Existe um forte movimento político em Brasília para tentar convencer a ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves, a transferir seu domicílio eleitoral para o Espírito Santo e disputar em terras capixabas a vaga ao Senado Federal nas eleições deste ano. O movimento é orquestrado pelo próprio presidente Jair Bolsonaro (PL), preocupado com as diversas intrigas e divisões da direita e do bolsonarismo no Estado.
Na semana passada, Bolsonaro lançou a pré-candidatura de Damares Alves ao Senado pelo Estado de São Paulo. No entanto, deixou claro que existe possibilidade de a ministra vir a ser candidata por outro Estado. Essa possibilidade existe no Amapá, Mato Grosso do Sul e Espírito Santo. De acordo com o calendário eleitoral estabelecido pelo Tribunal Superior Eleitoral, o dia 2 de abril, seis meses antes do pleito, é data-limite para que todas as legendas e federações partidárias obtenham o registro dos estatutos no TSE. Este também é o prazo final para que todas as candidatas e candidatos tenham domicílio eleitoral na circunscrição em que desejam disputar as eleições e estarem com a filiação deferida pela agremiação pela qual pretende concorrer.
Damares Alves não está filiada a nenhum partido. Todavia, no Espírito Santo, ela tem amizade e fortes ligações políticas com membros do Republicanos, como o prefeito de Vitória, Lorenzo Pazolini. Também é amiga pessoal do ex-senador Magno Malta, de quem foi assessora quando ele atuava no Parlamento, das deputadas federais Lauriete (PSC) e Soraya Manato (PTB) e do ex-deputado federal Carlos Manato (sem partido). Damares também é ligada à maioria dos pastores e pastoras de igrejas evangélicas capixabas.
Alguns fatores levaram Jair Bolsonaro a estimular a candidatura de Damares Alves e de outros ministros e ex-ministros. Um deles é o receio que o Presidente da República tem em perder a reeleição. Para o público externo, Bolsonaro afirma que vai vencer a disputa, mesmo sabendo que o ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva (PT) lidera todos os cenários em primeiro e segundo turno nas pesquisas de intenção de votos.
Para o público interno, entretanto, Bolsonaro diz aos seus assessores e principais aliados que, independente do resultado das eleições deste ano, ele e o bolsonarismo vão precisar ter uma base forte no Congresso Nacional na próxima legislativa, algo inexistente nesses três anos de mandato presidencial.
Outro fator é o racha que a direita-bolsonarista enfrenta no Espírito Santo. No Estado, o coordenador do Partido Liberal (PL), Magno Malta, que já lançou seu nome como pré-candidato ao Senado, tenta se preservar como único fiel e leal amigo de Jair Bolsonaro. Ele fechou as portas da legenda para o casal Manato: a deputada Soraya, depois que saiu do PSL, teve que migrar para o PTB, enquanto seu marido, Carlos Manato, ainda não conseguiu entrar no PL para voltar a disputar a eleição para governador do Estado.
Quem também está insatisfeita com a divisão da direita-bolsonarista é a deputada Lauriete. Ex-esposa de Magno Malta, ela enfrenta um problema e um forte concorrente, pois, o pastor de sua igreja – Assembleia de Deus da Praia da Costa, em Vila Velha –, Marinelshington da Silva, já anunciou a pré-candidatura a deputado federal pelo PL, sob a benção do ex-senador Magno. Será o cabeça de chapa. Frisa-se que Lauriete e Soraya Manato são duas das mais devotas parlamentares da base de apoio de Jair Bolsonaro, sempre votam de acordo com o desejo do Governo Federal e são amigas da ministra Damares Alves.
A ideia do grupo de Jair Bolsonaro, com a ministra disputando a eleição pelo Espírito Santo, seria a de unir a base bolonarista no Estado e dar um freio nas intrigas e divisões que vêm ocorrendo. Para este grupo, Damares Alves poderia unir a base, com o ex-senador Magno Malta abrindo mão da disputa ao Senado e buscando uma vaga na Câmara Federal. Para tanto, Damares tem portas abertas junto a lideranças bolsonaristas, como Soraya Manato, Lauriete, o Subtenente Assis, Carlos Manato, Lorenzo Pazolini e o vereador Gilvan da Federal (Patriota/Vitória), dentre outros nomes.
O grupo político do Palácio do Planalto tem feito pesquisas de intenções de votos para consumo interno e o nome da ministra Damares Alves aparece sempre como favorita em vários Estados para disputar a vaga ao Senado. No Espírito Santo, porém, o nome dela é mais forte e favorito para vencer a disputa. Na semana que passou, o tema “pesquisa” foi abordado por Damares em uma entrevista para um canal no Youtube. A ministra contou que há, ao menos, duas enquetes onlines sobre sua candidatura ao Senado e que, em uma delas, já alcançou mais de 50% das intenções de voto.
Outro fator é o custo de uma campanha ao Senado. Em Estados maiores, o custo pode ultrapassar as cifras de R$ 15 milhões. No Estado, seria de R$ 5 milhões. Outro é o fato de Damares Alves já conhecer o Espírito Santo, pois, em 2018, ela percorreu todos os 78 municípios ao lado da então cantora gospel Lauriete, na campanha que a elegeu deputada federal. Na mesma ocasião, Damares trabalhava como assessora parlamentar do então senador Magno Malta, que tentou a reeleição, mas perdeu. Na época, Magno e Lauriete ainda estavam casados.
Também como assessora de Magno Malta, Damares Alves veio várias vezes ao Espírito Santo participar de sessões e diligências da CPI dos Maus-Tratos a Crianças e Adolescentes e fez palestras em igrejas, onde defendeu a pauta “dos bons costumes”.
Caso opte por disputar a eleição pelo Estado do Amapá, Damares Alves iria para lá mais para atender um capricho do presidente Jair Bolsonaro, que quer derrotar o ex-presidente do Senado Davi Alcolumbre (DEM), por ter tentado sabotar a nomeação do jurista André Mendonça para ministro do Supremo Tribunal Federal (STF).
Embora tenha lançado o nome da ministra como pré-candidata em São Paulo, Bolsonaro sabe que enfrentará grandes obstáculos e, talvez, até crise interna. É que lá outros nomes também estão no páreo e chegaram a ser cotados, como o de Paulo Skaf, ex-presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), de Ricardo Salles, ex-ministro do Meio Ambiente, e da deputada estadual Janaína Paschoal.
O ex-presidente José Sarney foi um dos pioneiros em transferir seu domicílio eleitoral para outro Estado a fim de se eleger senador. Ele, que governou o País de 1985 a 1990, foi eleito pelo Amapá no mesmo ano em que deixou a Presidência da República. Sarney é do Maranhão, mas, para não prejudicar as pretensões políticas de sua filha, Roseane Sarney, ele “se mudou” para o Amapá e, como apoio do PT de Lula, foi eleito senador, cargo que ocupou até 2015.
Outro lado
No sábado de manhã (22/01), o site Blog do Elimar Côrtes entrou em contato com a Assessoria de Imprensa da ministra Damares Alves. Solicitou uma manifestação dela sobre a possibilidade de vir disputar a eleição para o Senado pelo Espírito Santo. A Assessoria ficou de manter contato com a ministra. No entanto, até a publicação desta reportagem não foi dado retorno.