“Cruzamento, vai marcar…é gol”. Eram 19 minutos do segundo tempo quando o locutor esportivo Wilson Caulite, 69 anos, narrou o segundo e último gol do Vitória, no triunfo de 2 a 0 sobre o Real Noroeste, pela Séria D do Campeonato Brasileiro. Aquela tarde de domingo, 9 de julho de 2023, marcou a despedida oficial dos microfones do rádio de um dos campeões de audiência, que desde 1977 vinha levando emoções aos torcedores que curtem ouvir uma partida de futebol pelo rádio – e agora também pela internet e YouTube.
O narrador ‘Pole Position’, que ganhou esse apelido do jornalista esportivo Oscar Júnior – com quem Caulite trabalhou na Rádio Espírito Santo –, já havia decidido ‘pendurar’ o microfone há 10 anos, mas faltava a despedida oficial. Foi aí que entrou outro craque da ‘latinha’: o presidente da Associação Capixaba dos Cronistas Esportivo (Acec), o jornalista e radialista Jair Oliveira, telefonou para o amigo Calulite e o convidou para narrar o jogo entre Vitória e Real Noroeste, no Estádio Salvador Venâncio da Costa, em Bento Ferreira. O narrador aceitou e a transmissão foi feita em conjunto pelas Rádios Acec (na internet e no YouTube) e Espírito Santo.
E, na despedida, o ‘Pole Position’ deu mais um show, narrando os gols do meia João Paulo, aos 38 minutos do primeiro tempo, e do lateral Breno Santos, de cabeça, aos 19 minutos de etapa final. Nos dois gols, Wilson Caulite deixou sua marca registrada: sempre que o ‘Pole Position’ solta o bordão “vai marcar”, a torcida já pode vibrar: é bola na rede. “Sou muito grato aos dirigentes, comissão técnica, jogadores e torcedores do Vitória pela homenagem”, agradece Caulite.
“Foi uma alegria e uma satisfação muito grande ter transmitido uma partida oficial pelo microfone da Rádio Acec e Rádio Espírito Santo depois de 10 anos – ele havia decidido parar em 2013. Recebi com muita emoção o convite do amigo Jair Oliveira para fazer a minha despedida oficial do rádio esportivo capixaba”, comentou Wilson Caulite, após a transmissão esportiva, ainda muito emocionado.
Antes da bola rolar, ele foi homenageado pela diretoria do Vitória. Recebeu das mãos do superintendente do clube, o empresário Antônio Geraldo Perovano, uma camisa da agremiação. Caulite nunca escondeu suas duas paixões no futebol: é torcedor da Desportiva e do Fluminense. Como santo de casa não faz milagres, seu netinho, Bento, é Rio Branco, por “pressão” do pai, genro do ‘Pole Position’.
A carreira de Wilson Caulite começou em 1974, quando trabalhou como operador de estúdio na extinta Rádio Difusora de Cariacica, cujos estúdios ficavam justamente em Cariacica-Sede. Caulite residia próximo, no bairro Porto de Cariacica. Lá, conheceu o amigo e grande companheiro de microfone, o radialista Durval Soares, que nos anos 80 passou a atuar também na crônica esportiva: primeiro, como repórter; e, mais tarde, como comentarista. Durval foi também professor de História dos antigos Colégios Nacional e Americano Batista de Vitória. Como comentarista, Durval Soares – já falecido – era conhecido como ‘Barra Limpa’, apelido dado por Caulite.
Sempre com uma narração vibrante, ao estilo do saudoso Doalcey Camargo, que se tornou famoso no microfone da Super Rádio Tupi (Rio) dos anos 60 aos anos 90, Wilson Caulite deu os primeiros passos como narrador em 1977 na Rádio Capixaba. Era repórter de campo e narrava jogos das preliminares, tendo como titular da equipe o saudoso Jonas Conti – que mais tarde brilhou em rádios de Minas Gerais. “Meu primeiro jogo como narrador foi justamente Vitória e Guarapari, no Salvador Costa, onde encerrei a carreira no domingo”, recorda Caulite.
Ele trabalhou também nas Rádios Vitória, Espírito Santo, antiga Tribuna AM, Gazeta AM, Itamaraju FM, Rádio Guarapari e na Rede SIM. “Fiquei muito feliz com o respeito e admiração que os ouvintes de várias gerações têm por mim. São torcedores de clubes diferentes. Durante o jogo e após a transmissão recebi centenas de mensagens em minhas redes sociais e telefonemas de pessoas me parabenizando. Recebi mensagens até do exterior. Infelizmente, meu netinho Bento não pôde ir ao estádio porque estava gripado, mas ficou em casa ouvindo a transmissão. Sou muito grato ao amigo Jair Oliveira pelo convite”, frisou Wilson Caulite.
Entre os fãs de Caulite, quem mandou mensagem para as redes sociais foi o deputado federal Helder Salomão (PT), prefeito por dois mandatos de Cariacica: “Wilson Caulite, como nos velhos tempos… Muito bom…Wilson Caulite, é o melhor”, escreveu o parlamentar.
Presidente da Acec e vice-presidente da Associação Brasileira dos Cronistas Esportivos (Abrace), Jair Oliveira fala sobre o convite ao amigo e colega ‘Pole Position’:
“Tempos atrás o Caulite me falou da alegria de conviver momentos maravilhosos com o neto. Em determinado momento, lamentou não estar mais no rádio e que gostaria que o neto pudesse ter vivenciado uma parte bonita da sua carreira com narrador. Aquilo ficou na minha memória e veio a criação da Web Rádio ACEC. Junto com o repórter Luiz Ximenes iniciamos as transmissões dos jogos do Vitória no Campeonato Brasileiro. Falei com Ximenes que colocaria Caulite para narrar um dos jogos como uma forma de lhe fazer uma homenagem e de certa maneira ter o neto ouvindo. Foi melhor do que eu imaginava, porque tivemos o som da Rádio Acec retransmitido pela Rádio Espírito Santo e também no Youtube. Foram muitas mensagens de carinho. Foi justa a homenagem a um profissional incrível”. Palavra de presidente!
Wilson Caulite fala também dos companheiros com quem trabalhou pelos vários estádios do Brasil e até do exterior. Foram narradores e comentaristas com quem – pelo menos a maioria – conviveu por quase 50 anos: Horácio Carlos, Durval Soares, Clóvis Mendonça, Jair Batista, Ângelo Ribeiro – já falecidos –, Oscar Júnior, Jorge Buery, Fernando Zambon, Wanderley Alpoin, Ordizy Aguiar, Paulo Duarte, Ferreira Neto, João Peçanha, Renato Mota, Rubens Neves, Manoel Bidu, Wilson de Freitas, o Bacaninha, dentre outros.
Wilson Caulite narrou milhares de gols ao longo de sua carreira. O que mais marcou foi o de Zico, em 16 de junho de 1985, no Estádio Defensores Del Chaco, em Assumção. Naquela tarde, com o estádio totalmente lotado, a Seleção Brasileira venceu o Paraguai por 2 a 0 – primeiro gol foi de Casagrande, na etapa inicial –, pelas Eliminatórias da Copa do Mundo, no México em 1986. Zico estava impossível e, mesmo implacavelmente perseguido em campo – leva pontapés a todo instante dos paraguaios –, marcou um golaço:
“Foi numa das dezenas jogadas do Galinho – apelido de Zico – que o lateral Leandro saiu da direita, entrou com a bola na intermediária paraguaia, Casagrande se movimentou para o lado e o zagueiro foi junto. Foi quando aconteceu um dos gols mais lindos que o Zico já fez. Ele dominou a bola de calcanhar direito, ela subiu um pouco e Zico bateu de sem-pulo. Um Golaço! Foi muita emoção para nós brasileiros em pleno Defensores Del Chaco”, recorda Caulite, que, naquela partida, em Assumção, tinha como companheiros o comentarista Durval Soares, o repórter de campo Elimar Côrtes e o operador de áudio José Cláudio de Oliveira, o Titio, na célebre equipe de esportes da Rádio Espírito Santo, comandada por Oscar Júnior.