O governador Renato Casagrande (PSB) deu, na manhã deste sábado (04/09), um exemplo de civilidade, equilíbrio e humildade, adjetivos que faltam à maioria das autoridades políticas brasileiras. Durante inauguração da primeira unidade do Centro de Referência das Juventudes (CRJ), Casagrande acabou com uma manifestação contra o prefeito de Vila Velha, Arnaldinho Borgo (Podemos), no bairro Terra Vermelha, usando uma “arma” simples: o diálogo.
Sabedor do que o aguardava, Arnaldinho não compareceu à solenidade da inauguração do CRJ, localizado na rua Barra de São Francisco, nº 160, em Terra Vermelha. Dezenas de moradores ocuparam parte do espaço destinado ao governador e aos demais membros do Governo do Estado e, com faixas erguidas, passaram a gritar palavras de ordem contra Arnaldinho.
Esses moradores alegaram ter sido despejados pela Guarda Municipal de Vila Velha por ordem do prefeito, depois de invadirem uma área próximo à região de Jabaeté, que ganhou o nome de Acampamento Vila Esperança.
A cada autoridade que começava a discursar na cerimônia da inauguração do Centro de Referência das Juventudes, os manifestantes começavam a gritar. O protesto não foi contra o Governo do Estado e nem contra o governador Casagrande; foi apenas contra Arnaldinho e sua equipe, sobretudo, o secretário o de Defesa Social e Trânsito, o tenente-coronel da PM Geovânio Ribeiro, acusado pelos manifestantes de ter comandado o despejo e a destruição dos barracos no acampamento.
Ao subir no improvisado palanque, Renato Casagrande deu logo o recado: “Peço um pouco de paz a todos vocês. Estou aqui sem saber o que vocês estão pleiteando. Por isso, peço que suba até aqui o líder da manifestação. Peço silêncio, por favor. Viemos aqui entregar uma importante obra para os jovens da Região da Grande Terra Vermelha e vocês aproveitaram para realizar uma manifestação justa”.
Identificando-se apenas como Rodrigo, o representante dos moradores foi ao palco. Inicialmente, ele parabenizou o governador por ter levado para a região uma unidade do CRJ e pediu desculpa a Casagrande pelo transtorno causado pelo protesto. “No Acampamento Vila Esperança há muitos jovens que necessitam dos projetos oferecidos pelo Governo”.
Depois, Rodrigo explicou sobre o motivo da manifestação: “Procuramos o prefeito Arnaldinho e demais membros de sua equipe. Mas eles não quiseram diálogo com a gente. O prefeito só colocou a Guarda Municipal para derrubar nossos barracos. Pedimos perdão por esse ato (manifestação), mas foi a única forma de mostrar às autoridades a nossa demanda. O coronel Giovânio disse pra nós que, durante o mandato do prefeito Arnaldinho Borgo, não vai ter invasão em Vila Velha. Nós passamos fome, governador. Nossos filhos se alimentam apenas de pé de galinha. O que nossos trabalhadores recebem por mês, quando encontram trabalho, não dá para pagar aluguel. Ou compramos comida ou pagamos aluguel”, disse Rodrigo.
O governador Renato Casagrande assegurou que o Governo do Estado irá ajudar os moradores sem casa a resolver o impasse. Ele encaminhou equipes do Governo do Estado a iniciar tratativas, ainda neste sábado, com a secretária de Assistência Social de Vila Velha, Letícia Goldner – que estava presente na solenidade –, com a finalidade de discutir a implementação de benefício social para as pessoas do acampamento.
Casagrande foi novamente aplaudido pelos manifestantes, a quem ele voltou a pedir silêncio para dar início ao seu discurso de inauguração do Centro de Referência das Juventudes. Além de destacar a importância do CRJ, o governador lamentou a falta de diálogo e das brigas entre instituições no Brasil:
“A manifestação desses moradores mostra a difícil realidade que o País atravessa, que é uma instabilidade permanente pela falta de diálogo. Existe uma certa dificuldade de se compreender às pessoas que pensam diferente. Vivemos uma intolerância, impaciência, brigas entre instituições. A pandemia da Covid/19 frustrou muitos dos sonhos da população. O povo precisa viver dias melhores, mas está perdendo a esperança. Nossa luta é para termos um País e um Espírito Santo mais justos”, pontuou Renato Casagrande, que, depois de seu discurso, saiu a pé por ruas do bairro para conhecer a sede do Centro de Referência das Juventudes, ao lado de moradores.