Dia desses li sobre uma insólita previsão feita por Daniel Wright, professor de turismo da Universidade de Lancashire, no Reino Unido. Segundo ele, em mais 100 anos a indústria do turismo movimentará fortunas comercializando pacotes de caça a seres humanos miseráveis.
Ele vai além: a partir do ano de 2200 estes sinistros safáris, transformados em espetáculos públicos, deverão ser até televisionados.
Este professor explicou que, inicialmente, a caça aos miseráveis será praticada furtivamente por milionários. Com o tempo, entretanto, e consideradas as crises ecológica e populacional, esta prática gradualmente será tornada pública e até estimulada.
Textualmente, ele sustenta que “diante do nosso relacionamento passado e presente com assassinatos, morte e atrocidades, os seres humanos acostumar-se-ão, gradualmente, a esta forma de espetáculo, influenciados por filmes e pela imprensa”.
Penso, respeitosamente, que o professor Daniel Wright está errado – acredito que chegaremos a esta sinistra realidade muito antes!
Ora, nas fronteiras da civilizada Europa refugiados já vem sendo literalmente caçados e abatidos a tiros. Há poucos dias, por exemplo, li que oito sírios, dentre os quais quatro crianças, foram mortos a tiros tentando entrar na Turquia. Notícia isolada? Não creio: há não muito tempo uma mulher, fugindo da violência na Europa, tentou retornar para a Síria – mesmo assim foi perseguida e abatida a tiros.
O que choca é que a humanidade pouco faz! Aliás, sequer alvo de maciça divulgação estas notícias são! Ou seja: o professor Wright tem razão ao mencionar nossa familiaridade com o barbarismo puro e simples.
Não nos esqueçamos da “guerra ao terror”. No Paquistão, por exemplo, os populares “drones” caçaram e abateram 2.379 pessoas desde 2004. Pois bem: apenas 84 foram identificadas posteriormente como sendo membros da temida “Al Qaeda”. Aliás, apenas 704 de todas elas chegaram a ser identificadas! E as demais? Ora, as demais…
Agora, vá à janela e contemple as periferias de nossas cidades. Leia, com olhos de ver, as abundantes páginas policiais dos nossos jornais. Sinta, em sua rotina diária, a insensibilidade geral quanto a isso. E perceba, com Dostoievsky, que “compara-se muitas vezes a crueldade do homem à das feras, mas isso é injuriar estas últimas”.