O advogado Cezar Bittencourt, que faz a defesa do tenente-coronel do Exército Mauro Cid, disse na terça-feira (13/02) que o golpe de Estado no Brasil não ocorreu porque “o Exército não quis”. Mauro Cid, que está em liberdade provisória, foi ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). O advogado afirmou que as Forças Armadas não confiam em Bolsonaro: “Só não houve golpe por uma razão: o Exército não topou, simples assim. Porque o Exército sabe quem foi o capitão [Bolsonaro] indisciplinado que formou complô contra o próprio Exército. Acha que iriam embarcar nessa furada?”, questionou o advogado Cezar Bittencourt. Para ele, o Exército não acredita em Bolsonaro. “Não tenho nada a ver com ele, eu defendo o Cid e estamos dispostos a colaborar com o Exército, mas não podemos inventar”, pontuou.
O advogado também citou que Cid não irá omitir nenhuma informação para a Justiça ou o Exército. “Temos uma relação excelente com as autoridades policiais, mas não podemos omitir, se pergunta, responde. É uma questão de especulação, de mídia, aliás o Brasil adorou ver a conferência. Aí desnudou toda a trama, ali ficou claro que ele queria apoio das Forças Armadas”, disse, citando a reunião de Bolsonaro com ministros, no Palácio do Planalto, que serviu, segundo a Polícia Federal, para tentar um golpe de Estado no País, e evitar a posse do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e a permanência de Bolsonaro no poder.
Jair Bolsonaro pediu ação de ministros e militares em uma reunião secreta, que foi gravada. No vídeo, o ex-presidente pede uma ação antes das eleições de 2022 e diz que o Brasil teria uma guerra caso a esquerda ganhasse e a reação ocorresse após o pleito. “Nós sabemos que se a gente reagir depois das eleições, vai ter caos no Brasil, vai ser uma guerrilha, agora quem tem dúvida que a esquerda, como está indo, vai ganhar as eleições? Não adianta ter 80% dos votos, vai ganhar as eleições”, disse Bolsonaro.
Em outro vídeo, Bolsonaro reforça que o governo não poderia deixar as eleições chegarem e Lula, então candidato, ganhasse. “Todos aqui temos inteligência bem acima da média, como todo povo ali fora tem algo a perder, não podemos deixar chegar as eleições e acontecer o que está pintado. Parei de falar de voto e eleições há três semanas, acho que chegamos à conclusão que devemos fazer algo antes”.
O tenente-coronel Mauro Cid no dia 9 de setembro de 2023 após o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, conceder liberdade provisória ao militar. Ele estava preso no Batalhão do Exército de Brasília desde o dia 3 de maio de 2023, quando foi alvo de uma operação da Polícia Federal que investiga a inserção de dados falsos de vacinação contra a Covid, no sistema do Ministério da Saúde, de integrantes da família do ex-auxiliar e do ex-presidente Jair Bolsonaro.
Na época, a decisão do ministro Alexandre de Moraes também homologou o acordo de colaboração feito pelo ex-ajudante de ordens com a Polícia Federal. A delação refere-se ao Inquérito das Milícias Digitais e a todas as investigações conexas, como a investigação sobre a venda de presentes oficiais recebidos pelo Governo Bolsonaro.