A entrevista do presidente Jair Bolsonaro (PL), candidato à reeleição, ao Jornal Nacional, da Rede Globo, na noite de segunda-feira (22/08), proporcionou a ele abarcar cerca de 71% das menções aos presidenciáveis, no Twitter. Os dados são da Modalmais/AP Exata, que está fazendo uma análise da repercussão nas redes sociais sobre a sabatina dos candidatos a Presidente na bancada do JN. A entrevista foi conduzida por William Bonner e Renata Vasconcellos.
De acordo com análise da Modalmais/AP Exata, os 71% das menções significam um aumento de 16 pontos em relação à média dos últimos cinco dias. No entanto, a visibilidade não se traduziu em popularidade para Bolsonaro. A aprovação do Presidente se manteve estável, variando apenas um ponto para baixo, chegando a 36%. A leve queda tem como motivo as críticas ao comportamento de Jair Bolsonaro durante a pandemia do novo coronavírus.
O tema “covid e saúde” foi o mais falado na noite de segunda-feira, chegando a 16,3% das menções temáticas, e na terça-feira (23/08) o assunto cresceu ainda mais, atingindo 25,2%. Opositores compartilham as imagens de Bolsonaro imitando pessoas com falta de ar durante a pandemia, e também desmentindo o Presidente da República, lembrando que a crise do oxigênio em Manaus durou mais do que 48 horas e afirmando que o Governo Federal demorou muito para solucionar o problema.
Outro tema que tem crescido após a entrevista do JN é “corrupção”. Foi o segundo assunto mais falado na terça-feira. No entanto, diferentemente da questão da Covid-19, no caso da corrupção, bolsonaristas estão agindo fortemente para rebater os posts dos opositores, lembrando dos escândalos nos governos do PT e dizendo que as denúncias contra Bolsonaro não foram comprovadas.
Outro assunto muito referido nas redes sociais foi a “colinha” na mão do Presidente. Analistas avaliam que a tática de deixar que opositores divulgassem a imagem foi bem sucedida. A suposta “armadilha” serviria para que mais pessoas pesquisassem sobre os regimes esquerdistas na Nicarágua, Argentina e Colômbia. E ainda atacar a Globo, viralizando o nome do doleiro que, supostamente, colaborou com a família Marinho, dona da cadeia de comunicação. #GloboLixo também figurou entre as tags mais compartilhadas no Twitter.
Para o CEO da AP Exata e Doutor em Ciências da Comunicação, o capixaba Sérgio Denícoli, os dados revelam, portanto, que a entrevista ao Jornal Nacional foi absorvida pela polarização política, anulando eventuais perdas e ganhos de Jair Bolsonaro. “O assunto reavivou as adversidades entre a Globo e Bolsonaro, gerou muitas críticas aos jornalistas William Bonner e Renata Vasconcellos, mas não alterou de forma contundente a imagem do candidato”, disse Denícoli.
Ciro Gomes ganha mais visibilidade após entrevista
O pós-entrevista no Jornal Nacional deu a Ciro Gomes mais visibilidade nas redes do que o momento em que esteve ao vivo na TV Globo. Apesar disso, o candidato do PDT a presidente da República ainda segue com dificuldades de abrir espaços em meio à polarização política. Com a entrevista, Ciro conseguiu passar de uma média de 6,4% em volume de menções entre os presidenciáveis para 14,4%, nas últimas 24h. Ou seja, se manteve bem distante de Bolsonaro, que abarcou 54,5% das menções, e de Lula, que registrou 30%.
Ciro agradou sua própria base, estimulando sua militância a compartilhar informações sobre ele, com a narrativa principal de que “é muito preparado” e a alternativa para o Brasil “se livrar de Bolsonaro e Lula”. A aprovação de Ciro no Twitter cresceu 7 pontos, atingindo 49%. Já a confiança no candidato subiu 3 pontos, chegando a 19%. Ou seja, mesmo conseguindo uma visibilidade inferior aos seus principais adversários, quem falou de Ciro passou a vê-lo de uma forma mais positiva, consolidando sua posição e construindo um obstáculo, ainda que frágil, para evitar que o voto útil contra Bolsonaro faça com que eleitores de Ciro optem por Lula no 1º turno.