Há no mundo pessoas de bem. Honestas. Avessas a fazer o mal. Que não se corrompem. Que repudiam a violência. Elas são a maioria – uma maioria silenciosa, porém. A elas contrapõem-se pessoas afeitas ao mal. Corruptas. Que desprezam a felicidade e a própria vida dos seus semelhantes. São uma minoria – porém extraordinariamente ativa.
Pense em um administrador corrupto que esteja a desviar verbas da saúde pública em plena pandemia. Eis algo abjeto. Inadmissível sob todo e qualquer aspecto. Podemos afirmar, sem retoques, ser esta pessoa assassina – responsável direta pela morte dos que tombaram aguardando um tratamento que, podendo vir, jamais viria.
Reflita que um ato desses não passa desapercebido. Dos órgãos de controle à população, do sistema de justiça criminal a funcionários, diversas pessoas tomarão conhecimento do mal praticado.
Imagine, agora, que elas simplesmente se omitam. Silenciem por medo de retaliações. Afinal, o corrupto é poderoso e rico. Pode literalmente comprar sua inocência abusando dos inesgotáveis recursos das leis. Tudo daria em nada mesmo – e eventual sacrifício pessoal seria inútil. Ademais, seria ingênuo ver a vida em “preto e branco” – haveria, aqui e ali, tons de cinza. Eis um daqueles momentos nos quais a virtude não se apresenta recomendável. Finalmente, tem ele condições de ser grato – até institucionalmente – pela benevolência demonstrada. É assim, sem retoques, que pessoas de bem se vendem pelo preço mais vil!
Sim, a vida pode ser “cinzenta”. Sim, ela oferece alguma margem de tolerância. Há, porém, uma linha – a do crime. A do mal. Além dela – vá à janela e contemple o cenário para ter certeza – não há que países inteiros degradados.
Não estou, com estas palavras, a sugerir cruzada alguma. Ou a louvar a Santa Inquisição. Não há necessidade de nada do tipo. Basta que, serenamente, haja o cumprimento do dever – e nada mais. É suficiente não sermos escada para os ladrões. Simples assim.
Há não muitos anos Martin Luther King, em sério alerta para a humanidade, exclamou que “o que mais preocupa não é o grito dos violentos, nem dos corruptos, nem dos desonestos, nem dos sem-ética. O que mais preocupa é o silêncio dos bons”. É verdade. Não basta sermos pessoas de bem – o momento histórico exige que sejamos também pessoas do bem.