Parecia até uma reunião de uma certa “entidade filantrópica”. Realizada no sábado (08/10) na sede da Associação dos Oficiais Militares Estaduais do Espírito Santo (Assomes/Clube dos Oficiais), na avenida Dante Micheline, em Camburi, Vitória, a reunião que pretendia engajar a candidatura de Carlos Manato (PL) no segundo turno para o governo do Estado terminou em clima fúnebre. Teve candidato reeleito a deputado estadual que sequer ficou para a foto oficial. Teve lavagem de roupa suja e declaração implícita de não apoio do cacique maior do Partido Liberal (PL) ao candidato Manato, que tenta vencer o governador Renato Casagrande (PSB) com discurso de ódio, fake news e propostas surreais.
No primeiro turno, o PL e o PTB, partidos de apoio a Manato, gastaram quase R$ 6 milhões com a própria família Manato e outros candidatos derrotados na campanha deste ano. Sem dinheiro, há até ameaça de calote a que tem dívidas a receber. Há dívidas que o candidato promete pagar somente no próximo ano. Manato foi para este segundo turno com 38,48% (800.598) dos votos válidos, contra 976.652 (46,94%) de Casagrande.
Manato e outros de seus aliados passaram todo o primeiro turno tentando se desvincular do então candidato ao Senado Magno Malta. Acharam que a rejeição de parte do eleitorado a Magno, apontada em pesquisas de intenção de votos, poderia prejudicá-los. Se deram mal: Magno Malta foi eleito e, presente na reunião de sábado no Clube dos Oficiais, deixou sua insatisfação bem clara. Passou na cara de Manato e seus vassalos essa ‘rejeição’:
“No primeiro turno, certas pessoas não me procuraram porque achavam que eu era muito rejeitado pelos eleitores. Agora que fui eleito, essas mesmas pessoas vêm me procurar”, disse Magno Malta, que usou o microfone para falar da história de sua vida pessoal e política, sem pedir votos para Manato. Magno Malta também lembrou a derrota sofrida em 2018, alegando que sua prioridade, na época, foi a de ajudar a eleger Jair Bolsonaro a Presidente do País – e conseguiu.
Na segunda-feira (03/10), um dia após o resultado do primeiro turno, Magno Malta foi a Brasília, onde se reuniu com o presidente Bolsonaro (PL), que disputa a reeleição neste segundo turno contra o ex-presidente Lula (PT). Ficou decidido que Magno passaria a coordenar a campanha de Carlos Manato. Magno entraria no lugar do jornalista e marqueteiro político Fernando Carreiro, que foi demitido por Manato por pressão de pastores evangélicos. Em Brasília, Magno gravou vídeo ao lado de Bolsonaro e do próprio Manato, deixando claro que ele coordenadoria a campanha no Espírito Santo e que, ao mesmo tempo, visitaria Estados do Nordeste e do Norte do País em busca de votos para o Presidente da República.
Como coordenador da campanha, Magno Malta contaria com apoio de sua de sua família e outros profissionais. Iria até trazer o presidente-candidato Bolsonaro ao Espírito Santo neste segundo turno para dar apoio a Manato. Iria. Não vai mais, com certeza. É que, na reunião do ‘clube de filantropia’ na sede do Clube dos Oficiais da PM, Manato anunciou para os presentes que seu coordenador de campanha será o Tenente Assis, que, apesar de ter recebido R$ 2.715.000 do Fundo Partidário do PTB, seu partido, mais uma vez ficou no meio do caminho e não conseguiu se eleger deputado federal. Assis já foi candidato a vereador de Cariacica, deputado federal (duas vezes) e prefeito de Cariacica: não ganhou nenhuma.
Presente na reunião, o deputado estadual reeleito Capitão Assumção (PL), que é inimigo de Assis – os dois eram amigos até 2020, mas brigaram e hoje não se bicam –, abandonou a reunião e foi embora. Sequer ficou para a foto oficial. Assumção também não levou nenhum aliado mais próximo à reunião de Manato.
Carlos Manato jurou amores ao Tenente Assis. Até beijou seu mais novo coordenador de campanha. Salientou, porém, que está “duro”, sem dinheiro para tocar a campanha. Revelou que somente em abril de 2023 terá condições de pagar a dívida financeira que tem com seu ex-coordenador de campanha, Fernando Carreiro.
Carlos Manato, no entanto, esqueceu de dizer aos presentes que sua esposa, a deputada federal Soraya Manato – que estava ausente da reunião da ‘filantropia’ –, “gastou” R$ 2.225.897 na campanha em que perdeu a reeleição. Manato, em conversa com correligionários, lamenta que seu afilhado político Torino Marques, que ganhou R$ 700 mil do Fundo Eleitoral para a campanha a deputado federal, teve uma atuação medíocre, obtendo apenas 6.604 votos. Torino, que é deputado estadual, foi colocado na disputa à Câmara Federal por Manato justamente para ajudar Soraya. Blefou contra o padrinho.
Para driblar a falta de recursos, que certamente viriam com mais facilidade caso o senador eleito Magno Malta fosse o coordenador da campanha neste segundo turno, Manato criou o QG 22, que vai tentar buscar dinheiro por meio de amizades que ele construiu nas cidades capixabas com outros políticos e lideranças empresariais. O candidato quer evitar ter que deixar fornecedores e prestadores de serviços sem receber pelo trabalho que vêm realizando.
Foi de fato em clima fúnebre que a reunião com apoiadores de Manato começou e se encerrou.