Nos idos de 2020, segundo denunciou o respeitado jornal britânico “The Guardian”, nada menos que 141 contêineres carregados de lixo plástico já em avançado estado de decomposição saíram pelos mares deste planeta.
O tipo de plástico, registro, era o pior possível, qual aquele misturado com outros dejetos domésticos de uma forma tal a tornar praticamente impossível qualquer forma de reciclagem.
Um ano depois, segundo apurado, estavam espalhados pela Turquia, Grécia e Vietnam – três países que, assim como o nosso Brasil, são frequentemente apontados como negligentes no que toca ao meio-ambiente.
Mas de onde teria saído, ao fim do cabo, tanto lixo? Transcrevo, em tradução livre, três parágrafos daquela séria reportagem dignos de ampla reflexão.
“Alguns dos países listados dentre os que mais reciclam no mundo estão também na relação dos maiores exportadores de lixo. A Alemanha foi reconhecida pelo Forum Econômico Mundial como o país que mais recicla, porém exporta em média um milhão de toneladas de lixo plástico a cada ano, mais do que qualquer país da União Europeia. O Reino Unido está um pouco melhor, mas exportando 61% do seu lixo plástico”.
Apontou-se, então, que “quando você continua a consumir mais plástico há apenas duas maneiras de livrar-se do lixo. Uma é incinerá-lo e a segunda é despejá-lo. Se o despejo não é uma solução aceitável em um país, o caminho seria a incineração – que deixa, porém, um resíduo de carbono. Assim, muitos países que desejam reduzir suas emissões de carbono simplesmente não querem incinerar o lixo que produzem”.
Segue, finalmente, a conclusão de um pesquisador ouvido: “Alguns dos maiores geradores de lixo da Europa, como o Reino Unido, a França e a Alemanha, tem que encontrar uma maneira de lidar com este problema. E a forma encontrada foi exportar o lixo para países mais pobres”.
Da matéria – produzida, repito, por um jornal inglês – resulta uma séria reflexão: será que tantos números vistosos sobre práticas ambientais, frequentemente jogados pelas grandes potências mundiais na cara dos países mais pobres, não são que fraudes?
Enquanto não respondida esta pergunta de forma séria fica a sensação de que somos, ao final das contas, não mais que um tapete, para baixo do qual varrida vasta quantidade de sujeira – inclusive moral.