Presidente de honra do PTB, o ex-deputado Roberto Jefferson voltou a atacar a ministra Cármen Lúcia, do Supremo Tribunal Federal (STF), na segunda-feira (24/10), durante sua audiência de custódia em um presídio do Complexo Penitenciário de Bangu, no Rio. A prisão dele foi mantida. A prisão de Jefferson, que indicou o nome do empresário Bruno Lourenço, presidente do PTB no Espírito Santo, para ser o candidato a vice-governador na chapa encabeçada pelo ex-deputado federal Carlos Manato (PL), foi motivada inicialmente por ofensas à ministra. No depoimento dado ao magistrado Airton Vieira, juiz instrutor do ministro Alexandre de Moraes no Supremo, Jefferson disse que Cármen Lúcia age “pior” que prostitutas.
“Fiz um comentário mais duro contra o voto escandaloso da ministra Cármen Lúcia. Quero pedir desculpas às prostitutas pela má comparação, porque o papel dela foi muito pior, porque ela fez muito pior, com objetivos ideológicos, políticos. As outras fazem por necessidade”, reafirmou Roberto Jefferson na audiência de custódia.
No domingo (23/10), Roberto Jefferson tentou resistir à prisão quando a Polícia Federal chegou em sua casa, em Comendador Levy Gasparian, na Região Serrana do Rio, para cumprir o mandado de prisão. Ele disparou mais de 50 tiros de fuzil contra os policiais e jogou três granadas. A agente federal Karina Oliveira e o delegado Marcelo Vilella ficaram feridos.
O ministro Alexandre de Moraes determinou a prisão de Jefferson porque o ex-deputado federal teria descumprido ordens judiciais, como a proibição de postar em redes sociais. Ele foi indiciado pela PF por quatro tentativas de homicídio, pois atirou na direção de uma viatura onde estavam outros dois policiais federais, que, no entanto, não chegaram a ser atingidos.
No depoimento dado na audiência de custódia, o ex-deputado disse que deixou um pedido de desculpas por escrito à Polícia Federal. “Encontrei a moça que se machucou no cotovelo e na testa e ela estava zangada”, relatou Jefferson.
O todo poderoso manda-chuva do PTB no Espírito Santo e em outros Estados também disse que o ministro Alexandre de Moraes, que determinou sua prisão, tem um “problema pessoal” com ele. “Ele [Moraes] diz que eu faço parte de uma milícia digital, mas eu acho que ele faz parte de uma milícia judicial no STF, por isso nós temos problemas”, afirmou. “O ministro Alexandre montou uma Delegacia de Polícia e uma Gestapo no seu gabinete”, completou Roberto Jefferson. Em solo capixaba, um dos fortes aliados de Jefferson é o atual coordenador da campanha de Manato, o Tenente CB Assis, dirigente do PTB e que saiu derrotado na eleição para deputado federal.
Na audiência de custódia, o ex-deputado federal ameaçou de morte o ministro do STF: “Se o ministro Alexandre de Moraes fosse o chefe da diligência (que o prendeu), a coisa seria diferente. Se ele tivesse coragem para me enfrentar…Não é uma coisa de juiz-jurisdicionado, virou de homem para homem. Ele me humilhou e humilhou a minha [esposa] Ana [Lucia Jefferson]. A mesma fibra ele tem, como eu tenho, a audácia dos canalhas. Só que nós precisamos nos encontrar pessoalmente para discutir isso”.
Alexandre de Moraes é relator de investigações que atingem aliados e apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (PL), como o inquérito das milícias digitais, que mira grupos organizados na internet para espalhar notícias falsas e ataques antidemocráticos. Ele se tornou um dos alvos preferenciais da militância bolsonarista no STF.
Procurados pelo Estadão, os gabinetes informaram que os ministros não vão comentar os ataques do ex-deputado. Quando Roberto Jefferson ofendeu Cármen Lúcia, na semana passada, Moraes usou as redes sociais para defender a colega. Ele chamou as ofensas de “agressões machistas e misóginas”.
“SE EU DESEJASSE, ESTARIAM MORTOS”
Ao juiz instrutor do ministro Alexandre de Moraes, Airton Vieira, o ex-deputado Roberto Jefferson também voltou a dizer que não atirou nos policiais, mas só na viatura. Afirmou também que poderia ter matado os agentes se quisesse: “Não atirei em nenhum policial para ferir ou matar. Se eu assim desejasse, estariam todos mortos. Eu sou um hábil atirador, atiro há 50 anos, tenho curso de especialização, com o pessoal da SWAT e da SEAL”, afirmou, em referência aos Navy Seals, força especial da Marinha norte-americana, e a policiais dos Estados Unidos que atuam em operações especiais.
O próprio político também disse que deu cerca de 50 tiros. “Pedi desculpas à Polícia Federal porque tive notícia de que estilhaços da granada atingiram um dos policiais. Atirei no carro, cerca de 50 ou 55 vezes. Quando eles saíram, recarreguei a arma, e fiquei esperando”, afirmou.
O juiz instrutor Airton Vieira manteve a prisão de Roberto Jefferson após a audiência de custódia, cuja função serve para que o juiz valide prisões cautelares, em flagrante ou decorrentes de condenação. O magistrado checa se a detenção é legal e se houve excessos cometidos por policiais, como tortura, maus tratos ou demais violações de direitos. O procedimento tem que ser feito em até 24 horas depois da prisão.