vai acontecer domingo à tarde na Avenida Paulista. Para cada pessoa comum do povo que se interessar ir a São Paulo, o grupo oferece R$ 500,00, sem custo do ônibus. A passagem é de graça. Para as lideranças, no entanto, o ‘cachê’ sobe para R$ 2 mil, R$ 2.500,00 e chega até R$ R$ 3 mil, dependendo do grau de importância da liderança.
Os empresários e políticos – com e sem mandato – que organizam a excursão bolsonarista têm arregimentado lideranças, como pastores de igrejas evangélicas, cabos eleitorais da Grande Vitória e do interior do Espírito Santo e até secretários municipais – de prefeituras administradas por prefeitos bolsonaristas – como articuladores em “sensibilizar” as pessoas do povo a irem à capital paulista.
Na quinta-feira (22/02), o advogado e ex-secretário de Comunicação do ex-presidente Bolsonaro, Fábio Wajngarten, disse que são esperadas mais de 700 mil pessoas no ato de domingo. A defesa de Bolsonaro informou que espera “500, 600, 700 mil pessoas” na manifestação, e que “a expectativa é a melhor possível”. Além disso, Wajngarten afirmou que, até o momento, está confirmada a presença de 100 deputados, 10 a 15 senadores e três governadores. Os governadores que confirmaram presença na manifestação são Tarcísio de Freitas (São Paulo/Republicanos), Ronaldo Caiado (Goiás/União Brasil) e Jorginho Mello (Santa Catarina/PL).
Do Espírito Santo, confirmaram presença no ato em São Paulo os senadores Magno Malta (PL) e Marcos do Val (Podemos), além dos deputados federais Evair de Melo (PL), Gilvan da Federal (PL) e Messias Donato (Republicanos). Deputados estaduais capixabas da direita também deverão ir a São Paulo.
Ainda na quinta-feira, o ex-presidente Jair Bolsonaro esteve na sede da Polícia Federal em Brasília, mas ficou em silêncio sobre a suposta participação em uma tentativa de golpe de Estado após as eleições de 2022. Ele ficou na PF por cerca de 30 minutos. Na saída da sede da corporação, Fábio Wajngarten afirmou que Bolsonaro não prestou depoimento por “estratégia” da defesa. Segundo Wajngarten, a defesa do ex-chefe do Executivo não teve acesso à íntegra dos autos da investigação e à delação premiada do ex-ajudante de ordens da Presidência, tenente-coronel Mauro Cid.
“O presidente já saiu, fez o uso do silêncio, conforme a defesa antecipou. Esse silêncio, quero deixar claro, não é simplesmente o uso do exercício constitucional do silêncio, mas, uma estratégia baseada no fato de que a defesa não teve acesso a todos os elementos por quais estão sendo imputados ao presidente a prática de certos delitos”, afirmou Wajngarten.
De acordo com investigação da Polícia Federal, Jair Bolsonaro teria solicitado mudanças na minuta de decreto com o qual pretendia executar um golpe de Estado no Brasil. A informação consta da decisão assinada pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, que autorizou mandados de busca e apreensão e prisão dos envolvidos. A minuta inicial previa as prisões dos ministros do STF, Alexandre de Moraes e Gilmar Mendes, e do presidente do Congresso Nacional, Rodrigo Pacheco (PSD-MG). Após receber o texto, apresentado por Filipe Martins, ex-assessor especial da Presidência para Assuntos Internacionais que foi preso preventivamente no dia 8 de fevereiro, Bolsonaro solicitou mudanças a Martins. Na nova versão, permaneceram a prisão de Moraes e a convocação de novas eleições.
Após ter concordado com o novo texto, Bolsonaro, conforme a Polícia Federal, convocou uma reunião com os comandantes das Forças Armadas – almirante Almir Garnier Santos (Marinha), general Marco Antonio Freire Gomes (Exército) e brigadeiro Carlos de Almeida Batista Júnior (Aeronáutica) – “para apresentar a minuta e pressioná-los a aderirem ao golpe de Estado”. O encontro foi realizado no dia 7 de dezembro de 2022, no Palácio da Alvorada. Os policiais federais identificaram ainda que o grupo monitorou Alexandre de Moraes para “executar a pretendida ordem de prisão, em caso de consumação do golpe de Estado”.