Há alguns anos li sobre o caso do caminhão carregado de caixas de cerveja que acidentou-se em uma das estradas que cortam o Espírito Santo. Chocou-me, na época, a descrição do saque que se seguiu ao acidente: motoristas que passavam pelo local estacionavam ao lado da carreta tombada e enchiam os bancos e porta-malas dos seus carros de garrafas e engradados de cerveja. Eis algo que nos coloca a pensar: não eram pobres miseráveis lutando por comida.
Este episódio me trouxe à memória um outro, ocorrido na rica Inglaterra. Um navio encalhou na praia. E eis que os moradores da região, detentores de um dos bons padrões de vida do planeta, saquearam a carga, carregando pacotes de fraldas, caixas de vinho e até mesmo 15 motocicletas! Ainda naquele pais apurou-se que os furtos em lojas custam £ 2,1 bilhões a cada ano, já tendo causado a falência de várias empresas.
Curioso, isto: algumas pessoas educadas, que tiveram melhores chances na vida, e que deveriam dar o exemplo, são exatamente as que mais cometem crimes! A propósito, um estudo da Universidade da Flórida (EUA) concluiu que 28% das pessoas que furtam cigarros pertencem à classe alta e 45% das que carregam roupas de lojas são da classe média. Somadas, as classes média e alta superam os furtos praticados pelos integrantes das camadas mais baixas da população!
Outros dados impressionantes: nos Estados Unidos um carrinho de supermercado é furtado a cada 90 segundos, 9,5 caixas de correio são furtadas a cada ano, 10 mil computadores portáteis são furtados em aeroportos a cada semana e, segundo divulgou a AXN Channel, “furtos em lojas respondem por quase metade dos crimes cometidos nos EUA”. Enquanto isso, em Londres, um restaurante perdeu 25 mil cinzeiros, furtados por clientes ao longo de 10 anos.
Confirmando as claras suspeitas que este quadro levanta, em 2002 uma ampla pesquisa realizada nos Estados Unidos constatou que os crimes praticados por ricos, tais como fraudes e sonegação fiscal, dão um prejuízo à sociedade 12 a 14 vezes maior do que os crimes de rua (roubos e furtos).
Pois é. Não faz muito tempo visitei um presídio. Lá só encontrei pobres. Que estranho! Ou nosso sistema legal está a negar-lhes benefícios legais ou a proporcionar aos ricos indevida impunidade – e não sei qual hipótese é pior.