A Associação Brasileira de Mulheres de Carreira Jurídica (ABMCJ/ES) promoveu, nesta quarta-feira (08/06), um Ato de Desagravo das Associadas em prol da advogada capixaba Fayda Bello, vítima de ataques racistas e misóginos no dia 28 de maio deste ano, quando iria iniciar sua palestra em um seminário online de música negra realizado pelo sambista Tunico da Vila, filho do cantor e compositor Martinho da Vila. Presente ao ato, que aconteceu no auditório da Associação Espírito-Santense do Ministério Público (AESMP), em Bento Ferreira, Vitória, Fayda Bello, que tem sua atuação profissional reconhecida mundialmente, se emocionou.
O Ato de Desagravo foi proposto pela vice-presidente da ABMCJ/ES, a advogada Elisa Galante. A solenidade foi coordenada pela presidente da ABMCJ/ES, a procuradora de Justiça Catarina Cecin Gazele, e contou com a presença de diversas advogadas, promotoras de Justiça e delegadas de Polícia Civil. A procuradora-geral de Justiça, Luciana Andrade, a secretária de Estado de Direitos Humanos, Nara Borgo – que é advogada e filiada à ABMCJ/ES –, e a vice-presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB/ES), Anabela Galvão, também estiveram presentes e declararam sua solidariedade à Fayda Bello.
“A doutora Fayda foi magoada e atacada por um grupo racista, que invadiu a transmissão ao vivo. Na verdade, eles atacaram todas nós mulheres, não só do Espírito Santo e do Brasil, mas de todo o planeta”, pontuou Catarina Gazele, ao abrir os trabalhos.
Fayda Bello foi vítima de injúria racial e violência, quando participava como palestrante no Seminário Online sobre Música Negra, promovido pelo grupo Negritar. A live em que a advogada capixaba participava foi invadida por criminosos que proferiram atos racistas e misóginos, através de xingamentos e palavras de baixo calão em uma afronta a condição de mulher negra. Os ataques dos bandidos tiveram a única intenção de ofender a honra e a dignidade humana de Fayda Bello, que, por meio das redes sociais e em palestras, fomenta as mulheres a lutarem por seus direitos e também combate a violência doméstica e os crimes de racismo. A advogada capixaba é considerada um dos ícones da luta em defesa de gêneros e raças.
Chefe do Ministério Público do Estado do Espírito Santo, a procuradora-geral de Justiça, Luciana Andrade, conclamou todas as mulheres e lutarem pela igualdade e contra o preconceito. “Todas nós, mulheres, temos as nossas responsabilidades nessa luta. Precisamos ter atitudes fortes, pois qualquer uma de nós pode ser vítima. Eu mesma já fui vítima de preconceito. A doutora Fayda foi vítima de crime de ódio, que, infelizmente, continua a acontecer em pleno ano 2022. Tenho certeza que vamos superar essas adversidades”, disse Luciana Andrade.
Primeira vice-presidente da AESMP, a promotora de Justiça Bianca Seibel destacou ter sido uma honra para a entidade recepcionar as demais profissionais da carreira jurídica para promover um ato de combate ao racismo. Ela chamou de “abominável” a atitude dos criminosos que atacaram a advogada: “Que este Ato de Desagravo seja um alerta e uma voz para extirpar esse tipo de comportamento machista e racista”, disse Bianca Seibel, chamando Fayda Bello de “instrumento da sociedade na luta contra todos os tipos de preconceito”.
A secretária de Direitos Humanos, Nara Borgo, ressaltou que o Estado brasileiro “inventou a democracia racial”. No entanto, frisou que a sociedade brasileira é racista e machista e que “as mulheres negras sofrem muito mais do que as brancas, por serem mulheres e negras”.
Fayda Bello agradeceu à Associação Brasileira de Mulheres de Carreira Jurídica (ABMCJ/ES) pelo Ato de Desagravo e revelou que, por ter “apanhado muito na vida”, não está habituada a receber elogios: “Apanhei muito na vida para alcançar o lugar onde estou hoje. Só recebo pancadas e não elogios. Mas hoje está sendo diferente. Sou muito grata. Também estudei bastante e encontrei na educação o meu destino, pois sempre tive o sonho de ser advogada”, disse ela.
Emocionada, Fayda relatou experiências amargas no dia a dia no exercício da advocacia. Recordou o dia em que um juiz de Direito disse que só conversava com advogados e ou promotores de Justiça: “Parei, respirei e tirei a minha carteira da Ordem do bolso e mostrei ao magistrado. De repente, ele me chamou de doutora e pediu desculpas”.
Ela acrescentou: “Combato o racismo e todos os tipos de preconceito. Defendo mulheres vítimas de violência. Precisamos ser mais unidas. A luta que travo me enche de emoção e de esperança. Precisamos avançar nas conquistas, olhando o coletivo, o plural, e não o individual. Minha meta é romper o dogma de que o preto tem que ficar só na copa”.
Moradora de Cachoeiro de Itapemirim, Sul do Espírito Santo, Fayda Bello disse que o ataque que sofreu na live do Negritar é surreal e espera que os criminosos sejam punidos conforme rezam as leis brasileiras. “Costumo sempre repetir a frase ‘eu sou o que nós somos’. É necessário que essa frase entre nas nossas mentes para avançarmos na igualdade. Espero que a lei seja cumprida contra esses racistas. É preciso provar que as leis existem em nosso País”.
O caso de racismo contra a advogada Fayda Bello está sendo investigado pela Delegacia Regional de Cachoeiro. Um dos criminosos foi identificado pela Polícia Civil e é morador de Santa Catarina.