Está causando um certo barulhinho entre os operadores da segurança pública do Espírito Santo um vídeo que mostra um jovem policial militar, fardado e armado, beijando o namorado numa calçada, à beira de um morro, em Vitória. Trata-se de um soldado lotado em um dos Batalhões da Grande Vitória e que passou a receber cuidados médicos depois que o vídeo caiu nas redes sociais de grupos de militares.
A cena do encontro do casal homoafetivo aconteceu há uma semana. A cena do PM beijando o namorado na boca acontece no meio de populares: alguns param para ver o namoro; outros seguem o destino. O namorado chega de moto. Os dois conversam. Em seguida, o namorado tira o capacete da cabeça e os dois, então, trocam um longo beijo. Posteriormente, se abraçam. Noutra ocasião, eles voltam a se encontrar no mesmo local. Com o policial sempre fardado e armado. E o seu namorado, de moto.
As cenas protagonizadas pelo casal gay chamaram a atenção de populares, não pelo beijo em si, mas pelo fato de um dos protagonistas estar fardado. Moradores fizeram fotos e gravaram as imagens em vídeos, colocando-as em redes sociais. O encontro do casal ocorreu por dois dias seguidos, no mesmo local: na avenida Paulino Müller, entre Jucutuquara e Fradinhos, e próximo ao Morro do Cruzamento.
Ainda não há informações se a Corregedoria Geral da PM instaurou algum procedimento em desfavor do policial, uma vez que, em tese, ele teria infringido, no mínimo, o inciso VI do artigo 64 do Código de Ética e Disciplina dos Militares Estaduais, que está em vigor desde dezembro de 2020.
O artigo trata da ‘Das Transgressões Disciplinares Classificadas como Leves’ e o inciso VI diz: “Mostrar-se desatento e desinteressado no serviço”. O ‘desatento’ é pelo fato de o policial está fardado e armado. Ao ficar desatento, e no meio da rua, ele põe em risco a sua integridade e a integridade de demais pessoas. O policial poderia ser rendido por bandidos e até mesmo assassinado. Poderia, inclusive, ter a arma, que é da corporação, roubada.
De acordo com outras fontes, o PM teria infringido também o inciso XV do mesmo artigo 64: “Deixar de ter compostura ou apresentação pessoal nos padrões estabelecidos pela Corporação”.
A Polícia Militar do Espírito Santo é a pioneira no Brasil a respeitar as diferenças de gênero. Foi também a primeira a autorizar um militar homossexual a casar-se, numa cerimônia religiosa e no civil, com o seu parceiro.
Em setembro de 2011, o agora sargento da Reserva Darli Manoel Manenti de Souza se casou o comerciário Antonio Pereira de Souza, numa cerimônia realizada na sede recreativa da Associação de Cabos e Soldados da Polícia Militar e Bombeiro Militar do Estado do Espírito Santo, em Jardim Camburi. Os dois conseguiram na Justiça o reconhecimento da união estável homoaefetiva.
Depois do casamento do sargento Manenti, outros militares estaduais seguiram o mesmo caminho e sacramentaram união com seus parceiros e parceiras. Para se ter ideia do protagonismo da PM capixaba nessa questão social, no mês passado um policial militar que atua em Cariacica se casou com uma transfeminina. Foi uma cerimônia ecumênica, num salão de festas da Grande Vitória. A nova esposa do policial é professora.
Em São Paulo, PM foi afastado após beijar outro homem no metrô
Em julho de 2018, um vídeo de um policial militar de São Paulo beijando outro homem dentro do metrô circulou pela internet. O policial é Leandro Barcello Prior, que sofreu inúmeros ataques homofóbicos através das redes sociais.
Leandro estava voltando para casa, já fora de seu horário de expediente, e teve sua imagem veiculada sem autorização. Ele, no entanto, estava fardado e armado. A grande repercussão do vídeo rendeu até mesmo ameaças de morte. Então Leandro pediu uma licença médica para se afastar do trabalho e segue internado em um clínica.
Na ocasião, a Polícia Militar paulista informou em nota que estava apurando o caso, em especial, o comportamento do soldado. “A conduta do PM fardado no metrô captada em vídeo será apurada única e exclusivamente sob o aspecto administrativo, pois demonstra postura incompatível com os procedimentos de segurança que se espera de um policial fardado e armado, que exigem que esteja alerta.”