Ao discursar durante a 37ª cúpula da União Africana, no sábado (17/02), na Etiópia, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) criticou a extrema direita, disse que pretende ampliar parcerias com países africanos e afirmou que o Brasil tem uma “dívida histórica” com o continente em razão dos 300 anos de escravidão no País. A União Africana reúne 55 países do continente e, em 2023, passou a integrar de forma permanente o G20 – grupo que reúne as maiores economias do mundo, responsáveis por mais de 80% da economia global.
Em sua fala, o Presidente brasileiro cobrou a reorganização da governança global, para aumentar a representatividade de países da África e da América Latina, e disse que a extrema direita “racista e xenófoba” não conseguirá resolver crises mundiais. “Sem os países em desenvolvimento, não será possível a abertura de novo ciclo de expansão mundial, que combine crescimento, redução da desigualdade e preservação ambiental com ampliação das liberdades”, afirmou Lula.
“O Sul Global está se constituindo em parte incontornável da solução para as principais crises que afligem o planeta. Crises que decorrem de um modelo concentrador de riquezas e que atingem, sobretudo, os mais pobres. E, entre estes, os imigrantes. A alternativa às mazelas da globalização neoliberal não virá da extrema direita racista e xenófoba”, acrescentou o líder brasileiro.
Lula participou como convidado da sessão de abertura da 37ª Cúpula de Chefes de Estado e Governo da União Africana, em Adis Abeba, na Etiópia. Com o apoio do presidente brasileiro, a entidade iniciou sua integração ao G20 em 2023, sob a presidência do Brasil. Lula defendeu em seu discurso uma frente global contra a fome, um dos principais temas da agenda promovida pelo Brasil em fóruns internacionais, além de frisar a importância de uma parceria para fomentar o desenvolvimento econômico e social.
“O Brasil sempre olhou o mundo sem enxergar o continente africano. O Brasil, durante muitos séculos, foi governado olhando para os Estados Unidos, para a Europa. E o Brasil não via nem a América do Sul, muito menos via o continente africano”, declarou.
Lula disse que o Brasil não tem “todo o dinheiro” e “conhecimento científico e tecnológico” que ele gostaria que tivesse, mas que o País quer “compartilhar” o que possui com os países africanos. “Porque temos uma divida histórica de 300 anos de escravidão e a única forma de pagar é com solidariedade e com muito amor”, declarou.
“A luta africana tem muito em comum com os desafios e a luta do povo brasileiro. Mais da metade dos 200 milhões de brasileiros se reconhecem como afrodescendentes. Nós, africanos e brasileiros, precisamos traçar nossos próprios caminhos na ordem internacional que surge”, destacou o Presidente
O histórico de cooperação entre Brasil e África inclui iniciativas voltadas para técnicas de produção agrícola em regiões semiáridas, compartilhamento de experiências em biocombustíveis, irrigação agrícola em pequena escala, alimentação escolar, saneamento básico e manejo sustentável de florestas.
“O desenvolvimento não pode continuar sendo um privilégio de poucos. Só um projeto social inclusivo nos permitirá eleger sociedades próprias, livres, democráticas e soberanas. Não haverá estabilidade nem democracia com fome e desemprego”, defendeu Lula ao pontuar que o Brasil quer crescer junto com o continente africano. “O Sul Global está se constituindo em parte incontornável da solução para as principais crises que afligem o planeta”, argumentou.
Lula enfatizou, durante a abertura da Cúpula, que irá trabalhar em conjunto para tornar a África um continente independente na produção de alimentos e energia limpa e renovável. Além disso, estendeu o convite de parceria também para a área da saúde.
“São 400 milhões de hectares espalhados por mais de vinte e cinco países, com potencial de fazer deste continente um grande celeiro para o mundo, viabilizando políticas de combate à fome e de produção de energias alternativas, inclusive de biocombustíveis”, disse.
ISRAEL X PALESTINA
Lula voltou a defender a existência de um Estado palestino e repudiou a resposta desproporcional de Israel, que vitimou quase 30 mil palestinos em Gaza (em sua ampla maioria mulheres e crianças) e provocou o deslocamento forçado de mais de 80% da população.
“A solução para essa crise só será duradoura se avançarmos rapidamente na criação de um Estado Palestino livre e soberano. Um Estado Palestino que seja reconhecido como membro pleno das Nações Unidas. De uma ONU fortalecida e que tenha um Conselho de Segurança mais representativo, sem países com poder de veto e com membros permanentes da África e da América Latina”, pontuou Lula.
SOBRE A CÚPULA
O tema da 37ª Cúpula é “Educando africanos preparados para o século XXI: construindo sistemas educacionais inclusivos, relevantes, de qualidade e para toda a vida”. É a terceira vez que o presidente Lula participa de uma Cúpula da União Africana. A União Africana (UA) foi criada em 2002 e sucedeu a Organização da Unidade Africana, fundada em 25 de maio de 1963.
Imbuída dos valores de independência, unidade, paz e cooperação que motivaram a constituição de sua antecessora, a UA busca promover soluções para os desafios enfrentados pelos países do continente, com vistas ao fortalecimento da paz, da soberania e do desenvolvimento socioeconômico no continente. A organização tem contribuído de maneira significativa para a consolidação institucional do continente e desempenhado importante papel na prevenção e mediação de conflitos.
As iniciativas da UA estão voltadas ao respeito aos direitos humanos, à abertura econômica e à transparência administrativa nos membros. O fomento ao desenvolvimento sustentável e à promoção da igualdade entre homens e mulheres e do empoderamento feminino são temas de destaque entre essas iniciativas.
RELAÇÕES EXTERIORES
Na quarta-feira (14/02) o presidente Lula iniciou a sua segunda viagem oficial ao continente africano desde que tomou posse para o terceiro mandato. A primeira parada ocorreu no Egito. O convite para a visita, que celebra os 100 anos das relações diplomáticas entre Brasil e Egito, foi feito pelo presidente egípcio, Abdel Fattah El-Sisi, durante a COP 27.
Marcou a visita oficial a assinatura de dois acordos bilaterais: um protocolo que garante a segurança alimentar, padrões rigorosos de qualidade e retira amarras burocráticas à exportação de carnes bovinas, suínas e de aves do Brasil para o Egito; e um memorando que reforça parcerias, cooperações e pesquisas nas áreas de ciência, tecnologia e inovação entre os países.
O presidente Lula viajou para o Egito e a Etiópia acompanhado dos ministros Mauro Vieira (Relações Exteriores), Wellington Dias (Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome), Luciana Santos (Ciência, Tecnologia e Inovação), Anielle Franco (Igualdade Racial), Silvio Almeida (Direitos Humanos e Cidadania), Vinícius Marques de Carvalho (Controladoria-Geral da União), e do assessor-chefe adjunto da Assessoria Especial, Audo Faleiro.