Há neste mundo países que denunciam outros por estímulo ao terrorismo. Que lhes impõem sanções e restrições comerciais, ao custo de imensa dor para povos inteiros. Li, há pouco tempo, que um daqueles países – dos mais radicais, a propósito – exporta armas para 80% desses.
Há neste mundo países que defendem veementemente o meio ambiente. Que inclusive denunciam nosso país no que toca à Amazônia. Mas que, segundo fui informado, nela estão – através de empresas estatais, registro – a explorar riquezas de forma ambientalmente reprovável. Nela e pelo planeta afora.
Há neste mundo países que se declaram indignados com os artifícios utilizados pelas empresas buscando acintosa evasão de tributos. Que impõem sanções por conta disso. Li que no mais indignado deles, porém, há um estado com mais empresas do que habitantes por conta de mecanismos que tais.
Há neste mundo países que defendem apaixonadamente a adoção da denominada “energia limpa”. Que tentam impor esta política a toda a humanidade. Paradoxalmente, porém, dedicam mais subsídios à produção de energia fóssil que às “verdes”.
Há neste mundo países que abominam o trabalho escravo. Mas que, longe das vistas dos povos, o utilizam intensa e extensamente. Em alguns casos, autorizados pelo próprio sistema legal.
Há neste mundo países preocupados com o estado dos oceanos. Que combatem a pesca predatória. Mas cujos navios estão a dizimar a fauna e flora marinha – em alguns casos devidamente licenciados, apesar de denúncias mil.
Há neste mundo países preocupados com a saúde dos consumidores. Que não permitam sejam esses contaminados por produtos claramente tóxicos. Mas cujas empresas os exportam cotidianamente para uso de populações menos, digamos, iguais.
Há neste mundo países preocupados com o lixo tóxico – incluído o hospitalar. Mas que o enviam há décadas para aquelas regiões menos, digamos, conscientes do mundo – nosso querido Brasil incluído.
Esta tenebrosa realidade não costuma ser claramente exposta de forma a alcançar as populações em geral. Acaba perdida em meio à turbulenta rotina deste início de milênio. Mas ela existe. E é séria.
Fico a recordar Thomas Jefferson, segundo quem “onde a imprensa é livre e todo homem é capaz de ler, tudo está salvo”. Pois é. Contemple o mundo e perceba que nada está salvo.