Em artigo publicado no portal de notícias A Gazeta, em 31 de janeiro de 2022, o coronel da Reserva Remunerada da Polícia Militar Nylton Rodrigues tece comentários a respeito de latrocínios ocorridos no Estado. Com o título “ES registra uma morte por roubo a cada oito dias. Como se proteger?”, Nylton, que foi comandante-geral da PM e secretário de Estado da Segurança Pública e Defesa Social no último governo de Paulo Hartung (sem partido), demonstra seu viés político mais uma vez, escondendo, como sempre, os fatos verdadeiros que levam ao aumento desse tipo de crime – latrocínio é o roubo seguindo de morte.
Ele apresenta somente os números da atual gestão, do governador Renato Casagrande (PSB). Informa que em 2019 o Estado registrou 25 latrocínios; em 2020, 39; e, em 2021, 43. Somando, dá um total de 107 latrocínios. O coronel Nylton Rodrigues, entretanto, “esquece” de apresentar os números de sua gestão. Enquanto Nylton Rodrigues esteve no poder na última era Hartung, em três anos o número de latrocínios chegou a 135 casos. Ou seja, houve 28 mortes a mais do que na gestão de Casagrande.
Sintetizando: o Programa Estado Presente em Defesa da Vida, destruído pela gestão Hartung/Nylton, ajudou a reduzir o número de roubos seguidos de morte, depois de retomado pelo governador Casagrande, a partir de janeiro de 2019. Nylton Rodrigues, é claro, ignora essa informação em seu artigo. Em 2016, o Espírito Santo teve 56 latrocínios. No ano seguinte foram 45 e, em 2018, 34 casos. A soma chega, portanto, a 135 pessoas assassinadas durante assalto na era Nylton Rodrigues.
No artigo, o coronel Nylton Rodrigues, que é filiado a um partido político e em 2020 disputou o cargo de Prefeito de Vitória – ele obteve 2.882, insuficientes, em alguns casos, para se eleger até vereador da Capital –, escreve que o crime de latrocínio “vem deixando os capixabas mais apreensivos a cada dia e com uma perturbadora sensação de que a qualquer momento muitos poderemos ser vítimas de um crime tão devastador como esse”. Afirma que o “poder público não consegue frear o latrocínio” e dá dicas sobre como evitar.
De novo, Nylton Rodrigues abandona a honestidade intelectual. Oficial experiente, que passou por vários importantes cargos dentro da PM e em gestões públicas-políticas, ele sabe muito bem que as políticas públicas, sobretudo na área da segurança, precisam ter continuidade. E o governo que ele representou, defendeu e continua defendendo com muita garra, promoveu uma verdadeira descontinuidade nas forças policiais capixabas entre 2015 e 2018. Resultado: o caos tomou conta das instituições policiais, com um efetivo super defasado, frota de viaturas velhas e arcaicas, caindo aos pedaços; tropa desmotivada e sem reajuste salarial.
O crime de latrocínio cresceu muito, mas é preciso fazer uma análise mais aprofundada. Não pode ser uma análise rasa, querendo imputar a responsabilidade ao Governo por intermédio de suas Polícias Militar e Civil. As forças policiais têm trabalhado muito, com bastante empenho e determinação. A prova está nos números: os casos de homicídios tiveram uma queda de 4,2% em 2021 em relação a 2020.
O atual secretário de Estado da Segurança Pública e Defesa Social, coronel PM Alexandre Ramalho, entende que, de fato, o crime de latrocínio provoca preocupação e revolta. Porém, afirma que as forças policiais têm se dedicado cada vez mais reduzir esse tipo de delito, com investigações que têm colocado os assaltantes na cadeia.
O coronel Ramalho reconhece ainda que o efetivo das Polícias Civil e Militar ainda está defasado, apesar dos esforços do governador Renato Casagrande em recompor os quadros. A defasagem se deve por que a última gestão governamental – justamente a de Paulo Hartung e Nylton Rodrigues – não investiu absolutamente nada em recursos humanos. Ou seja, eles não realizaram nenhum concurso para contratar policiais.
Quando assumiu o Governo do Estado pela primeira vez, em janeiro de 2011, Renato Casagrande encontrou um efetivo de 8 mil policiais na PM. Encerrou seu mandato, em dezembro de 2014, com 10.500 policiais, pois teve determinação política para realizar os concursos necessários. Quatro anos depois, já em janeiro de 2019, Casagrande retornou ao comando do Executivo Estadual e encontrou, na Polícia Militar, o mesmo efetivo de 2011: 8 mil policiais.
“Quase 10 anos depois, o efetivo retrocedeu. Neste período, a população do Estado cresceu; a legislação penal foi modificada; surgiu ainda mais a política do prende-e-solta”, lamenta o secretário Ramalho. Detalhe: em 2011, segundo o IBGE, a população capixaba era de 3.515.952. Em 2019, o Estado já contava com 4.018.650 habitantes, um aumento de 503.698 pessoas.
O período de 2015 a 2018 foi, sem dúvida, muito cruel para a segurança pública e seus operadores, o que levou apreensão e sensação perturbadora a toda a população capixaba. Foi na gestão Hartung/Nylton Rodrigues que o Governo transformou o até então eficiente Batalhão de Missões Especiais (BME) em uma Companhia Independente, e extinguiu a Ronda Ostensiva Tática Metropolitana (Rotam). Sem essas unidades de elite, a PM perdeu em operacionalidade nas ruas da Grande Vitória, o que fez aumentar ainda mais o tráfico de drogas e de armas, latrocínios, assaltos, furtos, assassinatos, estupros e outros crimes.
O governador Casagrande não só retomou o BME, como realizou, desde 2019, concursos para as Polícias Militar e Civil. Na PM, 350 novos soldados se formaram no final do ano passado e uma nova turma já iniciou o Curso de Formação na Academia da Polícia Militar. Também já foi publicado edital para o concurso, autorizado pelo governador, para a contratação de mais 1.100 soldados. Ainda foi aberto concurso no Corpo de Bombeiros e na Polícia Civil.
“O Governo Casagrande está, efetivamente, reconstruindo a segurança pública, seja em investimentos na área de tecnologia, seja no efetivo policial. Estávamos com uma infraestrutura bastante desfasada e, por isso, é natural que um ou outro dado de criminalidade se mostre elevado”, explica o secretário Alexandre Ramalho.
O descaso da gestão encabeçada pelo coronel Nylton Rodrigues foi, de fato, total. Na sua era, a Secretaria de Estado da Segurança Pública e Defesa Social suspendeu o contrato com a empresa responsável pela implantação da tecnologia embarcada nas viaturas policiais. O Governo Casagrande reativou o programa, iniciado em sua primeira gestão, que se chama Computação Embarcada. A ferramenta consiste em Terminal de Comunicação de Dados (computador automotivo embutido); Rastreamento em Tempo Real (atualizado a cada 20 segundos); Internet Wi-Fi (10 Gb por viatura); e Aplicativo Conexão Ciodes (integração de base de dados).
O ex-secretário Nylton Rodrigues “esqueceu” também de mencionar no seu artigo as sequelas deixadas pelo movimento dos familiares dos policiais militares, que bloquearam as unidades da PM em todo o Estado, dando início, assim, ao aquartelamento que durou longos e exaustivos 22 dias, em fevereiro de 2017. O que se viu nas ruas foi derramamento de sangue. Foi neste movimento que a dobradinha Nylton/Hartung acabou com o BME, mas o governador Renato Casagrande reativou o Batalhão de Missões Especiais para garantir maior segurança aos capixabas.
Não se culpa exclusivamente o governo Hartung pelo caos gerado pela ‘greve’ dos policiais, mas vale ressaltar que a cúpula da segurança pública da época e o governador Paulo Hartung receberam diversos alertas sobre a insatisfação da tropa. E nenhuma providência foi tomada.
Foi um movimento inédito e tenebroso, devido ao descontentamento. Em 2017, os policiais circulavam nas ruas com viaturas de uma frota comprada em 2012, no primeiro Governo de Renato Casagrande. Essa mesma frota continuou atendendo à corporação até 2019, quando o atual Governo adquiriu novos veículos.
O movimento de 2017 paralisou a PM, mesmo depois de encerrado o motim. Diversos policiais foram afastados e excluídos. A normalização voltou em janeiro de 2019, quando Renato Casagrande concedeu a anistia geral para todos os militares que respondiam a Processo Administrativo Disciplinar, beneficiando, assim, mais de 2 mil policiais.