Ao falar na manhã desta segunda-feira (17/10) sobre a prisão dos assassinos dos soldados Bruno Mayer Ferrani, 30 anos, e Paulo Eduardo de Oliveira Celini, 29, o comandante-geral da Polícia Militar, coronel Douglas Caus, defendeu reformas urgentes nas leis brasileiras e chamou de “fraca e vergonhosa” a legislação penal brasileira. Os dois policiais militares foram executados com tiros na cabeça durante ocorrência policial na madrugada de domingo (16/10), no bairro Santa Bárbara, em Cariacica.
As Polícias Militar e Civil agiram rápido e, antes do meio-dia, quatro dos assassinos já estavam presos: Éric da Silva Ferreira, 45 anos, Luana de Jesus Luz, 26, Érica Lopes Ferreira, 26, e Eduardo Bonfim Meireles, 40. Ouvidos no Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), os quatro bandidos confessaram ter matado os dois soldados:
“O momento é de luto e de solidariedade e apoio às famílias de nosso policiais. Os quatro indivíduos envolvidos no crime covarde foram presos, mas o sentimento era que eles viessem todos mortos. Porém, não esboçaram reação. A nossa Polícia Militar, que é legalista, efetuou a prisão conforme manda a lei. O nosso sentimento é de luto. A Polícia Militar está extremamente consternada”, disse o comandante Caus.
Segundo ele, os policiais Ferrani e Celini cumpriram sua missão feita no juramento final quando entram na carreira: “Os policiais juram servir e proteger a sociedade, mesmo com o risco da própria vida”, pontuou o coronel Caus, que conclama a sociedade a refletir sobre a necessidade de se fazer alterações nos Códigos Penal e Processual Penal do Brasil:
“Nossas Legislações Penal e Processual Penal são lenientes. Defendo que se deva acontecer um debate nacional para que as autoridades se mobilizem em prol de mudanças nas leis. Hoje estamos no velório de policiais militares, mas muito capixabas já foram mortos por indivíduos que se beneficiaram dessa legislação fraca e vergonhosa”, completou o comandante Caus.
O governador Renato Casagrande (PSB) decretou luto de três dias pela morte dos soldados Ferrani e Celini, conforme edição extra do Diário Oficial do Estado de domingo (16/10). Nesse período, fica autorizado pelo comandante-te-geral da PM, coronel Douglas Caus, “a colocação de uma fita ou faixa na cor preta, de pequena dimensão no(s) retrovisor(es) das viaturas de serviço operacional em sinal de luto pela perda dos nossos irmãos de farda, ficando os militares desembarcados e em sinal de respeito.”
O governador Casagrande também lamentou o assassinato dos dois policiais: “Lamento profundamente a morte dos policiais Bruno Mayer e Paulo Eduardo, ocorrido nesta madrugada, em Cariacica. Minha solidariedade aos seus familiares e amigos. Importante dizer: este crime não ficará impune. Vários suspeitos já foram detidos e não descansaremos até que todos os envolvidos estejam na cadeia. Decretarei luto de três dias.”
Soldados foram executados com tiros pelas costas
Os soldados Ferrani e Celini estavam perseguindo um veículo com assaltantes e, ao abordarem os suspeitos, foram surpreendidos pelos criminosos, que se esconderam atrás de um caminhão. Levaram tiros pelas costas e não tiveram chance de reagir. Os dois PMs chegaram a ser socorridos, mas morreram em unidades hospitalares.
Éric e sua namorada, Luana Jesus, foram presos em Padre Gabriele, bairro próximo de onde ocorreu o duplo assassinato. Os outros dois assassinos, Eduardo Bonfim e Érica Lopes, foram presos em um motel localizado em Campo Grande.
“Usando nosso Serviço de Inteligência, começamos a fechar o cerco onde os outros dois poderiam estar escondidos. Tudo levava a crer que poderiam estar escondidos em um motel de Cariacica. De forma velada, policiais foram ao local, fizeram abordagem sem alarde e concluíram a detenção. O casal já estava fora do quarto, mas deixou uma arma de um dos policiais embaixo do colchão, tentavam sair com a arma deles, uma calibre 9 milímetros, e a do outro policial. Foi feita a abordagem, sem reação por parte deles, por volta de 10h30 da manhã”, disse o comandante do 7º Batalhão da PM (Cariacica), o tenente-coronel Paulo Roberto Schulz Barbosa.
O secretário de Estado da Segurança Pública e Defesa Social, coronel Márcio Celante, afirmou, em entrevista ao programa Espírito Santo no Ar, da TV Vitória/Record TV, que dos quatro presos, três têm passagens pela Justiça: “Tivemos uma resposta rápida para esse crime. Quatro pessoas presas que vão cumprir a sua pena e realmente precisam estar atrás das grades. Dos quatro, três têm passagens, sendo um deles tem mais de 80 anos de condenação, que estava foragido desde dezembro de 2021. Temos que colocar a nossa indignação, mas somente isso não vai resolver esse problema. A sociedade tem que se mobilizar, porque a mudança na legislação é necessária, mas é um assunto que tem que ser feito em Brasília”, afirmou Celante.
A ocorrência policial que culminou na morte dos policiais começou na Rodovia Leste-Oeste, depois que os bandidos fizeram um arrastão. Quatro vítimas do bando – três homens e uma mulher gestante – estavam em um carro, que depois de passar a curva e bater no meio fio, teve o pneu do carro furado. Um segundo veículo se aproximou dos ocupantes e os criminosos anunciaram o assalto. Os bandidos roubaram celulares, dinheiro e cartões de crédito das vítimas. Uma das bandidas atirou contra uma das vítimas, que foi ferida de raspão na cabeça.
Avisados da ação criminosa, os soldados Bruno Mayer Ferrani e Paulo Eduardo de Oliveira Celini iniciaram a perseguição aos bandidos. Os dois carros dos bandidos entraram em um terreno, no bairro Santa Bárbara. Os PMs continuaram na perseguição até que um dos veículos em fuga parou. Inicialmente, eles deram voz de prisão ao casal Éric e Luana e não viram que o outro casal estava escondido atrás de um caminhão. Armados com pistolas, Érica Ferreira e Eduardo Meireles se aproximaram dos dois soldados e os executaram com tiros pelas costas.